Durante séculos a humanidade foi
a espécie dominante do planeta. Usou e abusou da natureza esgotando os recursos
naturais de acordo com interesses próprios. No entanto, todo esse poder foi
embora em apenas sete meses. A raça humana foi praticamente dizimada por uma
peste sem nome que se alastrou pelo mundo devastando tudo que via na frente.
Nesse cenário pós-apocalíptico animais selvagens passaram a ser donos das ruas
e cidades e lendas reapareceram para brigar pela posse do planeta. Personagens
comuns em livros e histórias antigas como elfos, fadas, centauros e trolls saem
do esconderijo que habitaram e reclamam a terra novamente para si. “Hinterkind – Os Desterrados: O Despertar
do Mundo” mistura esses dois lados citados: a sobrevivência da espécie
humana depois da praga e o enxerto da fantasia que transforma a história em
algo mais. Lançada nos EUA dentro do selo Vertigo, ganhou edição nacional esse
ano pela Panini Comics em um volume de capa cartonada com 148 páginas que traz
as edições originais de 1 a 6 publicadas entre dezembro de 2013 e maio de 2014.
A história é criação do britânico Ian Edginton (Planeta dos Macacos) e tem como
grande destaque a belíssima arte do italiano Francesco Trifogli com as cores da
brasileira Cris Peter. O selo Vertigo é – já faz algum tempo – o único
resquício de boas histórias da DC Comics dentro dos quadrinhos e isso não é
diferente com “Hinterkind”. Uma
trama bem contada, com algumas ornamentações de segundo plano, com arte de
encher os olhos, que habita dentro do digamos “universo geral” da fantasia do
selo composto por coisas como “O Inescrito” e “Fábulas”. Usando de conceitos já
explorados anteriormente e fazendo estes fluir em nova aventura, Ian Edginton
foge o máximo que pode do lugar comum desse tipo de enredo e proporciona ao
leitor uma atrativa pedida.
Nota: 7,0
O quadrinista paulista L.M. Melite
é responsável por um trabalho dos mais intrigantes no cenário nacional dos
últimos anos. É obra dele “Desistência Azul” e “Dupin” (ambos lançados pela
Zarabatana Books) e “Leviatã” (que saiu na revista Café Espacial 13). Suas histórias
sempre apresentam um ponto mais fora da curva, seja no experimentalismo da arte
ou no traço em alguns momentos, seja na concepção do roteiro e narrativa em
outras, gerando um resultado digno de nota. Esse ano chega nas livrarias mais
uma obra sua intitulada “Tabloide” que foi contemplada pelo PROAC (programa de
incentivo à cultura de São Paulo) e tem publicação caprichada em capa dura pela
editora Veneta. Com 136 páginas e em cores, Melite narra as desventuras de
Samantha Castelo, uma jornalista que tem atração por histórias estranhas e
sobrenaturais, dona que um pequeno jornal que narra esses fatos enquanto os
demais não estão nem aí. Samantha é cínica ao extremo, desbocada, bagunceira, fora
do peso, pouco higiênica, cheia de artimanhas para conseguir o que quer e
enxerida como uma jornalista criminal deve ser. Quando se depara com um homicídio
que tem um cadáver vestido de noiva trancado dentro do porta-malas de um carro afundado,
ela não se contenta com o descaso geral da polícia e resolve atropelar para
conseguir a matéria. Nesse percurso é auxiliada pelos poucos que lhe cercam
como o fotógrafo Horácio e o ex-patrão e atual “conselheiro” Bogus para entrar no
submundo de São Paulo se deparando com bizarrices e segredos guardados a sete
chaves. Enquanto o thriller policial avança com as descobertas, o autor aproveita
para contar um pouco mais sobre a protagonista e os cadáveres pessoais que ela
tranca no armário. “Tabloide” é um
dos grandes lançamentos nacionais do ano, que ratifica de vez o trabalho do seu
criador e deixa o leitor torcendo para que no futuro venham mais histórias de
Samantha Castelo.
Nota: 9,0
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