Um dos livros mais vendidos de
2018 nos EUA foi “A Mulher Na Janela” (The Woman In The Window)
que logo teve os direitos vendidos para um filme que chega provavelmente no
início do ano que vem com a estupenda Amy Adams no papel da protagonista. A
editora Arqueiro publicou nacionalmente a obra no ano passado com 352 páginas e
tradução de Marcelo Mendes. Com elogios de autores consagrados como Gillian
Flynn e Stephen King, o trabalho causou burburinho também por conta do autor.
Creditado no livro como A. J. Finn, na verdade descobriu-se depois que se
tratava de Dan Mallory, escritor que conta com um histórico de mentiras e
invenções na bagagem (mas, isso é outra história). Na trama, Anna Fox sofre de
agorafobia e vive trancada em casa com pouco contato real além do psiquiatra e
da fisioterapeuta. Tem como principal passatempo espionar os vizinhos pela
janela se dedicando a pesquisas virtuais sobre cada um deles, enquanto mistura
seus remédios com (muito) vinho, assiste filmes antigos e conversa em um fórum
da internet com pessoas que sofrem da mesma doença. Com uma rotina quase que
totalmente estabelecida vai muito levemente superando os medos, mas vê as
coisas mudarem quando uma nova família muda para a rua. Da curiosidade e
excitação inicial a trama gira para uma sequência de ardis, farsas e trapaças
embaladas com muita paranoia. Com reviravoltas interessantes a leitura é
daquelas capazes de prender o leitor, contudo ao término é esquecida tão
rapidamente quanto foi consumida.
Nota: 6,0
O racismo está entranhado na
cultura nacional, por mais que alguns rebolem com argumentos mirabolantes ou
comparações esdrúxulas tentando negar esse fato. Está na escola, na rua, na
universidade, no escritório, em casa, na festa. Vai desde o apelido “inofensivo”
até atos e injúrias que desestruturam e são espelhados em maior grau para o
resto da vida em oportunidades de trabalho, promoções, reconhecimento, etc. É sobre
isso (e mais um monte de coisa) que o escritor gaúcho Paulo Scott fala em “Marrom
e Amarelo”, lançamento desse ano da editora Alfaguara com 160 páginas. Na base
é a história dos irmãos Federico e Lourenço em diversos momentos da vida que se
entrelaçam do meio para o final, porém vai além disso e é – em algum nível - a
história de milhares de pessoas espalhadas pelo país. Começa com Federico
entrando em uma comissão federal de um novo governo espúrio que tem como missão
rever o processo do ingresso de jovens negros no ensino superior pelo sistema
de cotas, retorna para a adolescência em Porto Alegre e deságua no confronto da
sobrinha com a Polícia em um protesto. De absurdos maiores como a criação de um
software para definir quem é negro ou não até coisas menores do cotidiano, a
obra de Paulo Scott é Brasil em estado puro. Com uma narrativa que alterna o
tipo de escrita, mas nunca deixa de ser direta, clara e simples, temos um
trabalho poderosíssimo e mais atual e relevante do que nunca. Uma pedrada daquelas.
Livro: 9,5
Leia um trecho aqui:
https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/28000141.pdf
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