Franciel Cruz nasceu na pequena
Irecê na Bahia e ainda adolescente se mudou para Salvador onde virou torcedor apaixonado
do Vitória e seguiu na sina de pecar e ficar do lado dos deserdados como ele mesmo diz. Com publicação da P55 Edição e viabilizado através de financiamento
coletivo em 2018, “Ingresia” é o primeiro
livro do jornalista e faz um compêndio de crônicas publicadas em jornais,
revistas, redes sociais e blogs. Insere constantemente um humor cortante e
muita ironia em textos que utilizam gírias regionais e palavrões e que frequentemente
conversam diretamente com o leitor sobre música, carnaval, política,
desigualdade econômica, exclusão social e segregação racial no estado que tanto
ama e defende. Achincalhando tudo e todos (inclusive ele próprio) o autor
apresenta um olhar revelador sobre a Bahia que, por conseguinte, podemos
estender para o Brasil nos escritos mais acintosos e sérios. Entre causos,
memórias e um punhado de história preenchendo o recheio atravessa da galhofa pura e mordaz para a acidez mais crítica sempre tratando o leitor como um
parceiro de copo no meio de um boteco qualquer da primeira capital do país que
trata visitantes da melhor e mais lúdica maneira enquanto destrata os
habitantes locais por conta de cor, classe social ou local de moradia. Entre as
mais de 90 crônicas espalhadas nas 260 páginas do livro algumas das mais
interessantes são as que falam da música e do amor do autor por nomes como Luiz
Gonzaga, Odair José, Gilberto Gil, Lazzo Matumbi e Belchior.
Siga o autor no Twitter: https://twitter.com/fsmcruz
Nota: 7,0
A crise da meia-idade masculina
já foi explorada em várias obras na literatura e no cinema, é aquele momento em
que a juventude definitivamente ficou para trás e a velhice começa a aparecer no
horizonte, o que algumas vezes gera decisões estapafúrdias e irresponsáveis,
para dizer o mínimo. É nesse momento da vida que está Lucas Pereyra, o
protagonista de “A Uruguaia” (La Uruguaya, no original), romance que a
Todavia Livros publicou aqui em 2018 com 128 páginas e tradução de Heloisa
Jahn. Sucesso nos países de língua espanhola a obra do autor argentino Pedro
Mairal absorve esse tema dando um verniz tragicômico a história. Em crise
financeira, conjugal e até mesmo espiritual, Pereyra consegue depois de um bom tempo
um adiantamento para dois novos livros. Por conta da situação econômica
delicada da Argentina resolve sacar os dólares provenientes do contrato no
vizinho Uruguai onde aproveita para rever uma bela mulher mais nova que entrou
na sua vida em uma feira literária. Casado e com um filho criança cada decisão
que surge na cabeça de Pereyra é um infeliz e burlesco erro que rende situações
trágicas com um viés engraçado envolvido que apesar da gravidade da coisa torna-se
permissível sucumbir as risadas. Com um protagonista que tende a não arrebatar
maiores paixões pelas escolhas e alguns pensamentos, Pedro Mairal envolve o
leitor nessa sequência de fatos que versam sobre o destino, a consequência dos
atos de cada um e a interminável busca por uma insignificante dose de
felicidade que seja.
Nota: 7,5
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