terça-feira, 23 de outubro de 2018

Literatura: "O Orangotango Marxista", "Outsider" e "O Simpatizante"


No novo romance chamado “O Orangotango Marxista”, Marcelo Rubens Paiva mistura crítica social e política com humor irônico e funcional. O livro com 112 páginas teve lançamento esse ano pelo selo Alfaguara da Companhia das Letras. O peculiar personagem principal chegou ainda criança em São Paulo capturado na selva africana e transportado para a vida no cativeiro dentro de um laboratório de pesquisa. Com inteligência elevada aprende a linguagem de sinais com Kátia, a pesquisadora que lida diretamente e até que é feliz. Contudo em um arroubo de ciúme nada convencional é expulso do laboratório e enviado a um zoológico onde precisa aprender a sobreviver e começa a bolar um plano para destroçar a humanidade e os moldes da nossa sociedade. Nesse projeto esboçado de revolução, Fidel (esse é nome do orangotango) aguça mais ainda a inteligência e ao ler mais e mais despeja curiosas considerações sobre religião, luta de classes e estruturação comportamental, divertindo o leitor nessa briga imaginária.


Nota: 6,0


A pacata cidade de Flint City nos EUA não será a mesma depois que uma criança de onze anos é encontrada assassinada no parque com crueldade inimaginável até para mentes sórdidas. Todos as pistas apontam para o professor Terry Maitland, uma das figuras mais queridas e conhecidas do local e quando a polícia encabeçada pelo detetive Ralph Anderson ordena a prisão na frente de todos a cidade entra em estado de choque e revolta. Todavia, conforme o caso avança parece que a coisa não era bem assim. Ou será que era? É em cima dessa dúvida que se desenvolve a parte inicial de “Outsider” (The Outsider, no original) publicado esse ano pela Companhia das Letras com 528 páginas e tradução de Regiane Winarski. A partir disso surge com maior intensidade novos e estranhos dados na trama policial permitindo a Stephen King desenvolver toda sua habilidade como em obras mais antigas, prendendo o leitor como poucos sabem fazer. Mestre é mestre.


Nota: 7,5


“O Simpatizante” (The Sympathizer, no original) - livro de estreia de Viet Thanh Nguyen - ganhou o prêmio Pulitzer de ficção de 2016, o que é um senhor cartão de visitas, convenhamos. A obra foi publicada aqui ano passado pelo selo Alfaguara da Companhia das Letras com 392 páginas e tradução de Cássio de Arantes Leite. Thriller político de espionagem traz uma visão dura e fora dos padrões que vimos no decorrer dos anos sobre a guerra do Vietnã, indo tanto de situações de antes dos EUA adotarem o conflito, passando pelo conflito em si e culminando no depois dos exilados fora do país, como também na luta pela sobrevivência de cultura e costumes. O protagonista é um agente duplo vietnamita que dentro do exército do Vietnã do Sul junto com os ianques repassa informação para o outro lado onde reside na verdade seus ideais e coração. É um personagem fascinante que brilha em uma história vigorosa e com tons de épico.


Nota: 9,0

domingo, 21 de outubro de 2018

Quadrinhos: "Trillium", "Batman: Gotham 1889", "Uma Irmã" e "A Vida de Jonas".

A quantidade de trabalhos disponíveis do canadense Jeff Lemire no país só vem aumentado, o que é sempre interessante. Outra obra do autor que chegou aqui esse ano foi “Trillium”, uma ficção científica ancorada em dois polos bem distintos: os anos de 1921 e o de 3797. No primeiro ponto temos o soldado William Pike atordoado com os efeitos da primeira guerra mundial, no segundo conhecemos Nika Temsmith uma cientista em busca da cura para um vírus capaz de acabar de vez com a humanidade. A edição da Panini Comics tem 208 páginas em capa cartonada reunindo a história originalmente lançada entre outubro de 2013 e junho de 2014 nos EUA pelo selo Vertigo da DC Comics. Lemire constrói uma ponte para unir esses lados e no meio fala sobre amor, medo, xenofobia, preconceito e a inesgotável estupidez humana.

Nota: 7,0


Mantendo a toada das republicações de materiais dos anos 80 e 90 da DC, a Panini Books lança “Batman: Gotham 1889” em álbum de luxo com capa dura e 120 páginas. Apresentam-se duas histórias: a primeira que dá nome ao título lançada em 1989 e a sequência chamada “Mestre do Futuro” original de 1991. Ambas já haviam sido publicadas aqui pela editora Abril no início dos anos 90, mas agora estão juntas nessa viagem do roteirista Brian Augustyn dentro da linha Elseworlds que permite essas repaginações meio malucas. O destaque fica por conta da primeira história que conta com os desenhos do grande Mike Mignola e arte final de P. Craig Russell, onde o cavaleiro das trevas se depara com Jack, o Estripador em Gotham. Com uma toada detetivesca e sem muitas invenções temos uma trama contundente e divertida.

