Anne e Marco Conti são um casal
normal, moram em uma casa confortável e acabam de ter a primeira filha, chamada
Cora, que está nos primeiros meses de vida. Entretanto, essa é a apenas a
imagem superficial, pois por dentro o casal vive momentos difíceis, com a mãe
em depressão pós-parto e o pai repleto de problemas no trabalho. O convite dos
vizinhos para um jantar então se apresenta como boa oportunidade para o casal
sair um pouco, desopilar a cabeça, socializar com outras pessoas. Contudo, o
jantar não anda da melhor maneira e, além disso, os pais precisam ir de meia em
meia hora ver como a filha está já que os anfitriões não queriam crianças no
local, apenas adultos. Em uma desses visitas a mãe percebe que a filha sumiu,
desapareceu. É a partir desse rapto que a escritora Shari Lapena começa a
desenvolver “O Casal Que Mora Ao Lado”
(The Couple Next Door, no original),
livro publicado em 2016 que a editora Record lança no Brasil esse ano. Com 294
páginas e tradução de Márcio ElJaick, a obra ambiciona ser um suspense policial
cheio de reviravoltas que adiciona pontualmente novas informações para mudar a
percepção do leitor a cada página. Porém, apenas ambiciona e nada mais. A
realidade é que a obra é um imenso agregado de chavões do estilo que são
escritos de maneira rasa e sem muito ritmo e cometem o erro fatal para um livro
de suspense: antecipam costumeiramente suas revelações, aquilo que em teoria
deveria surpreender a quem lê e ditar novas direções. Pode enganar ao leitor
não muito acostumado a enredos mais elaborados, prova disso são as milhares de
cópias vendidas, mas para quem espera sempre algo de um nível maior, “O Casal Que Mora Ao Lado” é um
desastre quase que completo.
Nota: 3,0
Leia um trecho aqui:
O pintor francês Claude Monet
(1840-1926) é um dos grandes nomes do Impressionismo e suas telas valem uma
pequena fortuna. Nos seus quadros eternizou diversas vezes a pequena cidade de
Giverny na França, onde nasceu, viveu e retratou ninfeias das mais variadas
estirpes. O escritor francês Michel Bussi de “O Voo da Libélula” usou esta
cidade como palco para o romance policial “Ninfeias
Negras” (Nympheás Noirs, no
original), publicado no país de origem em 2011 e que em 2017 recebe edição
nacional pela editora Arqueiro. Com 352 páginas e tradução de Fernanda Abreu, a
trama começa para o leitor com o assassinato de um renomado e rico médico habitante
do local, cheio de pequenos segredos. No entanto, conforme se percebe no
decorrer das páginas, a história tem início em anos muito mais distantes, mais
longínquos. Conduzido primordialmente por uma senhora que não se identifica logo,
mas que observa todos os fatos, a narração também avança para outras duas
mulheres fundamentais da obra, uma mais jovem, ainda criança, e uma professora
da única escola da cidade. Dividindo a trama nesses três eixos, o autor vai
construindo com cuidado cada personagem e coloca o leitor em desavisada situação
de conforto que só se quebra na verdade nas páginas finais. A dupla de
detetives encarregada do caso merece destaque, com personalidades, gostos e
anseios bem distintos, funciona bem, fugindo no que é possível do lugar comum
típico dessas orquestrações. Mascarado sobre um romance policial comum, mesmo
que bem edificado, “Ninfeias Negras”
esconde nas suas linhas pontos interessantes como a intensidade da relação
entre as pessoas e a arte, não obstante cutucando um pouco esse mundo, e entra
na cabeça do ser humano com intensidade no que tange a medos, privações, egoísmos
e perda de esperança, o que faz o livro ir um pouco além.
Nota: 7,5
Hotsite: http://ninfeiasnegras.com.br
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