“Talco de
Vidro”, “Hinário Nacional” e principalmente “Tungstênio” (que virou filme esse
ano) fazem do carioca nascido em Niterói Marcelo Quintanilha, um dos quadrinistas
mais relevantes e importantes do cenário nacional com obras publicadas em
vários países com sucesso. Mesmo morando em Barcelona na Espanha desde 2002
continua versando como poucos sobre as coisas da vida nacional, principalmente
do estado natal. “Todos Os Santos”,
publicação da editora Veneta desse ano com 114 páginas em capa dura e zeloso
trabalho editorial é um compêndio bem amplo das coisas que o autor já fez desde
que começou em 1988 desenhando histórias de terror e artes marciais para a
Bloch Editores. Temos alguns textos, partes de entrevistas, páginas dos
primeiros trabalhos, ilustrações em revistas e tiras publicadas no Estado de
São Paulo, onde já mostrava a toada que estaria presente nas suas obras mais
conhecidas e respeitadas. Além disso, apresenta impressa pela primeira vez a
história “Acomodados!! Acomodados!!” que ganhou a primeira Bienal Internacional
de Quadrinhos do Rio de Janeiro lá no já longínquo ano de 1991. “Todos Os Santos” é um preciso atestado
de versatilidade e construção de uma carreira, contudo se faz interessante somente
para aqueles que já conhecem o autor e querem ir mais além.
Nota: 7,0
Se fosse só por “Black Hole”,
Charles Burns já teria um merecido lugar no panteão dos grandes autores de
quadrinhos de todos os tempos. Mas o norte-americano não se contentou com isso
e criou outro trabalho intenso e perturbador em “Sem Volta” que ganha edição nacional pelo selo Quadrinhos na Cia.
da Companhia das Letras, com 176 páginas, formato grande (20.8x27cm) e tradução
do quadrinista Diego Gerlach. A edição nacional compila as três edições
lançadas lá fora em 2010 (X´ed Out),
2012 (The Hive) e 2014 (Sugar Skul) que trazem o jovem Doug como
confuso e imperfeito personagem central. Ambientada na segunda metade dos anos
70 com a efervescência do punk em segundo plano, Charles Burns traz uma
história sobre amadurecimento, primeiros amores, inquietude, decisões erradas e
muita culpa. Como de costume embala os temas usando bichos e criaturas estranhas,
delírios e devaneios complexos e situações incomuns. O protagonista inicia a
obra jogado em uma cama, com curativos na cabeça e sem se lembrar de quase nada
dos motivos de estar ali. Na busca de lembrar e entender o que aconteceu, temos
um desfile do que o autor sabe fazer de melhor (dessa vez em cores) e de onde o
leitor nunca sairá ileso.
Nota: 8,5
Leia um trecho gratuitamente,
aqui.
Mica Segal é uma israelense que
decide acompanhar a avó em uma viagem para a Polônia que tem como objetivo principal
recuperar um imóvel perdido durante a segunda guerra mundial, quando as tropas
de Hitler tomavam conta do país. A avó chamada Regina conseguiu fugir e se
salvar, enquanto pessoas da família e conhecidos sucumbiram ao terror imposto
pelo nazismo. No contato não muito fácil com a avó, Mica descobre aos poucos
que a questão do imóvel pode ser apenas um falso pretexto para essa viagem
encoberta por mais segredos que ela ousaria pensar. “A Propriedade” da quadrinista israelense Rutu Modan ganhou o
prêmio Eisner de melhor novela gráfica original em 2014, tendo edição nacional
no ano seguinte pela editora WMF Martins Fontes com tradução de Marcelo Brandão
Cipolla e 224 páginas. A autora de “Exit Wounds” (ainda inédito no Brasil) que
também lhe rendeu um Eisner, elabora uma história que consegue não somente ser
sobre família, como também envolve um amor antigo e a ambição desmesurada das
pessoas, sem esquecer de algum humor para aliviar o quadro geral pesado e
destrutivo em que é construído. Uma bela obra com ótimo uso das cores e
carregada de sutilezas e emoções.
Nota: 9,0
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