segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Quadrinhos: "Astronauta - Assimetria" e "Você é um Babaca, Bernardo"


Quando “Astronauta - Magnetar“ foi publicado em 2012 talvez não se imaginasse que a iniciativa de fazer uma linha de graphic novels com os tradicionais personagens de Mauricio de Sousa fosse dar tão certo e chegar a 14 álbuns no total em menos de 5 anos, sem contar ainda os que estão por vir. Era incontestável o apelo de personagens tão cravados na mente do público, no entanto a empreitada avançou mais do que se ambicionava em números e, principalmente, qualidade. Danilo Beyruth (Bando de Dois) que iniciou essa jornada voltou a mais uma história com o viajante espacial em 2014 com “Astronauta – Singularidade” e no final do ano passado novamente com “Astronauta – Assimetria”. Se a segunda incursão não convenceu tanto assim em relação a estreia, dessa vez o resultado é do mesmo nível. Com páginas a mais do que antes (são 98 agora), a edição da Panini Comics que está disponível mais uma vez em dois formatos de capa (cartonada e dura) é uma história que pode ser lida individualmente, mas que sabiamente mantém vínculo e referências com as jornadas anteriores. Beyruth assume o roteiro e a arte (agora digital) e as cores ficam na responsabilidade de Cris Peter, que tira a missão de letra como de costume. Na trama, o Astronauta está na Terra descansando da última missão quando vê sua amada Ritinha na rua com uma criança e entra em parafuso voltando para a sede da BRASA (Brasileiros Astronautas) em busca de uma tarefa que lhe faça esquecer. Parte então para Saturno e vai se deparar com forças maiores do que está acostumado e uma situação inusitada ao final. Com quadros grandes, o autor consegue se aprofundar cada vez mais no personagem que assumiu, dando tons e novas modulações, ampliando o que já estava feito. Além disso, presta uma bonita homenagem a Jack Kirby com a inserção de figuras que remetem a trabalhos clássicos do mestre.

Nota: 8,0


Alexandre S. Lourenço já vinha fazendo bonito nos seus quadrinhos online e em “Robô Esmaga”, reunião de parte desse trabalho publicado em 2015. Em setembro do ano passado apresentou uma obra ainda mais interessante na primeira aventura mais longa que encara, longe das pequenas tiras habituais. “Você é um Babaca, Bernardo” tem 132 páginas e foi lançado pela editora Mino trazendo algumas ideias já exploradas antes pelo autor como cotidiano, rotina e inadequação social, mas embaladas em uma versão apurada e com apresentação sequencial. Mantendo o traço minimalista e quase não utilizando de quadros tradicionais, expondo novamente a experimentação que gosta de fazer, criou uma história arrebatadora sobre temas que em teoria não são interessantes no seu cerne, mas estão presentes em todos os lugares, em cada esquina. A maneira que encontra para narrar o dia a dia do personagem principal é notável e faz o leitor ficar atento a cada pequeno detalhe que insere gradativamente. Bernardo é um cara comum, com uma vidinha ordinária e sem quaisquer surpresas. Acorda, se arruma, vai ao trabalho, volta para casa, assiste televisão e dorme. No outro dia faz tudo de novo. Às vezes vai ao trabalho de ônibus, outras de bicicleta, porém sempre se posicionando no mesmo cubículo até a hora de retornar para casa. Rotina, rotina e mais rotina até que uma garota cruza o caminho e as coisas passam a ser olhadas por outro viés. Em “Você é um Babaca, Bernardo”, Alexandre S. Lourenço explora a relação entre mente e corpo, entre desejo e acomodação, entre inércia e vontade. Uma briga que no cansaço da vida é vencida na maioria das vezes pela opção mais fácil, o que acaba por deixar tudo mecânico e insosso. Explorando sabiamente esses pontos o autor apresenta uma obra que faz o leitor ponderar sobre o estado atual das coisas.

Nota: 9,0



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