Ao chegar às livrarias em 1983, “Neuromancer” desembarcava em outro
mundo, bem outro. Se a tecnologia atual não alcançou tudo que fora previsto em
obras de ficção científica nesses mais de 30 anos, a intensidade que essa
tecnologia exerce hoje em cima da sociedade e as facilidades que dispões são
poderosas. William Gibson é uma espécie de pai do que se chamou de cyberpunk e
o ápice maior disso é “Neuromancer”,
livro inicial da chamada Trilogia de Sprawl que ainda tem “Count Zero” e “Mona
Lisa Overdrive”. A obra que (merecidamente) ganhou fama e hoje é respeitada e
citada como influência nas mais diversas mídias é uma aventura de ficção
científica que explora temas como pós-humanidade, poder demasiado de
corporações empresariais, fusão entre orgânico e sintético, bestificação do
consumo, tecnologia como arma e imersão virtual. Pode-se dizer que sem ela, obras
como “Matrix” dos irmãos Wachowski jamais teria existido. Para quem se depara com
a história somente agora, ainda assim, o impacto é grande. Tanto pela linguagem
criada, quanto pela interligação com coisas exploradas somente anos depois, “Neuromancer” é um livro feroz, que não
deixa o leitor baixar a guarda por nenhum momento que seja e o faz entrar em
uma espiral caótica de real e artificial que parece não ter fim. A editora
Aleph publica esse ano uma nova edição do livro, com tratamento cuidadoso em 320
páginas e tradução de Fábio Fernandes. Aliás, traduzir algo como essa obra é um
trabalho extremamente complexo para que se faça funcionar, o que aqui se
consegue. O protagonista é Case, um jovem cowboy hacker doidão que vive em uma
cidade tão louca quanto ele. Ao ser convidado (ou intimado) a fazer parte de
uma missão que só se revela gradualmente acaba entrando em algo infinitamente maior
do que imaginava e essa jornada não será nada fácil. Ainda que hoje algumas
coisas pareçam datadas, a viagem concebida por William Gibson ainda merece e
muito ser desfrutada. Embarque nela.
Nota:
8,0
Site oficial do autor: http://www.williamgibsonbooks.com
Quando Neil Gaiman imaginou “Deuses Americanos” não sabia muito bem
o que estava fazendo. Tinha o esboço da ideia geral na mente, contudo possuía várias
ressalvas de como abordar uma história que tivesse tanto vínculo com os EUA e
que usa o país como matéria-prima, sendo ele um inglês de Hampshire. Mas não é a
toa que o escritor é um dos grandes da sua geração e a trama foi tomando forma
e chegou muito além do que ele mesmo esperava. Quando da publicação original em
2001, “American Gods” teve muitas
passagens cortadas pelos editores, mas depois de alguns anos uma “edição
preferida do autor” chegou às lojas. É essa edição que a Intrínseca (que vem
fazendo um trabalho de destaque nas obras do escritor) publica agora no Brasil
com 576 páginas, tradução de Leonardo Alves e vários textos extras anexados. Em
“Deuses Americanos” conhecemos
Shadow, um presidiário que está prestes a ganhar liberdade e voltar para os
braços da esposa amada, depois de uma decisão ruim ter atravessado o caminho.
Quando está próximo a obter essa conquista, uma reviravolta tremenda ocorre e após
isso o misterioso Wednesday aparece para mudar sua vida como ele nunca passou
nem perto de imaginar. Essa nova edição da Intrínseca tem 128 páginas a mais
que aquela lançada pela Conrad em 2011 e isso faz com a trama seja mais
profunda, dando espaço para que Gaiman explore ainda mais as situações que
apresenta. No livro, versa sobre a formação da maior potência do mundo e sua
relação com aqueles responsáveis por isso que para lá migraram levando as
crenças e deuses escondidos na sacola. Mesmo depois de 15 anos do lançamento a
obra continua intensa, desnudando divindades, inserindo novas e transformando
humanos enquanto mescla realidade e fantasia ao conversar sobre crenças, alma, ambição,
desejo e traição.
Nota:
9,0
Leia um trecho no site da editora,
aqui.
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