“O Divino” (The Divine,
no original) é uma graphic novel com roteiro do escritor e cineasta Boaz Lavie
e arte dos irmãos Asaf e Tomer Hanuka (de “Bipolar”, série vencedora do prêmio
Eisner). A ideia dos israelenses nasceu de uma famosa foto de Apichart
Weerawong tirada dos gêmeos Johnny e Luther Htoo ainda crianças (mais sobre
isso, aqui). Com capa dura, 160 páginas e lançamento nacional no final do ano
passado pelo selo Geektopia da editora Novo Século, a obra acontece na maior
parte em um imaginário e obscuro país asiático chamado Quanlom. Mark, um
ex-militar especialista em explosivos decide ir para essa nação em guerra
convencido pelo amigo Jason que já foi e presenciou algumas situações bem
incomuns. Na verdade, Mark vai exclusivamente pelo dinheiro já que sabe que vai
ser pai e está um pouco pressionado em casa por conta de uma promoção que não
vingou. Os dois viajam e com ajuda de militares locais fazem o serviço que
consiste em preparar uma montanha para explodir. Depois disso é que as coisas
saem do controle e crianças envolvidas na guerra - sendo que um deles possui
dons e poderes - transformam totalmente o caminho inicial. “O Divino” é um trabalho que fusiona realidade com atos de natureza
fantástica e conta como apoio para o roteiro apenas correto uma arte elaborada
com extrema dedicação, que produz efeitos sensacionais durante o decorrer da trama.
Indo mais além, resultado direto da foto que foi baseada, traz ponderações em
segundo plano sobre a utilização de crianças nas guerras espalhadas pelo mundo,
crianças que deixam de ser crianças ainda muito cedo e logo são inseridas em um
universo cruel e sanguinário do qual nunca mais vão conseguir retornar. Essa
nuance, além da arte dos irmãos Hanuka, fazem de “O Divino” uma leitura bem recomendável.
Nota: 7,0
Quem pelo menos uma vez não
pensou em voltar no tempo para ter uma atitude diferente ou impedir algum fato?
É difícil que esse desejo não tenha permeado pelo menos uma vez a mente e é
esse mote que o quadrinista Daniel Clowes usa em “Paciência” (Patience, no
original). O autor é um dos nomes mais respeitados do mercado alternativo dos
EUA e com esse trabalho quebra anos de jejum sem lançar nada. Nessa “viagem
cósmica através do espaço-tempo rumo ao infinito primordial do amor eterno”
(como diz a espécie de subtítulo), somos apresentados a Jack e sua esposa, que
empresta o nome a graphic novel. Os dois são apaixonados, duas almas incomuns
que acharam um no outro o suporte para tocar a vida. Aqui o autor traz de “Wilson”
(publicada aqui pelo selo Quadrinhos na Cia.), a completa falta de vontade de
socialização com a humanidade transportada agora para o casal. Enquanto Jack
busca emprego e grana, pois a esposa está grávida, ela tenta fazer as pazes com
o passado. Tudo muda quando ela é assassinada junto com a bebê que carregava na
barriga. Jack é tomado pela obsessão de achar o assassino e isso guia sua vida para
frente. Muitos anos passam e ele já se encontra sem esperanças quando acha uma
maneira de voltar ao passado, o que dá novo gás a caça e faz com que ele descubra
diversos segredos da falecida mulher. “Paciência”
foi lançado nos EUA no ano passado e chegou agora no Brasil pela editora Nemo,
com 184 páginas. É um trabalho completo onde o texto, a imagem e a formatação
dos quadros servem diretamente um ao outro para formar um estupendo conjunto. É
uma obra viva, com cores e mais cores se alternando para provocar as sensações
do leitor, uma excelente ficção científica que trata com brilho do tema mais
antigo de todos: o amor.
Nota: 9,0
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