Dentro do rock nacional nascido
nos anos 80 a banda Engenheiros do Hawaii era difícil de compreender. Com a
figura controversa de Humberto Gessinger na frente vendeu mais de 100 mil de
todos os discos da estreia de 1986 (“Longe Demais das Capitais”) até 1993
(“Filmes de Guerra, Canções de Amor”) e estourou com “O Papa é Pop” de 1990 que
a levou para estádios, programas dominicais e tudo mais. Humberto colocou em livro
em 2009 (“Pra Ser Sincero”) uma boa parte das aventuras desde o primeiro show,
mas isso do ponto de vista dele, o que deixou de fora aquilo menos louvável em
uma trajetória. “Infinita Highway: Uma
Carona com os Engenheiros do Hawaii” do jornalista gaúcho Alexandre
Lucchese chegou ano passado com a missão de dissecar esse fenômeno de modo mais
amplo e explicar tamanha adoração pelo grupo e seu dono até hoje, uma vez que ele
continua fazendo shows cheios pelo Brasil, mesmo que em intensidade menor. Com extenso
trabalho de pesquisa, 328 páginas e publicação da editora Belas Letras, o livro
apresenta a banda desde a formação em 1985 que seria para um único show até
“Simples de Coração”, disco de 1995 que foi o último do baterista Carlos Maltz.
Entre o vislumbre, a inadequação e o profissionalismo nos mostra perfis de
artistas talentosos, mas pouco a vontade com o processo do negócio. Narra
também as saídas de Carlos Stein (que depois fundaria o Nenhum de Nós), de Marcelo
Pitz (baixista da estreia) e principalmente de Augusto Licks, o ótimo e
experiente guitarrista que transformou a música do grupo. É um livro indicado
para fãs, mas que não consegue avançar além, trazendo observações repetidas sem
meter o dedo nas feridas com a intensidade que se esperava, além de ter
decisões questionáveis como inserir depoimentos de fãs totalmente
desnecessários. Assim como a banda, alterna boas e interessantes passagens com outras
tão chatas como as músicas mais enfadonhas do grupo.
Nota: 5,0
Twitter do autor: http://twitter.com/alexandrelucche
Com “Garota Exemplar” a escritora
Gillian Flynn se tornou conhecida em boa parte do mundo, ainda mais depois da ótima
adaptação cinematográfica feita pelo diretor David Fincher em 2014. No ano
seguinte a editora Intrínseca lançou no Brasil a estreia dela chamada “Objetos Cortantes” (Sharp Objects, no original), que saiu
nos EUA em 2006. Com 256 páginas e tradução de Alexandre Martins a obra tem
como protagonista Camille Preaker que trabalha em um pequeno jornal de Chigago,
longe dos líderes do setor. Por essa razão que o editor resolve enviá-la a
pequena e pacata Wind Gap, no estado do Missouri, cidade onde ela cresceu e
passou boa parte da vida. O intuito é fazer uma matéria sobre dois assassinatos
de crianças que os grandes jornais ainda não prestaram atenção, pois estão
voltados para outros assuntos, e assim dar um furo a pequena empresa. Receosa e
muito relutante, Camille se manda para a cidade natal para ficar na casa da mãe
que nunca se deu nada bem, do padrasto que mal fala e da pequena meia-irmã que
não conhece direito. Durante o livro além de mostrar todas as agruras passadas
e as marcas que deixaram na personagem principal, a autora leva o interesse
pelo caso devagarinho para o caminho da obsessão, enquanto preenche os espaços
com coadjuvantes repletos de segredos e disfunções. Em “Objetos Cortantes”, Gillian Flynn faz um suspense sombrio e digno,
já expondo as qualidades que usou com grande destreza na obra de maior sucesso,
como deixar a ambiguidade sempre presente e fazer um reviravolta na trama
quando o leitor menos espera. A autora que já viu dois livros virarem filme (o
já citado “Garota Exemplar” e também “Lugares Escuros”) verá “Objetos Cortantes” se transformar em
série que por enquanto tem produção da HBO e a estupenda Amy Adams no papel de
Camille Preaker. Nada mal.
Nota: 7,0
Site da autora: http://gillian-flynn.com