sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Quadrinhos: “Pantera Negra - Uma Nação Sob Nossos Pés - Livro Um” e "Mensur"


Ta-Nehisi Coates é uma das vozes negras mais fortes nos EUA atualmente. Autor do ótimo livro “Entre o Mundo e Eu” (lançado aqui no ano passado), também é colaborador de diversos outros veículos. Aqui seus textos sempre vigorosos e emocionantes já saíram na Revista Piauí. Completando 40 anos em 2017 foi o responsável por moldar a nova fase do Pantera Negra na Marvel, próximo ao lançamento do filme do personagem no cinema no início do ano que vem. Nada mais coerente e acertada que essa escolha. Com arte de Brian Stelfreeze (Batman) e cores de Laura Martin (Planetary), Coates invadiu o mundo dos quadrinhos e aos poucos com a ajuda de Stelfreeze foi aprendendo os macetes e melhorando a formatação das ideias. O resultado inicial podemos ler agora. “Pantera Negra - Uma Nação Sob Nossos Pés - Livro Um” reúne as edições 1 a 4 de “Black Panther” publicadas nos EUA entre janeiro e setembro de 2016. A série convive com diversos atrasos e para engrossar a publicação de 148 páginas a Panini inclui nesse encadernado a primeira aparição do personagem na revista “Fantastic Four 52” de julho de 1966 feita pela dupla Stan Lee e Jack Kirby. Nessas novas aventuras temos o Pantera Negra inserido em uma Wakanda dividida. Seu reinado é questionado devido as últimas invasões sofridas e picos de descontentamento se transformam em sérias ameaças e revoltas prontas para explodir. O cenário é desesperador. O país nunca se viu tão frágil e seu rei não sabe que caminho tomar: o da força ou da diplomacia. No meio disso o autor explora tradições e lendas africanas em contraponto a tecnologia inserindo questões como orgulho, honra e dever na mistura. A arte de Stelfreeze é extremamente funcional e faz com que a Wakanda imaginada por Coates seja real e resulte num ótimo casamento entre personagem e equipe criativa.

Nota: 7,5


Mensur é o nome de uma luta de espadas que teve origem na Europa do século XV, apareceu em universidades durante o século XIX e que ainda conta com alguns praticantes espalhados pelo mundo. Também é o nome do novo trabalho de Rafael Coutinho com 208 páginas, formato grande (18,80 x 27cm), capa dura e lançamento pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras, assim como foi “Cachalote” de 2010, parceria sua com o escritor Daniel Galera. Foi nessa época que o autor teve a ideia de “Mensur”, contudo um trabalho idealizado para ter término em um ano levou sete vezes mais para ganhar edição final. O personagem principal é Gringo, um cara na dele, que pula de trabalho em trabalho e de cidade a cidade com frequência. Percebe-se logo que está fugindo de algo, que em algum momento aconteceu um fato que o fez perder o rumo e o gosto pela vida e atualmente ele se preocupa somente em existir e olhe lá. A arte de Rafael Coutinho em preto e branco, às vezes com um proposital rabiscado com linhas se esticando na página, experimentando o que pode, e outras vezes com esmero e cuidado nas feições e pano de fundo, espelha justamente esses anseios guardados, essa inaptidão, esses fantasmas escondidos no fundo da alma. Ao voltar para Ouro Preto, cidade onde fez faculdade e participou da república onde conheceu a prática desse perigoso duelo, as coisas tomam um inesperado caminho. Na busca meio sem jeito do protagonista por qualquer tranquilidade que seja ou até mesmo para se redimir de um passado não resolvido, o autor enxerta além do gancho inusitado do mensur em si, coadjuvantes sujos e trambiqueiros, que contrastam diretamente com a retidão moral do Gringo, ainda que essa tenha caminhos bem próprios. “Mensur” é outra grande obra de Rafael Coutinho e tranquilamente uma das melhores do ano.

Nota: 9,0

Leia um trecho gratuitamente no site da editora, aqui.

Sobre “Cachalote”, veja o texto no blog, aqui.



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