Depois de Superman e Batman
aparecem na linha “Terra Um” da DC Comics em que autores podem escrever tramas
fora do emaranhado que é a cronologia da editora, chegou a vez da Mulher-Maravilha
completar a trindade dentro do projeto. Criada em 1941 por William Moulton
Marston, a heroína bela e guerreira ganha uma repaginada nas origens através de
roteiro de Grant Morrison (Sete Soldados da Vitória) e arte de Yanick Paquette
(Monstro do Pântano). A Panini publicou aqui no final do ano passado toda a
trama que originalmente saiu nos EUA também em 2016 para comemorar os 75 anos
da princesa amazona. Com capa dura, lombada quadrada e 154 páginas, incluindo
vários esboços de extras, temos a história de Diana imaginada pelo abade
escocês que como de costume aborda as coisas de maneira diferente do usual. “Mulher-Maravilha: Terra Um” mostra a
princesa não se contentando com o mundo a que está acostumada e deseja sair da
Ilha Paraíso a qualquer custo, para desgosto da sua mãe e as habitantes do
local. Ela recebe a oportunidade quando Steve Trevor (agora negro) despenca com
seu avião e precisa urgentemente de ajuda para não morrer. É quando Diana
aproveita a deixa e monta um plano para fugir ao mundo exterior e se deparar
com cultura e pessoas totalmente diferentes. O autor não deixa de lado a
mitologia que cerca a origem, mas tenta caminhar por outras ruas preenchidas
por poder feminino, família, liberdade, respeito e uma sexualidade até então
vista com rara frequência nas histórias da personagem, que tem reflexo na arte
de Paquette que apresenta uma Diana extraordinariamente linda. Na proximidade da
estreia do filme com Gal Gadot no papel da heroína prevista para junho desse
ano, essa edição do Grant Morrison é mais que oportuna, ainda que com alguma
inconsistência geral.
Nota: 7,0
O paulistano Roger Cruz é um dos artistas
nacionais mais talentosos dentro dos quadrinhos já tem algum tempo com
trabalhos de respeito na Marvel em revistas do X-Men e Hulk, entre outros. Em 2010
publicou pela editora Devir uma obra autoral onde assumia roteiro e arte para
contar uma história com tons biográficos intitulada “Xampu: Lovely Losers”. No
segundo semestre do ano passado a Panini Comics em parceria com o Stout Club decidiu
(ainda bem) relançar a obra, parte inicial de uma trilogia. Ainda em 2016 a
mesma dupla colocou no mercado o segundo volume da narrativa com lançamento na
Comic Con Experience. “Xampu – Volume I”
e “Xampu – Volume II” tem 80
páginas cada uma e são ambientadas no final dos anos 80 e início dos 90 retratando jovens preocupados em curtir a vida, bater papo,
escutar rock, montar uma banda e descolar leves paixões no decorrer dessa
jornada. Do outro lado dessa farra estão os anseios, sonhos e receios não só
inerentes a idade, como também ao aumento de responsabilidades, a busca por
grana e o tão assustador futuro que se apresenta nessas horas, ainda mais em
um período de transformações sociais e culturais. Tanto na arte em preto e
branco que insere drama e humor com a mesma competência, quanto na forma de
contar a história que ora opta por ser mais individualizada, ora mais ampla,
Roger Cruz comete um acerto atrás do outro. A obra apresenta um indubitável cheiro
de nostalgia, contudo não se resume a isso, sendo que qualquer grupo de jovens
que viveu em qualquer época pode ver a sua turma refletida em alguma das linhas
dali em personagens como Max, Raquel, Sombra e Nicole, além dos causos e
histórias como a ida ao primeiro grande festival de música. Mas é lógico que para
quem viveu nesses anos o sabor é ainda mais doce e aprazível. Não deixe de ler.
Nota: 9,0
Blog do autor: http://rogercruzbr.blogspot.com.br
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