A primeira hora
do dia 19 agosto começava a acusar no relógio enquanto Lenine e sua banda se
esforçavam para engrenar um show que parecia não ir muito além, não por culpa
dos músicos ou do (apenas razoável) público presente, diga-se de passagem, mas algo
não fluía como devia ser, como se esperava. Isso desde o show da primeira
atração do I Festival Ambienta em Belém, a banda local Strobo.
O Festival trouxe
como mensagem a sustentabilidade e o cuidado com o meio-ambiente, em uma região
onde ações desse tipo são mais que necessárias. A parte musical era apenas mais
uma de tantas com palestras, bate-papos, exibição do filme “Amazônia Adentro” e
oficinas. Os shows em si aconteceram no espaço do Hangar: Centro de Convenções da
Amazônia, um excelente local acostumado a abrigar eventos de todo tipo.
Ambientado com
esse clima, das barraquinhas de vendas de souvenir a comida, passando por um
projeto digital, a atmosfera inicial era aprazível e gerava boas expectativas
sobre as apresentações que surgiriam. O Strobo subiu primeiro e, superados
alguns problemas técnicos iniciais, engataram o instrumental vigoroso unindo
diversos estilos com o eletrônico sempre pautado pelas guitarras de Léo
Chermont e a bateria pulsante de Arthur Kunz.
Mas já na
quarta música se percebia que algo não funcionaria direito. Explica-se: a organização
do evento fez uma área Vip/Premium (onde eu estava) por quase o dobro do preço
normal e essa área ocupava um lugar considerável na frente do palco, algo em
torno de uns 30% do espaço. No início o público ainda chegava e isso causava uma
sensação de desconforto não só a banda, mas aos presentes. Nem a subida da
Sammliz no palco para cantar algumas músicas do seu ótimo disco do ano passado
como “Oya” diminuiu isso.
Na sequência
veio Félix Robatto, ídolo local, ex-integrante de uma das bandas mais bacanudas
e interessantes já existentes na cidade (o La Pupuña) e idealizador do projeto
Lambateria, entre outras coisas. Logo começou a destilar sua mistura de pop,
brega, lambada, zouk, cumbia, guitarrada e o que mais aparecer pela frente, com
muito bom humor. É sempre um show para cima, no qual o público dança, se
entrega e contagia quem não está muito animado.
Mas novamente
a barreira entre os setores de público e o espaço vazio entre eles incomodava e
fazia a receita não funcionar como devia. Félix até tentou romper isso, descendo
e atravessando por eles, mas naquele momento não surtiu tanto efeito. Notava-se
ali que o público seria apenas mediano e que o tamanho da área Vip não seria
preenchido em sua totalidade, aliás, não chegaria nem perto disso.
Faltou a
organização do evento maleabilidade nessa hora. Acabar com área Vip, como
alguns falaram, talvez não fosse a melhor solução, pois o risco seria
considerável, já que quem pagou a mais poderia se sentir lesado e requerer a
diferença do valor ou algo mais ainda. Contudo, dava para diminuir essa área,
provavelmente. O material que a cercava podia ser reduzido trazendo mais público
para perto do artista, como deve ser. O erro de cálculo foi trágico, pode-se dizer.
Lenine trazia
a Belém pela primeira vez o show do ótimo disco “Carbono” de 2015 e começou com
canções desse como “Castanho” e “O Impossível Vem Pra Ficar” e depois ainda
apareceram outras como “Cupim de Ferro”, “Quede Água?” e “Simples Assim”. A
banda é ajustadíssima em palco e Lenine o domina com a experiência que traz
consigo ao escolher quando explorar alguns hits como “Hoje Eu Quero Sair Só” e “Paciência”,
por exemplo. Um show com execuções de nível, canções fortes, público conhecedor,
mas que não conseguiu ser tudo que podia ser por causa da falta de uma interação
mais forte.
Após o show do
Lenine, várias pessoas (do já mediano público) foram embora e não viram o show
da Karol Conká, onde acompanhada de um DJ soltou os versos de músicas como “Bate
a Poeira”, “Tombei” e “É o Poder”. No meio de cada frase, de cada rimada, de
cada alfinetada e afirmação, uma simpatia tremenda no sorriso. Uma simpatia e
força tão contagiantes que merecia ter sido vista por mais gente. Bela apresentação.
Na parte
musical o I Festival Ambienta prometeu muito mais que entregou. As causas e
objetivos são mais que justas, o espaço escolhido perfeito, a escalação dos artistas
interessante, contudo o preço pode ter afugentado uma parte do público (ainda
mais em agosto em uma cidade onde todos torram grana em julho) e a estipulação
de setores prejudicou completamente o andamento dos shows, a junção única entre
palco e espectador que é tão fundamental.
Uma pena.
P.S: Todas as
fotos são de Bruno Carachesti e retiradas da página do evento no Facebook: https://pt-br.facebook.com/festivalambienta
Nenhum comentário:
Postar um comentário