Dentro das
criações de Mauricio de Sousa, Chico Bento é a maior depois do quarteto de
ferro do autor formado por Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali (quando não
ofusca um ou outro desse time). Criado em 1963 já tinha sido utilizado em uma
edição do projeto Graphic MSP em 2013 pelo Gustavo Duarte em “Pavor Espaciar”.
O trabalho tinha boa arte, mas era insossa e insípida no contexto geral,
deixando bem a desejar. Agora em 2017 chegou a vez do paulista Orlandeli (de
“Grump”) dar nova chance ao personagem e dessa vez o resultado atingido é
completamente oposto. “Arvorada” tem
100 páginas, lançamento pela Panini Comics e apresenta o que Chico Bento tem de
melhor, toda sua caipirice e bom coração ali entre as traquinagens e a
inocência, a patetice e a molecagem, englobando tudo em uma história maior
sobre coisas que não podemos deixar para depois sobre o risco de passarem e não
termos mais, dos arrependimentos que podem surgir oriundos disso no futuro, de
aproveitar ao máximo as pessoas quando elas ainda estão ao seu lado. Orlandeli,
também nascido no interior, acerta em cheio ao contar essa história que
apresenta a Vó Dita como personagem fundamental, além de incluir no texto
outros nomes importantes como Zé Lelé e Rosinha. Quem nasceu e cresceu no
interior com avós presentes na caminhada é impossível não sentir um leve aperto
no coração na parte final. O visual de “Arvorada”
está entre o que de melhor o Graphic MSP exibiu até agora ao lado de “Louco - Fuga”.
A arte e a maneira encontrada por Orlandeli de relacionar as páginas não pode
ser chamada de menos que bela, sendo que ainda assim, isso deve ser pouco.
Leia, depois leia para o filho, sobrinho, o que for. E se der, aproveite e
compre ou empreste para o filho do vizinho ou do melhor amigo. Eles vão gostar.
Nota: 8,0
O americano Richard
Mcguire é daqueles que atuam com distinção em vários segmentos. É renomado
designer gráfico, além de autor de livros infantis, músico e roteirista. É
também quadrinhista, responsável por “Aqui”
(Here, no original), que a Companhia
das Letras lança esse ano no país pelo selo Quadrinhos na Cia. com 304 páginas
e tradução de Érico Assis. O projeto inicial foi concebido no final dos anos 80
após uma aula com o grande Art Spiegelman (autor de “Maus”), que levou a
história de 6 páginas para a revista independente Raw. Em 2014 a obra ganhou a
versão estendida que temos o prazer de conhecer agora. Em “Aqui” o autor utiliza o mesmo espaço físico durante um vasto
espaço de tempo que vai desde bilhões de anos A.C. até o futuro. Dentro desse
espaço representado na maior parte do tempo por uma sala, mas também pelo
terreno unicamente, esboços de uma mesma vida se repetem com outros
personagens, talvez com laços entre si ou não, mas que praticam atos semelhantes
como segurar um bebê, contar uma piada, dançar, brigar, discutir, brincar (de Twister,
por exemplo). Como lemos em uma das páginas: a vida é propensa a essas correspondências. “Aqui” pratica poesia em arte ao usar o tempo como protagonista, a
variação dos anos, as pessoas que passam pelo mesmo espaço e se vão e o tempo que
segue lá, implacável, imparável. E vai muito além, experimenta na forma de
contar sua história, aliás; história não, histórias. Sem ser linear em nenhum
momento força o leitor a voltar as páginas a cada momento para uma visão
melhor. Isso culmina em desenhos que mais parecem pinturas, com cores
refletindo cada período apresentado e fazendo com que a maioria das páginas se
retiradas, ampliadas e enquadradas sirvam de obra de arte em qualquer parede,
porque é isso que “Aqui” é: uma obra
de arte.
Nota: 10,0
Leia um trecho
gratuitamente no site da editora:
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