Pablo Emilio Escobar Gaviria
nasceu em Rionegro na Colômbia em 01 de dezembro de 1949 e logo jovem iniciou
com pequenos delitos uma carreira criminosa que lhe colocaria como um dos
homens mais ricos do mundo. Sua vida e história já foram retratadas em
programas de televisão, livros, novelas e em alguns filmes, como indiretamente em
“Profissão de Risco” de 2001 ou diretamente em “Escobar: Paraíso Perdido” do
ano passado (lançado em dvd aqui nesse ano). Agora foi a vez de uma série se
debruçar sobre esse controverso personagem.
“Narcos” estreou no Netflix no dia 28 de agosto e é uma parceria do
canal com a produtora francesa Gaumont da ótima série “Hannibal”, infelizmente
cancelada esse ano. Como de costume a empresa disponibilizou todos os 10
episódios que compõem a primeira temporada de uma só vez (uma segunda já está
confirmada) e vê nela mais um produto para continuar a linha de crescimento da
qualidade do trabalho autoral produzido pelo canal, vide outras séries como “Demolidor”,
“Orange Is The New Black”, “Better Call Saul” e, principalmente, “House of
Cards”.
Essa aventura pelo narcotráfico
colombiano das décadas de 70 a 90, tem o envolvimento relevante do diretor
brasileiro José Padilha (“Tropa de Elite”, “Robocop”), que mesmo sem ser o
criador da série (os criadores são Chris Brancatto, Carlo Bernard e Doug Miro),
dirige os dois primeiros episódios que dão o tom da trama, assim como a maneira
como ela vai ser contada, além de ser produtor executivo. O dedo do diretor
está presente não só no formato que vemos nos capítulos como na escalação de
Wagner Moura para viver Pablo Escobar.
Wagner Moura, ator de comprovada
competência, foi inicialmente uma surpresa para o papel, já que não sabia o
idioma com o qual teria que tratar nesse trabalho. Depois de alguns meses de
treinamento, ele se sai bem nesse aspecto e mesmo não sendo excepcional compensa isso com uma atuação hábil e
intensa, por mais que refaça alguns trejeitos visuais já vistos em outras
atuações. A caracterização física, por exemplo, é perfeita, com ele engordando
20 quilos para exibir a barriga do traficante.
Todavia, apesar de Pablo Escobar
ser o foco de “Narcos”, não convém a
ele ser o protagonista. Isso fica a cargo do agente do DEA (agência antidrogas
americana) Steve Murphy, vivido pelo ator Boyd Holbrook de “Milk: A Voz da
Igualdade”. Murphy, realmente existiu e ele que narra todos os eventos em off
durante a trama explicando tudo ao espectador tintim por tintim e até mesmo
antecipando alguns fatos. Esse recurso que José Padilha tanto gosta, serve para
o espectador menos atento, porém incomoda aos demais porque é usado de maneira
demasiada por toda a primeira temporada.
“Narcos” inicia quando Pablo Escobar, já um contrabandista de
respeito no seu país, recebe pelo primo e sócio Gustavo (Juan Pablo Rabla) a
possibilidade de trabalhar com um novo produto: a cocaína. Junto com outros, principalmente
os irmãos Ochoa (vividos por Roberto Urbina de “Che” e o brasileiro André
Mattos de “Tropa de Elite”) e o sanguinário José Rodriguez Gacha (o sempre
competente Luis Gúzman de tantos e tantos filmes bacanas como “Boogie Nights”),
forma o Cartel de Medellín, uma organização que movimentava milhões de dólares por mês.
A narrativa entrecorta a ficção
com vários pontos documentais e mostra um retrato bem claro da América nesse
período, com, somente para variar, a intervenção dos Estados Unidos em diversos
países, sempre se baseando nos próprios interesses políticos e comerciais e
direcionando suas forças somente quando assim lhe se convém, indo do governo
Nixon, passando pelo desastre chamado Ronald Reagan e acabando com Bush pai. O
tom do roteiro é sempre crítico nesse sentido, mesmo quando aponta aspectos
positivos de algumas decisões.
Depois de sua morte em dezembro
de 1993 aos 44 anos, o controle da cocaína e do narcotráfico só mudou de mãos
para o Cartel de Cáli e depois para as mãos das FARC’s e assim muda até hoje em
dia, uma vez que a demanda para o produto continua insaciável nos Estados
Unidos e no mundo.
O seriado cumpre bem o papel de
mostrar esse reinado de ascensão e queda e tecnicamente é de uma competência
bem alta. Além de José Padilha passam pelos episódios o diretor brasileiro Fernando
Coimbra (do estupendo “O Lobo Atrás da Porta”), o mexicano Guillermo Navarrro
(diretor de fotografia de “O Labirinto do Fauno”) e o colombiano Andi Baiz (“O
Quarto Secreto”). A música de abertura chamada “Tuyo” é também de um brazuca
(Pedro Bromfman) e interpretada pelo eterno ex-Los Hermanos Rodrigo Amarante.
Ao que tudo indica “Narcos” será mais um sucesso da
Netflix e mesmo se considerando os desgastes relacionados com a questão do
idioma e das extensivas explicações do narrador, que podem (e devem) ser
corrigidas na segunda temporada, ainda assim é um produto com diversas
qualidades e que apresenta pelo menos três grandes episódios: “A Espada de
Simón Bolivar”, “Haverá Futuro” e “La Catedral” (os de número 2, 5 e 9,
respectivamente), sendo que nenhum dos demais é ruim ou deixa cair o ritmo.
Nota: 7,0
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Assista ao trailer legendado:
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