“American Jesus: O Eleito”
que a Panini Comics publicou em 2019 com 96 páginas em edição de capa dura com
extras é um dos primeiros trabalhos de Mark Millar (“Os Supremos”) e conta com a
arte de Peter Gross (“O Inescrito”). Originalmente lançado nos EUA como “Chosen”
pela Dark Horse foi renomeado depois. Na obra, o autor procura abordar como um
conto moderno a chegada de Jesus nos nossos tempos na pele de um garoto chamado
sugestivamente de Jodie Christianson. Com um argumento para lá de interessante a
história não ganha maior força e é conduzida de modo regular, sendo que até
mesmo a grande reviravolta não chega a surpreender o leitor mais atento. Esse
tema seria abordado de modo muito mais incisivo e brilhante pelo Sean Murphy em
“Punk Rock Jesus” anos depois. Aqui, vale somente a arte sempre magnífica de Peter
Gross e a ideia geral. Nada além.
Nota: 5,0
A adolescência é uma fase
complicada. Por mais que as alegrias estejam presentes pelas esquinas, em boa
parte dos casos os dissabores, dúvidas e deslocamentos são em quantidade maior
enquanto se busca achar um caminho, uma rota confiável a seguir. É nesse ponto
da vida que estão Lucas, Cesar e Ana, os personagens principais de “Cesariana”
do quadrinista Lucas Marques. Publicada no ano passado com incentivo do Fundo
de Apoio à Cultura do Distrito Federal e exibindo a marca da Aerolito Editorial
temos um trabalho pesado e bem intenso nas 154 páginas. Em uma história em
preto e branco carregada de tonalidades biográficas e que levou alguns anos
para ficar pronta a angústia e a dor vão de encontro a amizade, a música, a
esperança, enquanto Lucas tenta entender as crises dos seus amigos e confronta
a sua fé com as coisas maiores que a vida pode (e deve) oferecer.
Nota: 7,0
Instagram: https://www.instagram.com/lucasmarqshq
Em 2019 a editora Mino lançou uma
coleção com 3 hq’s curtas de 40 páginas cada, escritas e desenhadas por jovens
autoras que usaram como tema assuntos vistos como delicados para a sociedade de
modo geral. “Tabu” é composto por “Piracema” da Jessica Groke, “Juízo”
da Amanda Miranda e “Cina” da Lalo. O fato de serem curtos não diminui a energia
e a impetuosidade dos trabalhos, todos elaborados em preto e branco. “Piracema”
fala sobre sexualidade, descoberta e medo, “Juízo” trada de inadequação,
hereditariedade, desconforto e escolhas e “Cina” - que é a mais tocante - discorre
de modo inteligente sobre envelhecer, sobre a finitude do nosso tempo por esse
plano e sobre o poder de decidir o que fazer com a própria vida. O projeto é
daqueles que exibem virtudes de onde quer que se analise - seja pela iniciativa
ou por tocar em temas melindrosos – e vale bastante.
Nota: 7,5
Instagram das autoras:
- Jéssica Groke: https://www.instagram.com/jessicagroke
- Amanda Miranda: https://www.instagram.com/amandamirand_
Pouca gente retratou tão bem o
Brasil nos últimos 15, 16 anos como o carioca André Dahmer. E de maneira particular
na tirinha dos “Malvados”. Em janeiro desse ano o autor decidiu que não
ia mais publicar os personagens pois entendeu que o formato se esgotou, então o
álbum lançado pelo selo Quadrinhos na Cia. com 384 páginas em 2019 se torna ainda
mais relevante. Nessa coletânea de 368 tirinhas é exibido um vasto repertório
temperado com escárnio, acidez e em especial com doses cavalares de realidade,
uma realidade exibida sem molduras bonitas ou adereços coloridos, e sim com a
essência crua exibindo sem pudor algum a bunda para fora. Nas tirinhas dos “Malvados”
não há qualquer espaço para crenças bobas, frases feitas, pensamentos bonitinhos
ou lugares comuns dessa sociedade que a cada dia está mais doente e contagiosa.
Nenhum assunto é proibido e nada sai incólume dessa extraordinária série.
Nota: 10,0
Instagram: https://www.instagram.com/andredahmer
Veja um trecho aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/65067.pdf
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