sexta-feira, 2 de junho de 2017

Literatura: "Eu Sou o Peregrino" e “A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert”


Terry Hayes é britânico, mas saiu jovem para a Austrália. Foi repórter nos EUA e além de jornalista é um experiente roteirista de Hollywood (com filmes como “Mad Max 2” e “Do Inferno”). Em 2012 lançou o primeiro romance chamado “Eu Sou o Peregrino” (I Am Pilgrim, no original) que abocanhou o National Book Awards do Reino Unido em 2014 como melhor thriller policial. O livro teve publicação nacional ano passado pela editora Intrínseca, com 686 páginas e tradução de Alexandre Raposo. Como era de se esperar pelo currículo do autor, essa estreia é cinematográfica, intensa, com pulsação acelerada e repleta de ação. Tudo é montado de maneira que seja possível a transposição para a grande tela. E isso não é ruim, pelo contrário. Se por um lado temos algumas soluções “mágicas” como em blockbusters tradicionais, onde o protagonista sempre conta com algum golpe de sorte, por outro lado os capítulos mantêm uma constância que faz com que o calhamaço flua, sem estancar ou deixar a leitura com passagens sofridas. A quantidade elevada de páginas serve para que o autor possa erigir cuidadosamente os perfis dos envolvidos em uma caçada que se espalha pelo mundo. Claro, que o que está em jogo é algo extremo como a salvação do mundo (ou pelo menos dos EUA). O Peregrino que empresta o nome ao título é o codinome de um agente de nível elevado da inteligência americana que durante os anos se mascarou tanto que a identidade original é apenas memória distante. Até que um detetive de homicídios de Nova York lhe desmascara e ele serve de auxílio para um misterioso e elaborado assassinato na cidade. Esse crime desencadeia junto com outros processos a corrida para pegar um hábil saudita que está prestes a jogar uma praga biológica no país. Em meio a pensamentos e teorias, “Eu Sou o Peregrino” é um thriller funcional que como qualquer bom filme de ação cumpre o seu propósito de divertir.

Nota: 7,0



“A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert” (La Verité sur I’Affaire Harry Quebert, no original) vendeu mais um milhão de cópias mundo afora, sendo que é interessante perceber após as 576 páginas como algumas coisas se cruzam entre realidade e ficção. O segundo livro do escritor suíço Joël Dicker recebeu elogios e louvores de publicações respeitosas e o transformou em um prodígio que na época do lançamento na França em 2012 tinha 26 anos. O personagem do livro em questão também é um escritor que vira celebridade aos 28 anos quando a estreia no mundo da literatura estoura e transforma a vida. Lançado pela editora Intrínseca em solo nacional em 2014 com tradução de André Telles, a obra tem ponto de partida quando Marcus Goldman, o protagonista, vê os prazos para entrega do segundo trabalho se esgotarem e ele não escreveu uma linha sequer. Esse bloqueio criativo o faz recorrer para o antigo professor, amigo e mentor dos tempos de faculdade, Harry Quebert, um escritor conceituado, na casa onde reside na pequena Aurora em New Hampshire. Enquanto tenta liberar a mente, Goldman vê tudo virar do avesso quando o corpo de uma garota desaparecida em 1975 aparece enterrado no quintal do amigo. Em busca de provar a inocência dele parte em uma investigação própria que o colocará em uma espiral de acontecimentos que revelará não somente lados obscuros das pessoas como destravará aflições e memórias. Com um estilo simples e sem muitos floreios, o autor junta diversos gêneros como romance, suspense, policial e drama psicológico, sem escorregar. Elabora camadas e mais camadas que em determinado momento apresenta um livro, dentro de um livro que é parte de outro livro. Se Jöel Dicker será um grande escritor, isso só o tempo dirá, mas tirando os hiperbólicos exageros direcionados a obra, temos sim um livro notável.

P.S: O personagem Marcus Goldman tem uma aventura posterior em “O Livro dos Baltimore”, lançado esse ano aqui no Brasil.

Nota: 8,0



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