Terry Hayes é britânico, mas saiu
jovem para a Austrália. Foi repórter nos EUA e além de jornalista é um
experiente roteirista de Hollywood (com filmes como “Mad Max 2” e “Do
Inferno”). Em 2012 lançou o primeiro romance chamado “Eu Sou o Peregrino” (I Am
Pilgrim, no original) que abocanhou o National Book Awards do Reino Unido
em 2014 como melhor thriller policial. O livro teve publicação nacional ano
passado pela editora Intrínseca, com 686 páginas e tradução de Alexandre
Raposo. Como era de se esperar pelo currículo do autor, essa estreia é
cinematográfica, intensa, com pulsação acelerada e repleta de ação. Tudo é
montado de maneira que seja possível a transposição para a grande tela. E isso
não é ruim, pelo contrário. Se por um lado temos algumas soluções “mágicas”
como em blockbusters tradicionais, onde o protagonista sempre conta com algum
golpe de sorte, por outro lado os capítulos mantêm uma constância que faz com
que o calhamaço flua, sem estancar ou deixar a leitura com passagens sofridas.
A quantidade elevada de páginas serve para que o autor possa erigir
cuidadosamente os perfis dos envolvidos em uma caçada que se espalha pelo mundo.
Claro, que o que está em jogo é algo extremo como a salvação do mundo (ou pelo
menos dos EUA). O Peregrino que empresta o nome ao título é o codinome de um
agente de nível elevado da inteligência americana que durante os anos se
mascarou tanto que a identidade original é apenas memória distante. Até que um
detetive de homicídios de Nova York lhe desmascara e ele serve de auxílio para
um misterioso e elaborado assassinato na cidade. Esse crime desencadeia junto
com outros processos a corrida para pegar um hábil saudita que está prestes a
jogar uma praga biológica no país. Em meio a pensamentos e teorias, “Eu Sou o Peregrino” é um thriller
funcional que como qualquer bom filme de ação cumpre o seu propósito de
divertir.
Nota: 7,0
“A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert” (La Verité sur I’Affaire Harry Quebert, no original) vendeu mais um
milhão de cópias mundo afora, sendo que é interessante perceber após as 576
páginas como algumas coisas se cruzam entre realidade e ficção. O segundo livro
do escritor suíço Joël Dicker recebeu elogios e louvores de publicações
respeitosas e o transformou em um prodígio que na época do lançamento na França
em 2012 tinha 26 anos. O personagem do livro em questão também é um escritor
que vira celebridade aos 28 anos quando a estreia no mundo da literatura
estoura e transforma a vida. Lançado pela editora Intrínseca em solo nacional
em 2014 com tradução de André Telles, a obra tem ponto de partida quando Marcus
Goldman, o protagonista, vê os prazos para entrega do segundo trabalho se
esgotarem e ele não escreveu uma linha sequer. Esse bloqueio criativo o faz
recorrer para o antigo professor, amigo e mentor dos tempos de faculdade, Harry
Quebert, um escritor conceituado, na casa onde reside na pequena Aurora em New
Hampshire. Enquanto tenta liberar a mente, Goldman vê tudo virar do avesso
quando o corpo de uma garota desaparecida em 1975 aparece enterrado no quintal
do amigo. Em busca de provar a inocência dele parte em uma investigação própria
que o colocará em uma espiral de acontecimentos que revelará não somente lados
obscuros das pessoas como destravará aflições e memórias. Com um estilo simples
e sem muitos floreios, o autor junta diversos gêneros como romance, suspense,
policial e drama psicológico, sem escorregar. Elabora camadas e mais camadas
que em determinado momento apresenta um livro, dentro de um livro que é parte
de outro livro. Se Jöel Dicker será um grande escritor, isso só o tempo dirá, mas
tirando os hiperbólicos exageros direcionados a obra, temos sim um livro
notável.
P.S: O personagem Marcus Goldman tem uma aventura posterior
em “O Livro dos Baltimore”, lançado esse ano aqui no Brasil.
Nota: 8,0
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