sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Literatura: “Ordem Vermelha: Filhos da Degradação (Vol. 1)" e "Praia de Manhattan"


Um sistema opressor que massacra a população de todas as formas possíveis e imaginárias incluindo uma violenta repressão que descamba para a tortura pura e simples quase que sempre. No apoio a esse regime além de um forte braço militar estão a religião, ciência e a manipulação de fatos e verdades com informações que favoreçam aos que estão no poder e espalhem o medo. Essa é a realidade de Unthreak, a última região habitada do mundo apresentada em “Ordem Vermelha: Filhos da Degradação (Vol. 1)” do escritor paulista Felipe Castilho. A obra foi lançada na CCXP em dezembro de 2017 com participação direta da empresa e teve publicação pela editora Intrínseca com 448 páginas. Fantasia onde transitam seres fantásticos e criaturas assombrosas tem como grande inspiração “O Senhor dos Anéis” e outras obras correlatas, contudo exibe brilho próprio não somente pelo universo que cuidadosamente cria em termos de ambientação e dinâmica visual, mas particularmente pelo teor do texto que insere uma sólida pegada política ainda que mascarada e encoberta por várias camadas. Os indivíduos que se atrevem a derrubar e desmascarar o governo corrosivo da deusa Una, precisam lidar com táticas e nuances que quando tiramos as espadas, bestas, escudos e bichos grotescos não são tão diferentes das que hoje vemos por aí tanto no Brasil quanto em alguns países do mundo. Dosando aventura, tensão e humor com essa dose camuflada de crítica política e social o primeiro volume de “Ordem Vermelha” é um trabalho que exibe vários bons atributos.


Nota: 7,0

Se atualmente as mulheres ainda se deparam com os mais diversos tipos de preconceito e ouvem absurdos mil, imagine isso na década de 40? É onde Anna Kerrigan, a protagonista de “Praia de Manhattan” (Manhattan Beach, no original) da escritora Jennifer Egan se encontra e lida diariamente com isso para conseguir o que deseja enquanto sustenta o crescimento pessoal junto com os erros, dúvidas e afirmações decorrentes. Publicado nos EUA em 2017 a obra recebeu edição nacional em 2018 pela editora Intrínseca com 448 páginas e tradução de Sergio Flaksman. A vencedora do Pulitzer de 2011 com o magistral “A Visita Cruel do Tempo” aqui navega por uma narrativa mais convencional (mas não menos elegante), usando a ficção histórica como condutora. Desenvolvido sobretudo na Nova York da época em que a segunda guerra mundial se desenrolava, mas também tendo uma relevante parte nos anos 30, no cenário pós-crise financeira de 1929, o trabalho versa sobre escolhas, consolidação, luta, inquietação, risos e lágrimas, sejam no mar ou em terra. Entramos de cabeça na vida da personagem principal que trabalha no Arsenal da Marinha e anseia por ser mergulhadora quando mulheres eram proibidas disso. Vivendo sozinha com a mãe e com a irmã que carrega sérios problemas de saúde, Anna Kerrigan fica sempre a um pé de desmoronar enquanto toma uma decisão difícil ou quando se entrega aos prazeres da vida. Com ambientação histórica que beira a perfeição, Jennifer Egan mostra de novo suas habilidades e o que é capaz de construir.


Nota: 8,0


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