Nota: 7,0


No que parece ser umas férias como outra qualquer, o adolescente Antoine embarca com os pais e o irmão mais novo rumo ao litoral. Mas, dessa vez as férias serão inesquecíveis, com direito a aqueles dias que para sempre irão pontuar a memória devido a presença de Hélène, a filha de uma amiga dos pais um pouco mais velha que ele. Esse é o mote de “Uma Irmã”, novo trabalho do francês Bastien VIVÈS de “O Gosto do Cloro” com lançamento nacional no primeiro semestre 2018 pela editora Nemo com 216 páginas. O autor forja um enredo ao mesmo tempo crua e terna, com o despertar do desejo como força motriz e responsável por suplantar problemas pessoais e familiares. VIVÈS usa de grande habilidade para contar a história desses dois jovens em meio a descobertas, inadequação e crescimento. Bem bonito.

Uma amostra: https://grupoautentica.com.br/nemo/amostra/1564 


Nota: 7,5



“A Vida de Jonas” dos irmãos Magno e Marcelo Costa saiu em 2014, contudo ganhou reedição em 2017 pela Zarabatana Books com 64 páginas. O protagonista que dá nome ao título é um ex-alcoólatra (e a duras penas busca ficar assim) que por conta do vício perdeu a mulher e o emprego, está com a vida ainda jogada para cima e tenta se reerguer como pode. Com o apoio de reuniões do AA e de um amigo, a esperança volta ao peito até ser novamente destroçada em um encontro com o atual namorado da ex-mulher. A partir disso temos uma sequência de acontecimentos que vão definir não somente a vida de Jonas como também daqueles a sua volta. Usando fantoches na arte (como Muppets), a dupla alivia e amplifica ao mesmo tempo questões sérias em uma história pesada e muitíssimo bem construída.

Nota: 9,0



sábado, 20 de outubro de 2018

Quadrinhos: "Huck", "Orks", "Horácio - Mãe" e "A Marcha - Livro 1"


A Panini publicou esse ano por aqui a parceira do Mark Millar (de “Kick-Ass”) com o gaúcho Rafael Albuquerque (de “Vampiro Americano”) originalmente lançada pela Image Comics entre novembro de 2015 e abril de 2016. “Huck” (nada a ver com o apresentador mala da tevê) é um cara grandão, simplório e ingênuo com um coração do tamanho do mundo. Dotado de vários poderes vive ajudando os moradores da pequena cidade em que mora. Seus dons são um segredo guardado pelos habitantes por anos, até ocorrer um vazamento que levará o protagonista a uma aventura clássica em busca das origens e de derrotar um poderoso cientista e suas crias. Com 164 páginas e capa dura, “Huck” é um trabalho leve, agradável de ler, onde Mark Millar homenageia o Superman e para tanto conta com a arte sempre impecável de Rafael Albuquerque.

Nota: 6,0



Para quem gosta de fantasia medieval e histórias de capas e espadas, “Orks” é uma obra que agrada perfeitamente. Com roteiro de Nicolas Tackian e arte de Nicolas Guénet, a edição de luxo foi publicada esse ano pela linha “Gold Edition” da Mythos Books com capa dura, 116 páginas e formato grande (23,4cm x 32,3cm). Com arte cheia de detalhes e tendo as cores com parte fundamental da engrenagem, o roteiro inverte um pouco a maneira que estamos habituados a ver os seres que transitam pela história como elfos, anões, homens, feiticeiras e, lógico, os Orks. Na trama que envolve magia e várias maquinações sombrias temos uma guerra entre os povos com aliados improváveis, enquanto devastação e morte se apresentam em demasia. Sem muitas concessões ou salvamentos improváveis, “Orks” apresenta vários méritos e alguma novidade dentro de um estilo tão explorado.

Nota: 7,0



Eis que finalmente o projeto Graphic MSP trouxe para as bancas um dos personagens mais queridos do cardápio do Mauricio de Sousa: o Horácio. O pequeno, vegetariano e bondoso Tiranossauro que despeja reflexões enquanto sobrevive em meio a um mundo onde os fortes mandam, talvez seja a criação mais interessante do autor. Seu xodó, foi deixado de propósito para mais adiante até achar o nome ideal. Isso veio através do santista Fabio Coala. O quadrinhista já expunha em seus trabalhos algo parecido com a pegada do personagem e casou perfeitamente. “Horácio – Mãe” é sobre se sentir sozinho, sobre obstinação, sobre amizade, sobre superar obstáculos. Enquanto procura a mãe que nunca conheceu o miúdo dinossauro precisa ter mais coragem que nunca para encarar todas as descobertas a que é apresentado, enquanto joga aqui e ali alguma pitada sobre a vida.


Nota: 7,0



John Lewis foi uma das principais figuras no processo de conquista dos direitos civis para os negros nos EUA e se manteve como um farol de competência na luta pela igualdade e justiça dos anos 60 até hoje. Com Andrew Yadin e o quadrinhista Nate Powell concebeu “A Marcha”, primeira série em quadrinhos a vencer o prestigiado National Book Award.  O volume inicial saiu esse ano pela editora Nemo com 128 páginas e tradução do Érico Assis. Começando em 20 de janeiro de 2009 na posse de Barack Obama, o roteiro volta no tempo para contar o crescimento do congressista até chegar ao início da briga (pacífica ou não) contra um sistema estúpido e imoral de segregação racial. Uma história poderosa, mais que necessária para os dias tão sombrios em que vivemos e que serve como fonte de inspiração.

Site oficial do John Lewis: https://johnlewis.house.gov

Nota: 9,5