“Mars Club” (The Mars
Room) é o quarto livro da escritora americana Rachel Kushner (autora de “Os
Lança-Chamas”) e saiu aqui pela Todavia Livros em 2019 com 344 páginas e
tradução do Rogério W. Galindo. A protagonista do romance é Romy Leslie Hall,
condenada a prisão perpétua que é apresentada ao leitor em 2003 enquanto se
encaminha para cumprir a pena dentro de um ônibus com outras detentas. Aos
poucos é narrado como ela chegou até esse ponto, como que a vida desaguou para isso.
Ao mesmo tempo em que narra os infortúnios da protagonista, a autora insere personagens
coadjuvantes e ao contar um pouco das suas histórias engrandece a trama, pois são
criadas figuras fascinantes que trazem junto histórias fortes em igual medida,
mas com nuances gerais diferentes. Foca não somente na sobrevivência dentro do
sistema carcerário, como também nas dúvidas, (falsas) esperanças e arrependimentos
de cada uma. O tom utilizado ora se concentra em um drama de contornos mais
pesados, ora explora um humor ácido e cruel enquanto discute pontos importantes
como machismo, misoginia, racismo e questões de gênero. Romy Leslie Hall é uma
personagem forte, que desde cedo sofreu muito mais do que qualquer um deveria e
sempre seguiu em frente. O ato que lhe levou para a cadeia é o estopim de uma
situação provocada justamente pelas decisões de uma vida sem glamour e alegrias,
além de um filho e momentos bem ocasionais de felicidade. Repleto de frases e tiradas
interessantes é uma leitura bem recomendável.
Nota: 7,5
Gertrude Stein nasceu no estado
da Pensilvânia nos Estados Unidos em 1874. Em 1903 mudou-se para Paris e um
tempo depois conheceu Alice B. Toklas que seria sua companheira até o
falecimento em 1946. Virou um dos símbolos da “geração perdida”, um grupo de artistas
e escritores que durante esse período buscou refúgio na capital francesa para extravasar
suas manifestações, discussões e criatividade. Ela recebia em casa nomes como
Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Pablo Picasso, com os quais nutria
relação próxima. Dona de um estilo experimental de escrita - ainda mais se considerarmos
a época em que viveu - escreveu dezenas de livros e ficou famosa. Um desses
livros ganhou edição nacional no final do ano passado pela Ponto Edita, editora
independente de São Paulo. “Ida, um Romance” (Ida A Novel, no
original de 1941) tem tradução de Luís Protásio e edição de Mauricio Tamboni
com 224 páginas e um formato extremamente original que apresenta um trabalho
gráfico primoroso tanto nas cores, letras e design, como no cuidado com a
inserção de vários textos contextualizando e dissertando sobre a obra. Obra que
trata da história de Ida, uma história sobre identidade e liberdade, que tem a
vida real cruzando a cada esquina com a fantasia, o cotidiano invadido por pílulas
de alucinação e certezas flertando com devaneios na busca por ser quem se deseja
realmente ser. É um livro magnífico, para ser lido com calma e se possível em
voz alta saboreando cada palavra, cada frase, cada colocação.
Nota: 10,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário