terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Arcade Fire - São Paulo - Arena Anhembi - 09.12.2017



É sempre louvável quando uma banda/artista sai em busca de novos horizontes musicais, tecendo sonoridades diferentes daquelas que a consagraram, mesmo que isso gere rebuliço entre os fãs de primeira ordem. A mesmice é algo realmente devastador dentro desse universo, apesar da segurança garantida na maioria das vezes. Todavia, não necessariamente essas guinadas resultam em trabalhos de boa qualidade. Admirar a coragem de mudar é uma coisa, apreciar o trabalho já é outra bem diferente.

Foi o que aconteceu com o Arcade Fire desde “Reflektor” de 2013. Depois de uma trinca de discos iniciais que levaram a banda a fenômeno indie e mais além, fechando festivais no mundo todo, o fraco álbum de 2013 já apresentava outra postura, mais oitentista, dançante, mais pop e brilhante, o que não funcionou muito bem. No mais recente trabalho desse ano, “Everything Now”, essas direções avançaram mais incluindo uma pegada disco e mais dançante ainda. O que também não rendeu bons frutos.

E foi com a turnê desse álbum intitulada “Infinite Content” que o grupo desembarcou no Brasil para shows no Rio de Janeiro e em São Paulo. A turnê sofreu bastante até agora pelo tamanho que banda e produtores imaginaram. O Arcade Fire que na época do “The Suburbs” de 2010 realmente era uma das maiores bandas do planeta, diminuiu a partir do momento que os discos foram ficando ruins. Essa é a relação direta, diga-se. Pela pegada mais dançante, imaginou-se que um novo público viria e shows maiores esgotariam. Ledo engano.

São Paulo foi um desses casos. O show do último sábado (9) antes previsto para o espaço tradicional do sambódromo no Anhembi que cabe entre 25 mil e 30 mil pessoas foi redirecionado para outra área que comporta umas 10 mil (e que devia ter um pouco menos). E isso acabou sendo um acerto, pois ficou do tamanho justo e proporcionou ao público que estava alocado na pista normal ficar na arquibancada em posição muito melhor, onde a participação no show teve ótimos reflexos.

O show de abertura dos colombianos do Bomba Estéreo calcado na fase mais recente foi além de desanimador, bastante constrangedor e sofrível. Pontualmente às 21:30hs começou a papagaiada de entrada no Arcade Fire no palco, com uma apresentação como se fosse de boxe e o palco com cordas de ringue. Engraçado, divertido, mas percebe-se o tanto que a produção viajou na maionese no atual momento da banda. Win Butler (que já havia passeado lá por baixo antes) e trupe subiram com a missão de convencer o público da validade das suas escolhas.

Com muita vontade, muita mesmo, e total entrega no palco, o Arcade Fire começou com “Everything Now”, provavelmente a única canção que se salve no novo disco junto com “We Don’t Deserte Love” que apareceu no bis. Depois engatou para catarse geral “Rebellion (Lies)”. Quando veio a dobradinha “Here Comes The Night Time” e “Haiti”, a bateria da escola de samba Acadêmicos do Tatuapé subiu para engrossar a batucada e depois de um começo meio desconexo até que rendeu um bom resultado, ainda que muita gente possa ter entendido como desnecessário.

Além da postura energizante no palco e do cuidado com os fãs, tentando apresentar a maior simplicidade possível, a banda ainda se envolve em causas válidas constantemente. No show de São Paulo, por exemplo, doou parte do cachê para um projeto social, assim como já tinha feito no Rio. Intercalando músicas novas bem sofríveis como “Chemistry”, “Peter Pan” e “Eletric Blue”, com algumas das suas grandes canções como “Neighborhood #1 (Tunnels)”, “The Suburbs” e “Ready to Start”, o show se sustentava interessante, principalmente pelo público que se envolvia bastante mesmo que tocasse um tango no palco.

Porém, no terço final do show tudo caiu acentuadamente, em uma confusão insípida de canções como “Reflektor”, “Afterlife”, “We Exist”, “Creature Comfort” e até mesmo “Neighborhood #3 (Power Out)”. Minutos pareceram horas. O bis veio com a bonita e já citada “We Don´t Desert Love” com Win Butler novamente no chão com a galera, mais uma vinheta do “Everything Now” e o final avassalador com “Wake Up” que fez até mesmo esquecer temporariamente as partes ruins.

Depois de 2 horas e meia de show (um pouquinho mais) entre as conclusões que podemos chegar a mais importante talvez seja que o Arcade Fire ainda é uma grande banda no palco, capaz de envolver o público e promover momentos emocionantes. Até mesmo as canções fracas ficam menos piores ao vivo (ainda que não se tornem boas) e não há o que reclamar da postura e envolvimento da banda. Apesar dos pesares, o show de São Paulo mostra que não se deve desistir deles e que ainda é permitido acreditar.

P.S: Todas as fotos são de Celso Tavares do site G1. Mais aqui: https://goo.gl/V5Ehd6 


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