É sempre louvável quando uma
banda/artista sai em busca de novos horizontes musicais, tecendo sonoridades
diferentes daquelas que a consagraram, mesmo que isso gere rebuliço entre os
fãs de primeira ordem. A mesmice é algo realmente devastador dentro desse
universo, apesar da segurança garantida na maioria das vezes. Todavia, não
necessariamente essas guinadas resultam em trabalhos de boa qualidade. Admirar
a coragem de mudar é uma coisa, apreciar o trabalho já é outra bem diferente.
Foi o que aconteceu com o Arcade
Fire desde “Reflektor” de 2013. Depois de uma trinca de discos iniciais que
levaram a banda a fenômeno indie e mais além, fechando festivais no mundo todo,
o fraco álbum de 2013 já apresentava outra postura, mais oitentista, dançante,
mais pop e brilhante, o que não funcionou muito bem. No mais recente trabalho
desse ano, “Everything Now”, essas direções avançaram mais incluindo uma pegada
disco e mais dançante ainda. O que também não rendeu bons frutos.
E foi com a turnê desse álbum intitulada
“Infinite Content” que o grupo desembarcou no Brasil para shows no Rio de Janeiro
e em São Paulo. A turnê sofreu bastante até agora pelo tamanho que banda e
produtores imaginaram. O Arcade Fire que na época do “The Suburbs” de 2010
realmente era uma das maiores bandas do planeta, diminuiu a partir do momento
que os discos foram ficando ruins. Essa é a relação direta, diga-se. Pela
pegada mais dançante, imaginou-se que um novo público viria e shows maiores
esgotariam. Ledo engano.
São Paulo foi um desses casos. O
show do último sábado (9) antes previsto para o espaço tradicional do sambódromo
no Anhembi que cabe entre 25 mil e 30 mil pessoas foi redirecionado para outra área
que comporta umas 10 mil (e que devia ter um pouco menos). E isso acabou sendo
um acerto, pois ficou do tamanho justo e proporcionou ao público que estava
alocado na pista normal ficar na arquibancada em posição muito melhor, onde a
participação no show teve ótimos reflexos.
O show de abertura dos
colombianos do Bomba Estéreo calcado na fase mais recente foi além de
desanimador, bastante constrangedor e sofrível. Pontualmente às 21:30hs começou
a papagaiada de entrada no Arcade Fire no palco, com uma apresentação como se
fosse de boxe e o palco com cordas de ringue. Engraçado, divertido, mas
percebe-se o tanto que a produção viajou na maionese no atual momento da banda.
Win Butler (que já havia passeado lá por baixo antes) e trupe subiram com a
missão de convencer o público da validade das suas escolhas.
Com muita vontade, muita mesmo, e
total entrega no palco, o Arcade Fire começou com “Everything Now”, provavelmente
a única canção que se salve no novo disco junto com “We Don’t Deserte Love” que
apareceu no bis. Depois engatou para catarse geral “Rebellion (Lies)”. Quando
veio a dobradinha “Here Comes The Night Time” e “Haiti”, a bateria da escola de
samba Acadêmicos do Tatuapé subiu para engrossar a batucada e depois de um
começo meio desconexo até que rendeu um bom resultado, ainda que muita gente
possa ter entendido como desnecessário.
Além da postura energizante no
palco e do cuidado com os fãs, tentando apresentar a maior simplicidade
possível, a banda ainda se envolve em causas válidas constantemente. No show de
São Paulo, por exemplo, doou parte do cachê para um projeto social, assim como
já tinha feito no Rio. Intercalando músicas novas bem sofríveis como “Chemistry”,
“Peter Pan” e “Eletric Blue”, com algumas das suas grandes canções como “Neighborhood
#1 (Tunnels)”, “The Suburbs” e “Ready to Start”, o show se sustentava
interessante, principalmente pelo público que se envolvia bastante mesmo que
tocasse um tango no palco.
Porém, no terço final do show
tudo caiu acentuadamente, em uma confusão insípida de canções como “Reflektor”,
“Afterlife”, “We Exist”, “Creature Comfort” e até mesmo “Neighborhood #3 (Power
Out)”. Minutos pareceram horas. O bis veio com a bonita e já citada “We Don´t
Desert Love” com Win Butler novamente no chão com a galera, mais uma vinheta do
“Everything Now” e o final avassalador com “Wake Up” que fez até mesmo esquecer
temporariamente as partes ruins.
Depois de 2 horas e meia de show
(um pouquinho mais) entre as conclusões que podemos chegar a mais importante
talvez seja que o Arcade Fire ainda é uma grande banda no palco, capaz de
envolver o público e promover momentos emocionantes. Até mesmo as canções fracas
ficam menos piores ao vivo (ainda que não se tornem boas) e não há o que
reclamar da postura e envolvimento da banda. Apesar dos pesares, o show de São
Paulo mostra que não se deve desistir deles e que ainda é permitido acreditar.
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