Quando “Astronauta - Magnetar“
foi publicado em 2012 talvez não se imaginasse que a iniciativa de fazer uma
linha de graphic novels com os tradicionais personagens de Mauricio de Sousa
fosse dar tão certo e chegar a 14 álbuns no total em menos de 5 anos, sem
contar ainda os que estão por vir. Era incontestável o apelo de personagens tão
cravados na mente do público, no entanto a empreitada avançou mais do que se ambicionava
em números e, principalmente, qualidade. Danilo Beyruth (Bando de Dois) que iniciou
essa jornada voltou a mais uma história com o viajante espacial em 2014 com
“Astronauta – Singularidade” e no final do ano passado novamente com “Astronauta – Assimetria”. Se a segunda
incursão não convenceu tanto assim em relação a estreia, dessa vez o resultado
é do mesmo nível. Com páginas a mais do que antes (são 98 agora), a edição da
Panini Comics que está disponível mais uma vez em dois formatos de capa
(cartonada e dura) é uma história que pode ser lida individualmente, mas que
sabiamente mantém vínculo e referências com as jornadas anteriores. Beyruth
assume o roteiro e a arte (agora digital) e as cores ficam na responsabilidade de
Cris Peter, que tira a missão de letra como de costume. Na trama, o Astronauta
está na Terra descansando da última missão quando vê sua amada Ritinha na rua com
uma criança e entra em parafuso voltando para a sede da BRASA (Brasileiros
Astronautas) em busca de uma tarefa que lhe faça esquecer. Parte então para
Saturno e vai se deparar com forças maiores do que está acostumado e uma
situação inusitada ao final. Com quadros grandes, o autor consegue se
aprofundar cada vez mais no personagem que assumiu, dando tons e novas
modulações, ampliando o que já estava feito. Além disso, presta uma bonita homenagem
a Jack Kirby com a inserção de figuras que remetem a trabalhos clássicos do
mestre.
Nota: 8,0
Alexandre S. Lourenço já vinha
fazendo bonito nos seus quadrinhos online e em “Robô Esmaga”, reunião de parte
desse trabalho publicado em 2015. Em setembro do ano passado apresentou uma
obra ainda mais interessante na primeira aventura mais longa que encara, longe
das pequenas tiras habituais. “Você é um
Babaca, Bernardo” tem 132 páginas e foi lançado pela editora Mino trazendo
algumas ideias já exploradas antes pelo autor como cotidiano, rotina e
inadequação social, mas embaladas em uma versão apurada e com apresentação
sequencial. Mantendo o traço minimalista e quase não utilizando de quadros
tradicionais, expondo novamente a experimentação que gosta de fazer, criou uma
história arrebatadora sobre temas que em teoria não são interessantes no seu
cerne, mas estão presentes em todos os lugares, em cada esquina. A maneira que
encontra para narrar o dia a dia do personagem principal é notável e faz o
leitor ficar atento a cada pequeno detalhe que insere gradativamente. Bernardo
é um cara comum, com uma vidinha ordinária e sem quaisquer surpresas. Acorda,
se arruma, vai ao trabalho, volta para casa, assiste televisão e dorme. No
outro dia faz tudo de novo. Às vezes vai ao trabalho de ônibus, outras de
bicicleta, porém sempre se posicionando no mesmo cubículo até a hora de
retornar para casa. Rotina, rotina e mais rotina até que uma garota cruza o caminho
e as coisas passam a ser olhadas por outro viés. Em “Você é um Babaca, Bernardo”, Alexandre S. Lourenço explora a
relação entre mente e corpo, entre desejo e acomodação, entre inércia e
vontade. Uma briga que no cansaço da vida é vencida na maioria das vezes pela
opção mais fácil, o que acaba por deixar tudo mecânico e insosso. Explorando
sabiamente esses pontos o autor apresenta uma obra que faz o leitor ponderar sobre
o estado atual das coisas.
Nota: 9,0
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