Paulo Coelho chegou ao vigésimo livro. Chama-se “Hippie” o novo rebento de 288 páginas
e lançamento pela Paralela, selo da Companhia das Letras. Dois anos depois de
lançar “A Espiã” ele agora mergulha nas lembranças da juventude no final dos
anos 60 e início dos anos 70 onde tateava ainda sem muita convicção o seu futuro.
Extremamente autobiográfico, o livro foi escrito em terceira pessoa, permitindo
assim que os demais personagens tivessem maior destaque. Paulo é um jovem que
viaja junto com a namorada mais velha pela América do Sul, até que uma prisão
na cidade de Ponta Grossa no Paraná em 1968 em plena ditadura faz com que esse
amor termine. Do outro lado já encontramos Paulo em 1970 chegando a Amsterdã com
algumas expectativas na mochila e a cabeça aberta para novas experiências.
Quando Karla, uma holandesa forte e bela surge no seu caminho, embarcam em um
ônibus intitulado Magic Bus com destino ao Nepal. Nessa aventura pelo desconhecido temos um romance de
descoberta, de pessoas querendo achar o lugar no mundo. Ao deixar um pouco de
lado toda a espiritualidade e os chavões que tanto gosta de usar (ainda que eles apareçam em boa dose), Paulo Coelho faz em “Hippie” um de seus melhores trabalhos em muito tempo.
Nota: 6,0
Leia um trecho aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/88283.pdf
O que fazer quando o emprego vai embora, a vida já não
oferece grandes atrativos no pequeno apartamento em que se mora sozinho e para
completar a saúde já não anda lá essas coisas e requer privações e cuidados
mil? Bom, para o narrador de “Os
Beneditinos” a saída é reunir os velhos amigos do tempo de colégio primário
e propor a eles uma última aventura em Londres para disputar o primeiro
campeonato de Walking Football, um
jogo feito para veteranos onde não é permitido correr, somente andar com a bola
nos pés. Nas 152 páginas do romance publicado recentemente pelo selo
Alfaguara da Companhia das Letras, o jornalista carioca José Trajano finaliza
uma espécie de trilogia involuntária composta antes por “Procurando Mônica” de
2014 e “Tijucamérica” de 2015. Assim como eles, “Os Beneditinos” carrega em si vários pontos autobiográficos de um
autor que durante muito tempo foi odiado e amado nas mesas de debate esportivo
e no comando nacional de um grande canal de esportes. De opinião forte, às
vezes até mesmo irascível, mas inteligente e bem-humorado, Trajano versa belamente
no novo trabalho sobre o envelhecer e as boas lembranças que guardamos dentro
do peito, ao mesmo tempo em que cutuca levemente os tempos sombrios em que
vivemos.
Nota: 7,0
Leia um trecho aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/28000494.pdf
O escritor uruguaio Eduardo Galeano (de “As Veias Abertas da
América Latina”) sempre foi um apaixonado por futebol. Falecido em 2015
costumava pregar um aviso na porta de casa em época de Copa do Mundo que dizia “cerrado por fútbol”. Nada mais
direto e claro. A paixão era tanta que escreveu “Futebol ao Sol e à Sombra”
onde se debruçava magistralmente sobre o esporte fazendo as correlações que lhe
eram possíveis. Em 2018 a L&PM Editores publica aqui no Brasil nas vésperas
de mais uma Copa do Mundo, “Fechado Por
Motivo de Futebol”, coletânea com textos que não entraram no livro anterior
e saíram em jornais, revistas e livros, compilando até mesmo coisas inéditas. O
escritor que como tantos outros queria ser jogador de futebol, mas como ele mesmo
afirmava só conseguia fazer isso dignamente nos sonhos, usou as mãos e a mente
para produzir a arte que os pés não permitiram. Em um livro extremamente
aprazível, Galeano conta saborosos casos sempre margeando os mesmos com
política e história, o que faz com que pequenos textos de uma página apenas,
por exemplo, se tornem ainda mais. Passando da seleção uruguaia pelos craques
que admirava como Pelé, Maradona e Zidane até desconhecidos brilhantes, “Fechado Por Motivo de Futebol” é
leitura mais que recomendável.
Nota: 8,5
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