“Como a Democracia Chega Ao
Fim” (How Democracy Ends) do escritor e professor de política da
Universidade de Cambridge David Runciman foi publicado em 2018 nos USA e
recebeu edição nacional no mesmo ano pela Todavia Livros com 272 páginas e tradução
de Sergio Flaksman. Diferente de outros livros lançados no mesmo período, o tom
do autor é levemente menos pessimista em relação aos abalos sísmicos que a
democracia sofre nas mãos de indivíduos como Viktor Orbán na Hungria, Recep
Erdogan na Turquia e Donald Trump nos EUA. Esse “otimismo” não é por crer nos nomes
em questão, mas em outras amarras, conjunturas e cenários. Evidente que a obra foi
provocada pela conturbada eleição no seu país, contudo estende-se plenamente para
o restante do mundo (inclusive para nós). Na sua concepção a história não andaria
para trás (mas não é o que estamos vendo) e os alvos focados como perigosos
estão equivocados. A democracia só ruiria de vez por outros fatos como o mau
uso da tecnologia ou uma possível calamidade. Lógico que quando escreveu o
autor não imaginaria o atual cenário de pandemia e crise mundial que estamos atravessando,
mas, mesmo assim com bastante fluidez ele deixa claro esboços provenientes
disso. Das suas considerações, questionamentos e afirmações em meio a concordâncias
e discordâncias que possamos ter, a mais importante talvez seja a colocação que
a democracia pode entrar em falência mesmo permanecendo intacta na essência
geral, disfarçada como tal. E em grande escala é o que presenciamos nesse
momento.
Nota: 7,0
Em junho de 2019 os irmãos Reid desembarcaram
no Brasil para mais um show em terras paulistas e na esteira disso a editora Sapopemba
estreou no mercado com a publicação de “Barbed Wire Kisses – A História do
Jesus And Mary Chain” da escritora (e baterista) escocesa Zoë Howe com 328
páginas, tradução de Letícia Lopes Ferreira e com direito a um prefácio exclusivo
para a edição brasileira do baixista Douglas Hart, integrante da banda entre os
anos de 1984 e 1991. Para quem é fã do som barulhento, melódico e repleto de
microfonia da dupla escocesa que rendeu verdadeiras obras-primas como “Psychocandy”
de 1985, “Darklands” de 1987 e “Stoned & Dethroned” de 1994 (e nenhum disco
ruim na carreira, ressalte-se aqui), o livro é um prazer absoluto, daqueles que
ao se ler um capítulo, volta para ler de novo. Desde adolescentes na pequena e sem
futuro East Kilbride, cidade perto de Glascow, até os palcos do mundo todo
passamos pelas (muitas e muitas) brigas, pela formação das ideias musicais,
pelas (diversas) loucuras e bebedeiras, pela pancadaria dos shows do início que
lhes deu fama, pela elaboração de uma arte feroz e doce ao mesmo tempo e por pouquíssimas
concessões mercantis ao conduzir a carreira, o que soma-se ao extenso rol de
coisas para se admirar desses dois esquisitões geniais. A autora ainda disponibiliza
após o texto uma detalhada linha do tempo com várias notas para contextualização
e a discografia completa com os créditos de cada gravação. Uma história e tanto.
Nota: 9,0
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