domingo, 22 de dezembro de 2019

Literatura: "Através do Vazio" e "Slumberland"


Então é natal. Natal de 2067. É nesse ponto que começa “Através do Vazio” (Across The Void, no original) que a editora Suma publicou esse ano aqui com 376 páginas e tradução de Renato Marques. O livro de S.K. Vaughn (na verdade um pseudônimo do escritor e roteirista americano Shane Kuhn) é ambientado em um futuro onde a humanidade definitivamente alcançou as estrelas com toda pompa e os interesses privados e públicos (além dos pessoais) continuam conflitantes e interferindo na vida das pessoas em troca de benefícios e vantagens. Nada de novo, convenhamos. O livro começa com a comandante May Knox acordando dentro de uma nave perto de Júpiter sem memória e companhia quase nenhuma buscando entender o que aconteceu. Na ponta do outro lado – na terra – está o marido Stephen Knox, cientista brilhante responsável pela tecnologia que fez a NASA investir milhões e mais milhões na missão em uma das luas do gigante gasoso. “Através do Vazio” é no seu âmago, sobretudo uma história de sobrevivência no meio do espaço sideral sem muita ajuda e contra várias adversidades sejam elas naturais ou não. Se assim fosse mantida durante as páginas seria uma obra bem mais interessante do que se tornou, pois quando o autor opta em dividir o palco com um drama romântico com características de novelão mexicano (no pior sentido) reduz bastante a qualidade do trabalho. Isso faz com que o livro se situe naquele limiar entre não seduzir o leitor completamente, como também não desagradar na totalidade.

Nota: 5,0

Leia um trecho aqui:


“O Vendido” lançado aqui em 2017 e vencedor do aclamado Man Booker Price de 2016 na Inglaterra foi o primeiro livro do americano Paul Beatty publicado no Brasil. Em 2019 a Todavia Livros lança também dele o “Slumberland”, originalmente de 2008 nos EUA, mas que carrega a mesma vivacidade apesar de ser anterior. O tom ácido, satírico e mordaz que causa incômodo ao leitor desavisado está lá presente, ainda que em menor proporção e não tão bem desenvolvido como seria posteriormente. O protagonista é o DJ Darky, nome artístico de Ferguson W. Sowell, morador de Los Angeles que após compor uma batida que todos julgam como perfeita se manda para a Berlim do final dos anos 80 a fim de encontrar um jazzista genial e ao mesmo tempo excêntrico que sumiu faz muito, muito tempo. O intuito é que ele adicione uma frase original a essa batida, deixando assim inegavelmente perfeita essa criação. Na busca por Charles Stone – o jazzista em questão – DJ Darky deságua no bar que empresta o nome ao livro como sommelier de jukebox (sim, é isso mesmo), que é frequentado na maioria por negros imigrantes e onde o autor no meio da guerra fria insere as colocações impertinentes e corrosivas que lhe são peculiares. Trazendo a paixão pela música como grande timoneira da obra, Paul Beatty fala sobre racismo de um jeito que tem o intuito claro de provocar – ainda mais vindo de um autor negro – e embala esses acintes com canções, canções e mais canções.

Nota: 7,0


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