A produção nacional de quadrinhos
está cada vez mais vasta, abrangendo diversas facetas da nona arte. “Gatilho” da dupla Carlos Estefan e
Pedro Mauro é mais um bom exemplo disso. De produção independente, com 64
páginas e formato grande (21 x 28cm) teve lançamento na CCXP desse ano em São
Paulo com sucesso. A graphic novel apresenta um faroeste clássico, inspirado no
trabalho do cineasta italiano Sergio Leone e demais filmes do “spaghetti
western” dos anos 60 e 70. O roteiro de Carlos Estefan (do grupo Mauricio de
Sousa) é bem elaborado, indo e voltando para revelar os meandros no meio da
dor, vingança e redenção, honrando assim o gênero com o que lhe é diretamente
inerente. Os personagens são moldados por fatos do passado e isso além de ficar
entalado nas suas gargantas, servirá para desencadear ações vindouras sem
direito a perdão. A arte em preto e branco do experiente Pedro Mauro de
trabalhos na editora italiana Bonelli (casa do Tex) é uma aula de como se fazer
algo dentro dessa seara. Com extras que além de explicar as inspirações para a
obra também contam um pouco do processo de produção, “Gatilho” é uma obra mais do que bem-vinda.
Nota: 7,0
Como seria um mundo onde o vilão
derrotou todos os heróis e assumiu o poder com mão de ferro e justiça baseada
apenas nas próprias convicções? Esse é o mote de “Império” de Mark Waid (Flash, Capitão América) e Barry Kitson
(L.E.G.I.O.N), que conta a história de um mundo onde o mal venceu e o impiedoso
Golgoth controla tudo e (quase) todos. A história era uma ideia antiga de Mark
Waid, porém só veio a ser concebida e publicada em meados de 2000 sendo
finalizada em 2004. Passou por diversas casas (Gorilla, Image, DC) e hoje os direitos
são da IDW Publishing. A Mythos Books traz pela primeira vez ao Brasil em 2017
esse trabalho em um encadernado de luxo com 204 páginas. Um dos nomes mais
importantes dos quadrinhos mundiais, tanto pelo que fez em grandes editoras
quanto nos trabalhos autorais, Mark Waid recheou “Império” com segredos, conspirações por trás das portas, traições
inesperadas, desejos sombrios e resoluções surpreendentes. O foco existente entre
a manutenção do poder por Golgoth e a briga da esforçada resistência para
derrubá-lo é apenas o cenário maior, a desculpa que Mark Waid precisa (com a
habitual competência de Barry Kitson na arte) para explorar caminhos mais
tortuosos.
Nota: 7,5
Marcelo D´Salete é quadrinhista,
graduado em artes plásticas e mestre em história da arte. Já produziu ótimas
obras como “Encruzilhada” de 2011 e “Cumbe” de 2014, mas que não se comparam ao
mais recente trabalho chamado “Angola
Janga – Uma História de Palmares”. Elaborado em mais de 11 anos de pesquisa
foi publicado em 2017 pela editora Veneta com 432 páginas tendo roteiro e arte em
preto e branco do autor. Angola Janga significa na língua banto quimbundo “Pequena
Angola” e era assim que os escravos se referiam a Palmares quando fugiam dos
absurdos a que estavam submetidos nos engenhos. D´Salete mergulha no Brasil
colonial do século XVII, onde a cana-de-açúcar era um dos mais importantes produtos
explorados e que para tanto utilizava mão de obra escrava oriunda da África em
navios negreiros que durante todo o período em que vigorou a escravidão trouxeram
milhões de negros e negras como mercadorias. O autor constrói um épico forte e
poderoso para contar a história de alguns desses nomes que se levantaram e
brigaram contra uma opressão devastadora; nomes como Zumbi. Cheio de extras
como glossário, textos e mapas da época, “Angola
Janga” é provavelmente a obra mais importante já feita nos quadrinhos
nacionais.
Site do autor: https://www.dsalete.art.br
Nota: 10,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário