Com grandes poderes vêm grandes...,
não, não, espera aí. Já deu né? Deu mesmo, convenhamos. Depois da origem de
Peter Parker ser contada e recontada diversas vezes as coisas ficaram meio
enfadonhas, não tem jeito. E em “Homem-Aranha
no Aranhaverso”, longa de animação que estreou nos EUA no final de 2018 e
aqui no Brasil em 10 de janeiro de 2019, isso é encarado de maneira diferente,
sendo esse apenas um dos incontáveis acertos da produção.
O filme é uma parceria da Sony
com a Marvel e funciona como a introdução de Miles Morales (o Homem-Aranha
negro e latino) no cinema. Miles Morales foi criado por Brian Michael Bendis e
Sara Pichelli e estreou dentro no universo Ultimate (uma realidade paralela) da
editora em 2011, ou seja, o personagem tem menos de 10 anos e já tem destaque
relevante, hoje inserido na realidade principal e constantemente cativando
leitores e fãs ao redor do mundo.
Levar a história do Aranhaverso
para as telas não era tarefa das mais fáceis, fazer funcionar a trama dos
quadrinhos na telona onde inúmeras versões do personagem se reúnem, utilizando
as prerrogativas do multiverso era algo hercúleo, bem hercúleo. Porém, os
diretores Bob Persichetti (Gato de Botas), Peter Ramsey (A Origem dos
Guardiões) e Rodney Rothman (Ajuste de Contas) conseguiram o feito apoiados no
roteiro de Rothamn com Phil Lord (Uma Aventura Lego) que concebe também a
história geral.
Miles Morales vive em uma realidade
onde o Homem-Aranha carrega os padrões que todos conhecem, concebidos lá atrás por
Stan Lee e Steve Ditko. Heroico, destemido e cheio de piadinhas na manga, Peter
Parker já salvou o mundo e a cidade de Nova York algumas vezes, contudo, é novamente
posto à prova quando o Rei do Crime planeja ligar uma máquina que pode
estraçalhar com a cidade ao invadir outras realidades. Ao buscar impedir isso,
Peter sucumbe.
Miles que foi picado recentemente
por uma aranha e então ganhou os poderes, precisa assumir o encargo de impedir
que a máquina seja novamente ligada. E não está só para isso. A engenhoca que
havia sido iniciada brevemente antes trouxe para essa realidade algumas versões
do herói, sendo uma impetuosa Gwen Stacy, um outro Peter Parker acabado e
desiludido, o Homem-Aranha Noir direto dos anos 30, a jovem nipo-americana Peni
Parker e o extraordinário Porco-Aranha (esqueça os Simpsons).
“Homem-Aranha no Aranhaverso” acaba sendo uma história de origem na
essência mesmo que isso não seja o ponto principal. É uma animação com muito,
muito mesmo de quadrinhos, abraçando estes de maneira exemplar (via os balões
de conversa, onomatopeias e homenagens a cenas clássicas), além de exibir
diversos estilos de animações como o anime e um mais cartunesco como os Looney
Tunes. Na tradução, nomes como Mahershala Ali dublando o tio de Miles, Nicolas
Cage como o Homem-Aranha Noir e Liev Schreiber como o Rei do Crime.
O filme é uma ode especular ao
aracnídeo e em consequência aos quadrinhos e as histórias de super-heróis. É
lírico, divertido, inspirador, representativo e emocionante. Espalhando
trocentas referências pelo caminho sem soar pedante, o roteiro apresenta o
néctar do amigão da vizinhança em várias e estimulantes cores e com destaque
para todos os personagens inseridos. Uma coesão que chega a assustar e nutre no
peito a vontade de assistir de novo e mais uma vez.
P.S: As cenas pós-créditos são
simplesmente sensacionais.
P.S: O roteiro do filme foi
liberado oficialmente. Só ir aqui (em inglês): http://origin-flash.sonypictures.com/ist/awards_screenplays/SV_screenplay.pdf
Nota: 9,5
Assista ao trailer:
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