Ta-Nehisi Coates é uma das vozes
negras mais fortes nos EUA atualmente. Autor do ótimo livro “Entre o Mundo e
Eu” (lançado aqui no ano passado), também é colaborador de diversos outros veículos. Aqui seus textos sempre vigorosos e emocionantes já saíram na
Revista Piauí. Completando 40 anos em 2017 foi o responsável por moldar a nova
fase do Pantera Negra na Marvel, próximo ao lançamento do filme do personagem
no cinema no início do ano que vem. Nada mais coerente e acertada que essa escolha.
Com arte de Brian Stelfreeze (Batman) e cores de Laura Martin (Planetary), Coates invadiu o mundo dos quadrinhos e aos poucos com a ajuda de Stelfreeze
foi aprendendo os macetes e melhorando a formatação das ideias. O resultado
inicial podemos ler agora. “Pantera
Negra - Uma Nação Sob Nossos Pés - Livro Um” reúne as edições 1 a 4 de “Black Panther” publicadas nos EUA entre
janeiro e setembro de 2016. A série convive com diversos atrasos e para
engrossar a publicação de 148 páginas a Panini inclui nesse encadernado a
primeira aparição do personagem na revista “Fantastic
Four 52” de julho de 1966 feita pela dupla Stan Lee e Jack Kirby. Nessas
novas aventuras temos o Pantera Negra inserido em uma Wakanda dividida. Seu
reinado é questionado devido as últimas invasões sofridas e picos de
descontentamento se transformam em sérias ameaças e revoltas prontas para
explodir. O cenário é desesperador. O país nunca se viu tão frágil e seu rei
não sabe que caminho tomar: o da força ou da diplomacia. No meio disso o autor
explora tradições e lendas africanas em contraponto a tecnologia inserindo
questões como orgulho, honra e dever na mistura. A arte de Stelfreeze é
extremamente funcional e faz com que a Wakanda imaginada por Coates seja real e
resulte num ótimo casamento entre personagem e equipe criativa.
Nota: 7,5
Mensur é o nome de uma luta de
espadas que teve origem na Europa do século XV, apareceu em universidades
durante o século XIX e que ainda conta com alguns praticantes espalhados pelo
mundo. Também é o nome do novo trabalho de Rafael Coutinho com 208 páginas,
formato grande (18,80 x 27cm), capa dura e lançamento pelo selo Quadrinhos na
Cia. da Companhia das Letras, assim como foi “Cachalote” de 2010, parceria sua
com o escritor Daniel Galera. Foi nessa época que o autor teve a ideia de “Mensur”, contudo um trabalho idealizado
para ter término em um ano levou sete vezes mais para ganhar edição final. O
personagem principal é Gringo, um cara na dele, que pula de trabalho em
trabalho e de cidade a cidade com frequência. Percebe-se logo que está fugindo
de algo, que em algum momento aconteceu um fato que o fez perder o rumo e o
gosto pela vida e atualmente ele se preocupa somente em existir e olhe lá. A
arte de Rafael Coutinho em preto e branco, às vezes com um proposital rabiscado
com linhas se esticando na página, experimentando o que pode, e outras vezes
com esmero e cuidado nas feições e pano de fundo, espelha justamente esses anseios
guardados, essa inaptidão, esses fantasmas escondidos no fundo da alma. Ao
voltar para Ouro Preto, cidade onde fez faculdade e participou da república onde
conheceu a prática desse perigoso duelo, as coisas tomam um inesperado caminho.
Na busca meio sem jeito do protagonista por qualquer tranquilidade que seja ou
até mesmo para se redimir de um passado não resolvido, o autor enxerta além do
gancho inusitado do mensur em si, coadjuvantes sujos e trambiqueiros, que contrastam
diretamente com a retidão moral do Gringo, ainda que essa tenha caminhos bem
próprios. “Mensur” é outra grande obra
de Rafael Coutinho e tranquilamente uma das melhores do ano.
Nota: 9,0
Leia um trecho gratuitamente no
site da editora, aqui.
Sobre “Cachalote”, veja o texto
no blog, aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário