“O Circo Mecânico Tresaulti” (A
Tale Of The Circus Tresaulti, no original) apresenta um mundo
pós-apocalíptico sem definição de tempo ou de lugar, onde a única realidade
sabida é que guerras e mais guerras devastaram quase tudo e a humanidade
regrediu anos e anos sem direito a tecnologia que experimentou em outrora e se
esconde ou em pequenas vilas ou em cidades muradas e protegidas a todo custo. A
obra da escritora Genevieve Valentine foi lançada em 2011 e logo com esse primeiro
romance já ganhou indicação ao prêmio Nebula relativo a livros de ficção científica
e fantasia. Teve edição aqui pela Darkside Books e em 2016 saiu em outra
versão, mais luxuosa e com capa dura (que a editora chama de “Limited Edition”)
com ilustrações do brasileiro Wesley Rodrigues que servem para dar amplitude a
obra, deixando que um pouco da imaginação se concretize mesmo sem revelar nada
da trama. O primeiro terço do livro é um pouco arrastado enquanto a autora
situa os fatos e os personagens e a maneira que conta a história sem amarrar
tanto as coisas, acaba prejudicando o leitor mais preguiçoso. Contudo, a partir
disso, a trama flui muito bem. Mesmo que se imagine onde tudo vai chegar, a
maneira com que os personagens são construídos com seus dramas pessoais e
histórias passadas, faz com que isso seja relevado. O circo comandado por Boss
roda o mundo para conferir um pouco de esperança, alegria e paz em cenários tão
tristes, ao mesmo tempo em que recupera pessoas prestes a morrer ou fugindo de
algo para dar uma nova chance, uma nova vida, construída através do uso de
engrenagens e ferramentas. Com as personagens femininas, mulheres fortes e
decididas, dando o tom do livro, Genevieve Valentine cria um trabalho repleto
de bons momentos.
Nota: 7,0
Morador de um subúrbio que simplesmente
teve o nome apagado em Los Angeles, Eu (sim, esse é o nome do protagonista)
começa a narrar os fatos de “O Vendido”
direto da Suprema Corte dos Estados Unidos onde está para ser julgado por,
entre outras coisas, reinstaurar (ou pelo menos tentar) a segregação racial em
Dickens, o referido subúrbio. De início avassalador, com prosa rápida e mordaz,
cheio de referências das mais diferentes áreas, exibe em igual escala acidez e bom
humor. Confronta o leitor constantemente com explanações sobre raça e identidade
e derruba sem medo o fino manto que cobre a sociedade americana (e tantas
outras) no que se refere a um racismo permanente e nem tão velado assim. Eu,
teve uma formação singular, para dizer o mínimo. Durante a infância não
frequentou escolas, pois era a parte principal dos estudos e experimentos do
pai, um sociólogo cheio de ideias bem incomuns. Após o assassinato do pai “por
engano” pela polícia, começa a cuidar da fazenda da família investindo em
frutas de sabor único, como também em novas espécies de maconha. Se junta a
Hominy Jenkis, o mais famoso morador da localidade por ser o último astro vivo
da série “Os Batutinhas” (mais aqui: https://goo.gl/4LnJn8) e com ele
embarca no inusitado projeto que o levou até a Suprema Corte. “O Vendido” (The Sellout, no original) ganhou o prestigiado prêmio britânico Man
Booker Prize de 2016 e seu autor, Paul Beatty, participou da FLIP de 2017 aqui no
Brasil. Com 320 páginas, tradução de Rogério Galindo e publicação no ano
passado pela Todavia Livros é o tipo de obra que ao chocar e cutucar, enquanto
diverte sabiamente, se coloca como extremamente necessária para o tempo em que
habita.
Nota: 9,5
Mais sobre o livro no site da
editora: http://www.todavialivros.com.br/livros/o-vendido#
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