Edgar Allan Poe faleceu em 1849
na cidade de Baltimore nos EUA aos 40 anos e não viu sua obra fazer sucesso e
ganhar a imensa amplitude que exibe até hoje. A hq “Lenora” da
ilustradora e quadrinista Juliana Fiorese (de “Clara Carcosa”) é mais uma prova
disso. Concebida de maneira independente e viabilizada através de uma campanha
de financiamento coletivo é uma adaptação do poema “Lenore” de 1843, trabalho
menos conhecido do autor de “O Corvo”. Com 48 páginas e uma edição muito
cuidadosa e bonita temos a história de Guy de Vere que perde sua paixão cedo
demais e procura aceitar isso de alguma maneira, sendo esse processo de
aceitação que o poema exibe e aparece na tradução de Pedro Mohallem que
colabora com um texto bem interessante no final. “Lenora” é outra
iniciativa caprichada em cima da obra do bardo americano com uma arte
detalhista e admirável.
Nota: 6,0
Instagram da autora: https://www.instagram.com/julianafiorese/
Em 26 de maio de 1983 nascia
Justine Claude Adélaïde, mas logo aos 4 anos percebeu que na verdade não era menina
e sim, um menino. Esse é mote de “Justin”, trabalho da quadrinista
Anne-Charlotte Gauthier (de “O Enterro das Minhas Ex”) publicado na França em
2016 e que recebeu edição nacional pela editora Nemo no ano passado com 104
páginas. Em uma sociedade ridícula e preocupantemente conservadora, a autora
narra os desafios que a protagonista percorre para conseguir se sentir bem e a
vontade. A transexualidade abordada na trama é espelhada em ações da família,
da escola, do círculo social e dos psiquiatras que não tem habilidade ou conhecimento.
“Justin” apresenta as dificuldades de ser entendido como se quer, mas
sem se aprofundar muito, deixando a trama até suave de certo modo, enquanto
brinda o leitor com as conquistas de alguém que não se deixou vencer em momento
algum.
Nota: 7,0
A DC Comics tem uma quantidade
relevante de personagens de terceiro (ou até mesmo quarto) escalão que são interessantíssimos
e apresentam características distintas dos mais famosos nomes da editora,
principalmente se adentrarmos o campo mágico e/ou místico. O Deadman – no
Brasil conhecido como Desafiador – é um deles. Criado em 1967 pelos estupendos
Arnold Drake e Carmine Infantino é o fantasma do acrobata circense Boston Brand
que consegue possuir corpos e fazer estes agirem como se fossem ele. Dono de um
senso de humor bem afiado é aquele tipo de coadjuvante que sempre abrilhanta a
história. Agora em 2019 a Panini Comics publicou em edição bacanuda de capa
dura uma minissérie de 1986 com roteiro de Andrew Helfer e arte do magistral José
Luis García-López. “Desafiador – Retorno à Eternidade” conta com 108 páginas
de puro deleite da nona arte em uma história que une aventura, humor, honra, família,
misticismo e mistério.
Nota: 7,5
“David Boring” do Daniel
Clowes originalmente publicado em 2000 nos EUA pela Pantheon Books retrata com habilidade
esse momento de final de século para um jovem do país. No meio da apatia, da infelicidade
e da falta de perspectiva, o autor insere quantias generosas de fetiche, obsessão
e uma respeitável e gloriosa falta de amor por convenções sociais. A editora Nemo
que já havia lançado “Paciência”, “Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro” e “Ghost
World”, coloca mais esse título no mercado em uma edição com capa brochura e
144 páginas. O personagem principal que sai da cidade pequena para basicamente
fugir da mãe se envolve em um fluxo de sexo, violência e alívios temporários para
mascarar os desgostos existenciais que traz consigo. Dividida em 3 atos, “David
Boring” explica parte das razões que levam o autor a ser um dos maiores
nomes dos quadrinhos alternativos dos últimos anos.
Nota: 8,0
Leia um trecho: https://grupoautentica.com.br/nemo/amostra/1688