2008. Aos 18 anos, Marie Adler
(Kaytlin Dever) é amarrada e estuprada dentro da própria casa. Quando a polícia
entra em ação ela se vê obrigada a recontar o acontecido várias e várias vezes,
até que ao ser interrogada por dois policiais bem mais velhos que esbanjam
ceticismo e descrença, ela acaba saindo desnorteada botando em dúvida o que lhe
aconteceu. Logo depois, cancela a versão, diz que mentiu e é processada pela
prefeitura por falso testemunho, o que lhe causa problemas em todas as esferas.
Pulamos para 2011. Em outra cidade a detetive Karen Duvall (Merritt Wever) se
depara com um caso de estupro e junta forças com a experiente Grace Rasmussen
(Toni Collette). Juntas começam a ligar peças e descobrem a existência de um
estuprador em série atuando há tempos na região. Esses são os pontos de partida
de “Inacreditável” (Unbelievable, no original), série do Netflix
de 8 episódios que estreou em setembro de 2019 na plataforma. Baseada em uma
história real que aconteceu nos EUA e rendeu livro e um artigo vencedor do Pulitzer,
a trama é cheia de reviravoltas e tensão e coloca no telespectador aquela
sensação de revolta que a cada capítulo aumenta mais e mais. Além de ser realmente
bem intensa, é sustentada pelo trio de atrizes já citadas que fazem um trabalho
exuberante dosando dor, força e confiança da maneira ideal para cada
personagem. “Inacreditável” é mais um retrato de um sistema totalmente
despreparado para lidar com a violência as mulheres e que muitas vezes está
pouco se lixando, essa é a verdade. Por isso é tão necessária.
Nota: 8,0
Depois de assistir a todos os
episódios, leia o artigo vencedor do Pulitzer que deu origem a série: https://www.propublica.org/article/false-rape-accusations-an-unbelievable-story
“Carnival Row” é uma série
de fantasia em 8 episódios lançada no segundo semestre do ano passado. Com
produção da Amazon Prime Video e disponibilizada integralmente na plataforma
foi criada pelo René Echeverria (da saudosa “The 4400”) em conjunto com Travis
Beacham (roteirista de “Círculo de Fogo”). Nela, homens e fadas lutaram lado a
lado há poucos anos. No entanto, perderam a guerra e por conta disso as terras
das fadas e de outras criaturas fantásticas ficaram nas mãos do Pacto, que
continua espalhando terror, extraindo riquezas e escravizando seres, mesmo
depois de findadas as batalhas. A cidade do Burgo - considerada a maior desse
lado da terra - abriga não somente os humanos perdedores, como também milhares
de refugiados de todos os lugares e raças. No meio disso um romance construído
na guerra composto pelo inspetor de polícia Rycroft Philostrate (Orlando Bloom)
e a fada refugiada Vignette Stonemoss (Cara Delenvigne) tenta sobreviver. Espalhada
em tramas paralelas bem interessantes, “Carnival Row” se destaca com muito
mais impetuosidade longe do foco principal. Além de efeitos visuais
consistentes e uma vistosa fotografia é quando faz vínculos diretos a realidade
dos nossos dias que acerta o alvo. O preconceito desmesurado e irracional, a
violência e crueldade com os refugiados, uma polícia que escolhe quem vai
defender e uma sociedade hipócrita que prega uma coisa e faz outra engatam
essas subtramas em atuações quase perfeitas de outros nomes do elenco como Tamzin
Merchant, Simon McBurney e Karla Crome. O avassalador episódio final deixa
ainda um gancho imenso a ser explorado na segunda temporada, além daquele
desejo de quero mais.
Nota: 8,5
Em “O Despertar da Força” de 2015
deixaram a gente sonhar com um belo filme. Em 2017 com “Os Últimos Jedi”
serviram um prato comestível, mas com pouco sabor. E em 2019 com “A Ascensão
Skywalker” jogaram praticamente tudo no lixo em uma produção fraca e sem emoção
alguma. Dito isso, nesse final de década não é esforço afirmar que a melhor
coisa que Star Wars entregou nesse período é disparada a série “The
Mandalorian”. Entre novembro e dezembro de 2019 foi exibida pelo canal
Disney Plus (e está inédita no Brasil), sendo produzida pela Lucasfilm Ltd. sob
a batuta e orientação do cada vez mais extraordinário Jon Favreau. Do time de
diretores escolhidos (Deborah Chow, Rick Famuyiwa, Dave Filoni, Bryce Dallas
Howard e Taika Waititi) até os pequenos detalhes que fazem relação com a
história da franquia, tudo é um grande regalo. Ambientada entre os filmes “O
Retorno do Jedi” e “O Despertar da Força”, ou seja, após a queda do Império e antes
do surgimento da Primeira Ordem, temos o protagonista (interpretado por Pedro
Pascal), um esquivo caçador de recompensas, cortando o espaço atrás de dinheiro
até que uma pequena criança entra no seu caminho. Essa criança (que já virou febre
e foi apelidada de Baby Yoda pelos fãs) é a razão da série existir. Em sua caça
está um ex-governador do antigo regime e o mandaloriano precisar ser menos
solitário e fazer alguns amigos. Concebida com excelência técnica, ritmo,
magia, aventura, personagens novos realmente legais, respeito ao passado e bom
humor, “The Mandalorian” é um acerto memorável da Disney. Até que enfim.
Nota: 9,0
Assista aos trailers:
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