Então é natal. Natal de 2067. É
nesse ponto que começa “Através do Vazio”
(Across The Void, no original) que a
editora Suma publicou esse ano aqui com 376 páginas e tradução de Renato
Marques. O livro de S.K. Vaughn (na verdade um pseudônimo do escritor e
roteirista americano Shane Kuhn) é ambientado em um futuro onde a humanidade
definitivamente alcançou as estrelas com toda pompa e os interesses privados e
públicos (além dos pessoais) continuam conflitantes e interferindo na vida das
pessoas em troca de benefícios e vantagens. Nada de novo, convenhamos. O livro
começa com a comandante May Knox acordando dentro de uma nave perto de Júpiter
sem memória e companhia quase nenhuma buscando entender o que aconteceu. Na
ponta do outro lado – na terra – está o marido Stephen Knox, cientista
brilhante responsável pela tecnologia que fez a NASA investir milhões e mais milhões
na missão em uma das luas do gigante gasoso. “Através do Vazio” é no seu âmago, sobretudo uma história de
sobrevivência no meio do espaço sideral sem muita ajuda e contra várias
adversidades sejam elas naturais ou não. Se assim fosse mantida durante as
páginas seria uma obra bem mais interessante do que se tornou, pois quando o
autor opta em dividir o palco com um drama romântico com características de
novelão mexicano (no pior sentido) reduz bastante a qualidade do trabalho. Isso
faz com que o livro se situe naquele limiar entre não seduzir o leitor completamente,
como também não desagradar na totalidade.
Nota: 5,0
Leia um trecho aqui:
“O Vendido” lançado aqui em 2017
e vencedor do aclamado Man Booker Price de 2016 na Inglaterra foi o primeiro
livro do americano Paul Beatty publicado no Brasil. Em 2019 a Todavia Livros
lança também dele o “Slumberland”,
originalmente de 2008 nos EUA, mas que carrega a mesma vivacidade apesar de ser
anterior. O tom ácido, satírico e mordaz que causa incômodo ao leitor
desavisado está lá presente, ainda que em menor proporção e não tão bem
desenvolvido como seria posteriormente. O protagonista é o DJ Darky, nome
artístico de Ferguson W. Sowell, morador de Los Angeles que após compor uma
batida que todos julgam como perfeita se manda para a Berlim do final dos anos
80 a fim de encontrar um jazzista genial e ao mesmo tempo excêntrico que sumiu
faz muito, muito tempo. O intuito é que ele adicione uma frase original a essa batida,
deixando assim inegavelmente perfeita essa criação. Na busca por Charles Stone –
o jazzista em questão – DJ Darky deságua no bar que empresta o nome ao livro
como sommelier de jukebox (sim, é isso mesmo), que é frequentado na maioria por
negros imigrantes e onde o autor no meio da guerra fria insere as colocações impertinentes
e corrosivas que lhe são peculiares. Trazendo a paixão pela música como grande timoneira
da obra, Paul Beatty fala sobre racismo de um jeito que tem o intuito claro de
provocar – ainda mais vindo de um autor negro – e embala esses acintes com
canções, canções e mais canções.
Nota: 7,0
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