Masanori Ninomiya hoje com 33
anos foi diagnosticado quando criança com características de espectro autista.
Não se expressava com palavras, mas encontrou no desenho uma maneira de absorver
o que acontecia ao seu redor. Em “Nori e Eu”, ele conta essa história
junto com a mãe Sônia Ninomiya, professora aposentada de literatura e cultura
japonesa. Sob supervisão e edição de arte do Caeto, o trabalho em preto e
branco escrito a quatro mãos têm 92 páginas e publicação esse ano da editora
WMF Martins Fontes. O álbum é um retrato de luta e amor incondicional entre mãe
e filho que a cada conquista faz o leitor vibrar junto. Da busca pela
identificação maior da sua situação, passando pela convivência na escola e
chegando em processos claros de evolução como sair sozinho e se expressar de
modo claro, temos uma história que além de bastante inspiradora é extremamente
bonita e forte.
Nota: 7,5
Existem iniciativas que só pela
temática e concepção já merecem destaque. Se isso for aliado a material de qualidade,
essa iniciativa ganha amplitude e se estende além desse destaque inicial. É o
caso de “Na Quebrada – Quadrinhos de Hip Hop” da editora Draco com 184 páginas
publicada esse ano. É uma coletânea de oito histórias organizada pelo versátil
Raphael Fernandes (que também assina um dos roteiros) versando diretamente (mas
não somente) para o público amante do rap e do hip-hop e para os moradores das
periferias do país. A obra usa o cotidiano como inspiração sem esquecer de
adicionar como pano de fundo o preconceito e a falta de oportunidade que andam
do lado desse cotidiano. “Sampleador”, “Meu corpo, minhas regras” e “Um conto
de duas cidades” exibem uma carga maior de intensidade, enquanto “O rei do
groove” do Guabiras fecha a obra em alto estilo e (muito) bom som.
Nota: 8,0
A chegada de um novo trabalho do
Camilo Solano é motivo para comemoração. O autor de “Desengano” e “Semilunar” é
dono de uma das vozes mais interessantes do quadrinho nacional e em “Fio do
Vento” - publicação de 2019 da editora Veneta com 100 páginas – isso se reafirma.
Nas duas histórias que se entrelaçam cuidadosamente na trama e abrem espaço
para que outras sejam contadas paralelamente, Solano faz o leitor ir com calma
e até voltar para ler de novo. Os personagens carregam aquela diretriz que
apesar das porradas da vida e dos caminhos escolhidos, ainda se deve ter alguma
vontade de ir em frente nem que seja para um mísero alívio qualquer. Um desses
personagens quando fala que está esgotado apesar do ano ter apenas começado ou vê
que a vida passou e não andou como desejava rende momentos brilhantes apoiados
sempre no traço vigoroso e expressivo do artista.
Nota: 8,5
“Punk Rock Jesus” foi
escrita e desenhada pelo Sean Gordon Murphy que recentemente fez a ótima
“Batman: Cavaleiro Branco”. Originalmente publicada nos EUA em 6 edições dentro
do hoje extinto selo Vertigo da DC Comics entre 2012 e 2013, a série ganhou uma
especialíssima edição de luxo pela Panini Books no ano passado com 364 páginas,
onde mais de cem são esboços e excelentes considerações do autor sobre os rumos
e decisões que tomou na trama. Abordando uma temática bem espinhosa conversa
com voracidade com os dias atuais por mais absurdo que as premissas possam
parecer logo de entrada. Com uma arte feroz e provocativa o texto ataca religião,
conservadorismo e a manipulação da mídia para afirmar narrativas mentirosas (lembra
algo?) enquanto apresenta um jovem tentando entender o seu verdadeiro lugar no
mundo. Fácil uma das melhores obras dos anos 2000, “Punk Rock Jesus” é
para se ter na estante.
Nota: 10,0
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