Antes da palavra resiliência
aparecer diariamente em status e perfis de redes sociais (sem muito sentido na
maioria delas, convenhamos), ela já encontrava há muito tempo relação direta
com a carioca Elza Gomes da Conceição, a Elza Soares. Desde criança, passando pelo
ano de 1953 onde teve a “audácia” de subir em um auditório comandado por Ary
Barroso encantando o apresentador e o público até a última revigorada na
carreira iniciada com o estupendo disco “A Mulher do Fim do Mundo” de 2015, a
vida dela é uma constante de retomadas, quedas, adaptação, mudanças e novas
retomadas. Em “Elza” que a editora Leya lançou em 2018 com 384 páginas,
o jornalista Zeca Camargo se debruçou sobre essa vida tão ampla e tão marcante
que já atravessa oito décadas com a missão de contar parte de tudo que
aconteceu baseado em pesquisas e principalmente nos olhos e memória da própria
artista. De sair na rua quando criança catando coisas do chão e do lixo para
vender depois e ajudar em casa, de ser forçada a casar aos 13 anos com um homem
que também não era mais que um garoto, da morte do primeiro filho, do
relacionamento mais que intenso com Garrincha, das diversas baixas e dos
recomeços que vieram em sequência, Elza sempre renasceu mais e mais forte. Com o
caminho sempre marcado pela violência e o preconceito temos uma história de
vida espetacular, que apesar de ser escrita com um tom talvez leve demais,
ainda assim vale cada página.
Nota: 8,0
Ailton Alves Lacerda Krenak
nasceu na década de 1950 na região do Vale do Rio Doce em Minas Gerais, no território
do povo que carrega no nome e onde a mineração continua de modo incisivo até
hoje. Ativista, escritor, pensador e um dos líderes mais renomados dos povos
indígenas no Brasil, tem esse ano pela Companhia das Letras outro livro
publicado, chamado “Ideias Para Adiar o Fim do Mundo”. Em formato
pequeno (pocket) e com apenas 88 páginas, o trabalho se destaca pela força
inversamente proporcional ao tamanho. Emprestando o nome do título de uma palestra
proferida em uma universidade portuguesa em março desse ano, se baseia ainda em
outra palestra e uma entrevista, ambas efetuadas em Lisboa no ano de 2017.
Naquilo que apresenta e se propõe a discutir, Krenak cumpre o objetivo de fazer
o leitor pensar, se indagar e questionar não somente os caminhos do mundo, mas os
próprios passos. Em determinado momento pergunta no texto: “Somos mesmo uma
humanidade?” E aí? Será que somos mesmo? Difícil acreditar nisso depois de
passar um dia lendo as notícias atuais. Conversando sobre passado, presente e
futuro, “Ideais Para Adiar o Fim do Mundo” é uma obra que ganha ainda
mais força depois dos absurdos e posicionamentos cometidos pelos atuais mandatários
da nossa nação e se torna um convite para que possamos contar mais uma
história, sermos mais conscientes, nos posicionar a favor da natureza e adiar
assim a cada dia - um pouco mais que seja - o fim.
Nota: 8,5