“Crossed – Volume 1: A Primeira Vez” que a Panini publica em 2019
com 256 páginas e capa dura, traz as dez primeiras edições comandadas pelos
criadores Garth Ennis e Jacen Burrows (que depois deixaram a série). Lançada nos
EUA entre 2009 e 2010 pela Avatar Press mostra um Garth Ennis forçando os
limites que explorou em obras-primas como “Preacher” e “The Boys”. O autor
libera as poucas amarras que ainda exibia para contar a história de um mundo
onde uma praga ou vírus desconhecido se espalhou transformando a população em
uma espécie de zumbis com inteligência, ainda que básica. Chamados de cruzados distribuem
atrocidades e mais atrocidades enquanto o mundo definha e um pequeno grupo
tenta sobreviver. A arte limpa de Burrows ressalta ainda mais as insanidades do
roteiro e faz de “Crossed” um
trabalho que mostra a verve de Ennis, mas acaba parecendo gratuita demais no
que almeja contar.
Nota: 5,0
A vida deixou de fazer sentido.
Todo dia é uma batalha já perdida onde o único momento de alívio é o álcool,
companheiro constante nessa ladeira que cada vez é descida com mais e mais
velocidade. É nesse ponto que encontramos o protagonista de “Vazio”, obra do quadrinista João Vitor
Palermo (de “Solidão”) que foi impressa no final do ano passado. Viabilizada
por financiamento coletivo e com posterior impressão da AVEC Editora com 96
páginas, a arte é em preto e branco e não há texto que é justamente para
realçar o duro momento que o personagem passa. Se arremessando com afinco na
direção do próprio aniquilamento, aos poucos é apresentado o motivo que
provocou tudo, um motivo extremamente pesado que o assombra até por alucinações
do meio para o final. “Vazio” discorre
sobre depressão, auto-destruição, dor, erros, culpa e sobre a importância de
tentar seguir em frente apesar de tudo.
Instagram: https://www.instagram.com/palermo0
Nota: 7,0
“Astro City” é uma estupenda série de quadrinhos. Concebida pelo
trio Kurt Busiek (roteiro), Brent Anderson (arte) e Alex Ross (capas e
concepção visual) desde 1995 encanta ao mostrar uma cidade onde heróis e vilões
são rotineiros com seus poderes e trajes coloridos, fazendo parte do cotidiano
das pessoas. É pela visão dessas pessoas normais que a série se constrói e se desenvolve
a exemplo do que Busiek e Ross fizeram na clássica “Marvels”. Claro que brigas e
cenas de ação estão presentes nas histórias em uma homenagem declarada e
apaixonada a todo universo de supers e seus ícones, contudo o viés avança por
outro lado. Desde 2015 a Panini Comics publica ela por aqui e em 2019 outro
volume chega às bancas com 180 páginas que reúne edições lançadas em 2014 nos
EUA. “Astro City – Volume 11: Vidas
Privadas” é coisa fina e mais uma etapa desse processo de encantamento.
Nota: 8,0
Marcello Quintanilha fabricou
obras do porte de “Tungstênio”, “Talco de Vidro” e “Hinário Nacional” o que o
coloca como um dos nomes mais importantes dos quadrinhos nacionais, reconhecido
por prêmios e mais prêmios (internacionais, inclusive). Essas obras ganham esse
ano uma ilustre companhia chamada “Luzes
de Niterói”, parcialmente financiado coletivamente no final de 2018 pela
Editora Veneta que publica o trabalho com capa dura e 232 páginas. O autor
volta para a cidade de Niterói onde cresceu e ambienta a história nos anos 50
em um Rio de Janeiro (e um país) que parece que ficou para trás há mais tempo.
Focado em dois amigos conta uma história sobre amizade acima de tudo, mas que
no meio tem momentos de tensão, aventura, raiva e amadurecimento misturando
futebol, pescadores, família e responsabilidades com arte e roteiro casados
perfeitamente que fazem o leitor mergulhar de cabeça nesse outro gol de placa
do autor.
Nota: 9,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário