Kazuo Ishiguro nasceu no Japão,
mas ainda criança se mudou para a Inglaterra com a família. Lá virou escritor e
produziu obras como “Os Vestígios do Dia”, “Não Me Abandone Jamais” e “O
Gigante Enterrado”, vendendo alguns milhões de exemplares pelo mundo com eles.
Em 2017 ganhou o prêmio Nobel de literatura o que levou a Companhia das Letras
republicá-lo no decorrer do ano passado por aqui. Uma dessas republicações foi “Noturnos – Histórias de Música e Anoitecer”
(Nocturnes – Five Stories of Music and
Nightfall), lançado originalmente em 2009. O livro é um “Ishiguro menor”,
digamos assim, composto por cinco contos apresentando a música como condutora
seja por um praticante em início de carreira, por um artista calejado fazendo o
impensável para obter sucesso ou um amante de velhas canções americanas perdido
pela vida e jogado no meio de uma complicada situação. Com tradução de Fernanda
Abreu e 216 páginas essa nova edição (a editora já havia lançado aqui em 2010)
dá chance para novos leitores conhecerem um trabalho que se não carrega o tom
sublime das obras mais famosas do autor, apresenta uma prosa repleta de
melancolia que por mais triste que possa ser ainda sim carrega alguma beleza
embutida. Em todos os contos temos a vida passando e deixando feridas abertas,
algumas que já doeram tanto que hoje já nem se sente mais nada, o tempo cuidou
de amortecer tudo. Dos cinco contos os maiores destaques ficam com “Crooner” e “Celistas”
onde essa melancolia assume tons de acentuada desilusão e que a música retrata
isso de maneira tão delicada. “Noturnos”
serve também para que novos leitores se aproximem mais da obra de Kazuo
Ishiguro, buscando ir além. É um livro para ler com uma bebida na mão e um
disco antigo tocando na vitrola suavemente.
Nota: 7,5
Em tempos de um futebol tão
globalizado (e gourmetizado) onde é cada vez mais frequente um adolescente encher
a boca afirmando ser torcedor do Real Madrid, do Barcelona, do PSG ou de quem
quer seja no seleto grupo dos biliardários times do esporte, ainda assim existem
aqueles que optam por um time menor, de tradição, que hoje está lá pela segunda
ou terceira divisão e que vão para o estádio ver os jogos que (quase) ninguém
mais quer ver. Isso acontece tanto em Madrid, Barcelona e Paris, quanto em Belém,
São Paulo, Rio de Janeiro ou outra cidade do país. O futebol é algo
inexplicável e mesmo com o clichê gasto que já cansamos de ouvir realmente não
é só futebol. O jornalista gaúcho Leandro Vignoli que usa o Twitter para de
modo bem humorado ir contra os superlativos e excessos desse futebol tão
alardeado do velho continente se lançou no final de 2017 em uma campanha de financiamento coletivo
para publicar um livro que narra 50 dias de viagem onde visitou 13 clubes em 10
cidades diferentes da Europa. No cardápio somente clubes que habitam a mesma
cidade ou localidade de gigantes do mundo da bola. “À Sombra de Gigantes” tem 224 páginas e já nasce com status de
leitura obrigatória para quem gosta de futebol, pois além de falar muito disso
com o jeito de corneta do autor, é uma viagem também pela história e costumes
de cada local. Ao assistir o Rayo Vallecano em Madrid pela segunda divisão da
La Liga ou o St. Pauli pela segunda divisão da Bundesliga apresenta um passeio
extremamente prazeroso em estádios históricos, torcidas apaixonadas e um
futebol que insiste em sobreviver mesmo após cada venda de zagueiro mais ou menos
por milhões e milhões de libras. “À
Sombra de Gigantes” é um libelo de resistência.
Nota: 8,5
Twitter do autor: https://twitter.com/cornetaeuropa
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