No ótimo “Submissão” de 2015 o
escritor francês Michel Houellebecq abordava política, religião e costumes com
um viés propositadamente conservador que servia para impactar o leitor e criar
discussões e polêmicas sobre o que espelhava no texto. Em “Serotonina” (Sérotonine)
de 2019 que a editora Alfaguara publica aqui com 239 páginas e tradução
conjunta de Ari Roitman e Paulina Wacht ele mergulha na depressão e nas
consequências provocadas pelos remédios, sem deixar de aludir sobre alguns
assuntos recorrentes nas suas obras anteriores e adotando a mesma tática de provocar
o maior espanto possível para causar controvérsia e, lógico, repercussão. O protagonista
é Florent-Claude Labrouste de 46 anos que é um ser humano que beira o
desprezível, embora aqui e ali alguma boa vontade apareça embaixo do niilismo
que carrega. Tomando um remédio para a depressão que ajuda, mas em contrapartida
causa impotência e falta de libido, joga tudo para o alto (emprego desestimulante,
esposa que lhe trai de várias formas, convívio social) e resolve viver dentro
de um hotel com o resto do dinheiro que tem de uma herança enquanto visita um
velho amigo de escola que virou fazendeiro e ex-namoradas/mulheres em uma espiral
de antipatia, confrontos e tendências doentias. No que concerne ao objetivo específico
de provocar, ele foi atingido sabiamente já que o livro (novamente) causou
estardalhaço na França, todavia não pode se dizer isso do ponto de vista da
qualidade da obra que peca em vários aspectos, principalmente na repetição de
formatos e na forçada excessiva de mão.
Nota: 5,0
Leia um trecho aqui:
Uma outra economia é possível? Uma
que consiga aliar o crescimento econômico com questões ambientais, sociais, comportamentais
e igualitárias, sem esgotar os recursos do planeta e diminuindo as desigualdades
de toda e qualquer estirpe? Para a britânica Kate Raworth a resposta é sim,
mesmo que seja um processo bem complicado. Além de economista, a autora é
professora e pesquisadora da universidade de Oxford com grande experiência em
outras instituições. Em “Economia Donut” (Doughnut Economics) que
a editora Zahar publicou no país esse ano com 368 páginas e tradução de George
Schlesinger ela propõe um modelo econômico diferente que venha a substituir o
que guia a humanidade nos últimos séculos e se tornou além de obsoleto, bem prejudicial.
Para que esse modelo tivesse como ser visualizado ela criou um gráfico que
parece com a famosa rosquinha e daí vem o nome. O livro propõe ideias e
discussões que buscam quebrar essas teorias há muito estabelecidas para gerar
um pensamento econômico que seja repassado desde já para a nova geração a fim
de que seja possível definir metas de longo prazo para a humanidade como um
todo, humanidade que hoje está na casa dos 7 bilhões de habitantes e tende a
bater 10 bilhões em 2050. Desaprender o que sabemos e reaprender novamente por
outro viés é necessário na visão da autora. O resultado é um trabalho
expressivo que carrega a virtude de poder ser entendido mesmo por quem não tem muita
sapiência na área. Um dos livros do ano, sem dúvida.
Nota: 9,0
Leia um trecho aqui:
Eis o donut:
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