segunda-feira, 4 de março de 2019

Literatura: "Ingresia" e "A Uruguaia"


Franciel Cruz nasceu na pequena Irecê na Bahia e ainda adolescente se mudou para Salvador onde virou torcedor apaixonado do Vitória e seguiu na sina de pecar e ficar do lado dos deserdados como ele mesmo diz. Com publicação da P55 Edição e viabilizado através de financiamento coletivo em 2018, “Ingresia” é o primeiro livro do jornalista e faz um compêndio de crônicas publicadas em jornais, revistas, redes sociais e blogs. Insere constantemente um humor cortante e muita ironia em textos que utilizam gírias regionais e palavrões e que frequentemente conversam diretamente com o leitor sobre música, carnaval, política, desigualdade econômica, exclusão social e segregação racial no estado que tanto ama e defende. Achincalhando tudo e todos (inclusive ele próprio) o autor apresenta um olhar revelador sobre a Bahia que, por conseguinte, podemos estender para o Brasil nos escritos mais acintosos e sérios. Entre causos, memórias e um punhado de história preenchendo o recheio atravessa da galhofa pura e mordaz para a acidez mais crítica sempre tratando o leitor como um parceiro de copo no meio de um boteco qualquer da primeira capital do país que trata visitantes da melhor e mais lúdica maneira enquanto destrata os habitantes locais por conta de cor, classe social ou local de moradia. Entre as mais de 90 crônicas espalhadas nas 260 páginas do livro algumas das mais interessantes são as que falam da música e do amor do autor por nomes como Luiz Gonzaga, Odair José, Gilberto Gil, Lazzo Matumbi e Belchior.

Siga o autor no Twitter: https://twitter.com/fsmcruz

Nota: 7,0


A crise da meia-idade masculina já foi explorada em várias obras na literatura e no cinema, é aquele momento em que a juventude definitivamente ficou para trás e a velhice começa a aparecer no horizonte, o que algumas vezes gera decisões estapafúrdias e irresponsáveis, para dizer o mínimo. É nesse momento da vida que está Lucas Pereyra, o protagonista de “A Uruguaia” (La Uruguaya, no original), romance que a Todavia Livros publicou aqui em 2018 com 128 páginas e tradução de Heloisa Jahn. Sucesso nos países de língua espanhola a obra do autor argentino Pedro Mairal absorve esse tema dando um verniz tragicômico a história. Em crise financeira, conjugal e até mesmo espiritual, Pereyra consegue depois de um bom tempo um adiantamento para dois novos livros. Por conta da situação econômica delicada da Argentina resolve sacar os dólares provenientes do contrato no vizinho Uruguai onde aproveita para rever uma bela mulher mais nova que entrou na sua vida em uma feira literária. Casado e com um filho criança cada decisão que surge na cabeça de Pereyra é um infeliz e burlesco erro que rende situações trágicas com um viés engraçado envolvido que apesar da gravidade da coisa torna-se permissível sucumbir as risadas. Com um protagonista que tende a não arrebatar maiores paixões pelas escolhas e alguns pensamentos, Pedro Mairal envolve o leitor nessa sequência de fatos que versam sobre o destino, a consequência dos atos de cada um e a interminável busca por uma insignificante dose de felicidade que seja.

Nota: 7,5

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