Publicado originalmente em 1963, “O Colecionador” (The Collector, no original) é um daqueles livros que mesmo depois
de tanto tempo ainda exala frescor e perturbação. Estreia do falecido escritor
inglês John Fowles (1926-2005) recebeu elogios mil na época, vendeu um bocado depois,
virou filme, etc. e tal. Há alguns anos fora de catálogo volta em 2018 pelas
mãos da Darkside Books em edição primorosa com 355 páginas, capa dura, tradução
de Antônio Bibau e alguns extras saborosos como prefácio de Stephen King,
projeto gráfico luxuoso e explicação de referências ao final. Agora é possível se
deparar novamente com o confronto entre Frederick Clegg e Miranda Gray,
sequestrador e sequestrada, o louco e sua loucura, o colecionador e a presa.
Enquanto trava esse embate nada justo, o autor explora as mentes dos personagens
em um jogo tenso e aproveita-se disso para ali na margem e sublinhas se
estender em temas ainda incipientes de discussão ou em outros universais como o
direito a ser livre.
Nota: 7,0
Liudmila Petruchévskaia nasceu em
1938 em Moscou. Foi criança na segunda guerra e cresceu na guerra fria e tudo
que isso acarretava morando na URSS no que concerne a liberdade individual. Só
começou a ser publicada a passos de cágado na segunda metade dos anos 80,
contudo sofreu censura até o final dos 90. A autora que veio ao Brasil esse ano
para a Flip foi publicada pela primeira vez por aqui pela Companhia das Letras
em “Era Uma Vez Uma Mulher Que Tentou
Matar o Bebê da Vizinha” que traz o subtítulo “Histórias e Contos de Fadas
Assustadores”. Com 206 páginas e tradução de Cecília Rosas temos 21 contos
divididos em quatro blocos. Neles, Liudmila conta histórias nada comuns com
tons sobrenaturais para dar vazão a ideias nascidas dentro de uma vivência
nervosa. Ainda que o amor apareça quase que constantemente ele não salva e contos
como “A Vingança” e “Higiene” são tão assustadores quanto poderosos se
sobressaindo em um fascinante conjunto.
Leia um trecho: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13630.pdf
Nota: 7,5
“O Sol Na Cabeça” do carioca Geovani Martins fez barulho nesse ano. O
jovem autor nascido em 1991 recebeu elogios de nomes conceituados, foi tema de
várias matérias, esteve na Flip e viu a estreia alcançar patamares elevados (está
na segunda reimpressão e será publicado no exterior) além de, logicamente,
inserir o cenário de expectativa para o futuro. A obra apresenta 13 contos em
120 páginas, saiu pela Companhia das Letras e é praticamente impossível sair
impune dela. Seja pela linguagem contida, pelo ritmo e tensão sempre presentes
ou pela veracidade que os contos exalam, “O Sol
Na Cabeça” é vigoroso, um chute forte nas partes baixas. Sem definir
nitidamente heróis ou vilões (apesar de deixar claro) destroça a desigualdade e
racismo presentes no Rio e em tantas outras cidades do país. Contos como “Rolézim”,
“Estação Padre Miguel” e “Sextou” ou mesmo os mais líricos “O Cego” e “O
Mistério da Vila” nos mostram um autor afiado e cortante que deixa gosto de
quero mais.
Leia um trecho: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/14481.pdf
Nota: 8,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário