A diversão é (ou pelo menos deveria
ser) parte fundamental da vida. Diversão simples, até mesmo besta, sem maiores
pretensões, que faz um bem danado nem que seja por um curto espaço de tempo. Alivia
um pouco o espírito, liberta alguns sorrisos no rosto, deixa a costa um pouco
menos pesada para a rotina do dia seguinte. E foi essa diversão que o Green Day
entregou para mais de 25 mil pessoas no último dia 3 de novembro em São Paulo.
A última vez que a banda havia
tocado no país foi em 2010, ainda carregando o status de grande grupo que veio
depois do álbum “American Idiot” de 2004 que vendeu trocentas milhões de cópias
e os elevou ao patamar de tocar em estádios cada vez maiores. Cenário diferente
de agora, culpa de alguns discos fracos e sem muita vibração como a trilogia formada
por “¡Uno!”, “¡Dos!” e “¡Tré!” lançada em 2012.
Mesmo sem causar o mesmo alarde e
comoção de outrora, o Green Day absorveu todas as artimanhas de como fazer um
show voltado para a felicidade do seu público e se mantêm relevante no cenário,
apesar dos descuidos da carreira. A turnê que veio em decorrência do álbum “Revolution
Radio” do ano passado - onde a banda volta a flertar com os bons momentos em
pelo menos metade das faixas - tem superprodução, com direito a fogos,
explosões e papel picado no ar.
A abertura da apresentação na
Arena Anhembi (o sambódromo paulista) ficou por conta dos californianos The
Interrupters que em meia hora mostraram vigor e simpatia com seu ska punk bem
ajustado em canções como “By My Side”. Mas foi quando “Bohemian Rapsody” do
Queen começou a tocar nos alto falantes, sucedida por “Blitzkrieg Bop” do
Ramones, que a plateia começou a se agitar. O já conhecido coelho rosa maluco
incitava gritos e risos fazendo das suas. Estava chegando a hora.
Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt
e Tré Cool acompanhados de outros três músicos começaram com a porrada de “Know
Your Enemy” do disco “21st Century Breakdown” de 2009, faixa que há muito serve
para essa função. Na sequência gastou sabiamente logo duas canções do disco
mais recente, “Bang Bang” e “Revolution Radio”, para engatar uma sequência do “American
Idiot” formada por “Holiday”, “Letterbomb” e “Boulevard Of Broken Dreams”,
cantada em uníssono.
Com o público já devidamente na
mão entre gracejos, gritos e correria pelo palco, a banda ainda soltou “Longview”
do multipremiado “Dookie” de 1994 e mais “Youngblood”, uma das boas faixas do
último trabalho, antes de engatar em fila um grupo de músicas ao mesmo tempo
surpreendente e devastador. Billie Joe dedicou “2000 Ligth Years Away” do longínquo
“Kerplunk” de 1992 aos fãs “old school” e de lá partiu para fazer a alegria
dessa turma que vibrando se jogava de modo desajeitado e destreinado em rodas de
pogo.
Foi um show dentro do show, por
assim dizer. Teve “Armatage Shanks” do “Insomniac” de 1995, “J.A.R” e “F.O.D”
do já citado “Dookie”, “Scattered” e “Nice Guys Finish Least” do “Nimrod” de
1997 e “Waiting” do “Warning” de 2000. Outras duas vieram ainda do “Dookie”: “When
I Come Around” e “Welcome To Paradise”. Ao final, respirar era difícil e o suor
escorria feliz pelo corpo. Antes do primeiro bis teve, entre outras, o hitzaço “Basket
Case” (ainda que “She” tenha ficado só na vontade).
O primeiro bis teve duas faixas
do “American Idiot”: a título e “Jesus Of Suburbia” em grande versão. E na
volta para encerrar com o segundo bis Billie Joe veio só ao violão, para
acalmar alguns ânimos ainda exaltados, e tocou “21 Guns” do “21st Century
Breakdown” e mais outro grande hit, “Good Riddance (Time of Your Life)” do “Nimrod”.
Assim, com duas horas e meia de duração mais ou menos, acabava outra passagem
da banda por terras paulistas.
Em tempos onde tudo é histórico,
e todos mitam a cada momento, o Green Day fez em São Paulo a coisa mais simples
e funcional que uma banda de rock pode fazer: divertiu. Sim, jogam muito com o
público - talvez em demasia até - com subidas ao palco, microfones direcionados
para cantar passagens, presepadas em excesso como no medley que reuniu de The
Doors a Beatles, mas honestamente: que se dane. Faz parte do jogo e eles sabem
disso. Precisa ser muito rabugento para no mínimo não soltar uns sorrisos
nessas horas. E se quiser ir ao banheiro ou comprar uma cerveja essa é a hora.
No meio da apresentação ainda
teve tempo para Billie Joe criticar o famigerado presidente americano Donald
Trump, abraçar uma bandeira LGBT em vários momentos, falar contra a perturbação
de saco de celulares e fotos: “não precisamos de Facebook”, “viva o presente”.
Tempo para mostrar a verve crítica que também é parte integrante da banda,
enquanto vez ou outra afirmava: “ainda estamos vivos”.
Sim, estão vivos e bem vivos,
para alegria dos fãs das mais diversas idades que o Anhembi abrigou em uma
noite pra lá de bacana de sexta-feira.
P.S: Lado negativo como sempre e
sem mudanças é o perrengue que se passa nas saídas de shows que terminam depois
que o metrô fecha. Além de desrespeito ao público mostra a incompetência de
gestão atrás de gestão que não consegue solucionar o problema para grandes
eventos. Ridículo.
As fotos são de Marcelo Brandt do site G1. Mais aqui: https://goo.gl/AUXkMn
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