quarta-feira, 27 de março de 2019

Quadrinhos: "Crossed - Volume 1: A Primeira Vez", "Vazio", “Astro City – Volume 11: Vidas Privadas" e "Luzes de Niterói"


“Crossed – Volume 1: A Primeira Vez” que a Panini publica em 2019 com 256 páginas e capa dura, traz as dez primeiras edições comandadas pelos criadores Garth Ennis e Jacen Burrows (que depois deixaram a série). Lançada nos EUA entre 2009 e 2010 pela Avatar Press mostra um Garth Ennis forçando os limites que explorou em obras-primas como “Preacher” e “The Boys”. O autor libera as poucas amarras que ainda exibia para contar a história de um mundo onde uma praga ou vírus desconhecido se espalhou transformando a população em uma espécie de zumbis com inteligência, ainda que básica. Chamados de cruzados distribuem atrocidades e mais atrocidades enquanto o mundo definha e um pequeno grupo tenta sobreviver. A arte limpa de Burrows ressalta ainda mais as insanidades do roteiro e faz de “Crossed” um trabalho que mostra a verve de Ennis, mas acaba parecendo gratuita demais no que almeja contar.

Nota: 5,0


A vida deixou de fazer sentido. Todo dia é uma batalha já perdida onde o único momento de alívio é o álcool, companheiro constante nessa ladeira que cada vez é descida com mais e mais velocidade. É nesse ponto que encontramos o protagonista de “Vazio”, obra do quadrinista João Vitor Palermo (de “Solidão”) que foi impressa no final do ano passado. Viabilizada por financiamento coletivo e com posterior impressão da AVEC Editora com 96 páginas, a arte é em preto e branco e não há texto que é justamente para realçar o duro momento que o personagem passa. Se arremessando com afinco na direção do próprio aniquilamento, aos poucos é apresentado o motivo que provocou tudo, um motivo extremamente pesado que o assombra até por alucinações do meio para o final. “Vazio” discorre sobre depressão, auto-destruição, dor, erros, culpa e sobre a importância de tentar seguir em frente apesar de tudo.


Nota: 7,0


“Astro City” é uma estupenda série de quadrinhos. Concebida pelo trio Kurt Busiek (roteiro), Brent Anderson (arte) e Alex Ross (capas e concepção visual) desde 1995 encanta ao mostrar uma cidade onde heróis e vilões são rotineiros com seus poderes e trajes coloridos, fazendo parte do cotidiano das pessoas. É pela visão dessas pessoas normais que a série se constrói e se desenvolve a exemplo do que Busiek e Ross fizeram na clássica “Marvels”. Claro que brigas e cenas de ação estão presentes nas histórias em uma homenagem declarada e apaixonada a todo universo de supers e seus ícones, contudo o viés avança por outro lado. Desde 2015 a Panini Comics publica ela por aqui e em 2019 outro volume chega às bancas com 180 páginas que reúne edições lançadas em 2014 nos EUA. “Astro City – Volume 11: Vidas Privadas” é coisa fina e mais uma etapa desse processo de encantamento.

Nota: 8,0


Marcello Quintanilha fabricou obras do porte de “Tungstênio”, “Talco de Vidro” e “Hinário Nacional” o que o coloca como um dos nomes mais importantes dos quadrinhos nacionais, reconhecido por prêmios e mais prêmios (internacionais, inclusive). Essas obras ganham esse ano uma ilustre companhia chamada “Luzes de Niterói”, parcialmente financiado coletivamente no final de 2018 pela Editora Veneta que publica o trabalho com capa dura e 232 páginas. O autor volta para a cidade de Niterói onde cresceu e ambienta a história nos anos 50 em um Rio de Janeiro (e um país) que parece que ficou para trás há mais tempo. Focado em dois amigos conta uma história sobre amizade acima de tudo, mas que no meio tem momentos de tensão, aventura, raiva e amadurecimento misturando futebol, pescadores, família e responsabilidades com arte e roteiro casados perfeitamente que fazem o leitor mergulhar de cabeça nesse outro gol de placa do autor.


Nota: 9,0





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