Uma menininha de uns seis anos
mais ou menos se perde dos pais e com sorte encontra alguém mais velho e pede
ajuda para encontrá-los novamente. A bronca é que esse alguém é um urso meio
rabugento que ela tem a estupenda ideia de despertar em uma caverna e que surpreendentemente
comovido assume a incumbência. Essa é trama básica de “Bear” da quadrinhista curitibana Bianca Pinheiro, que publicada
originalmente como uma webcomic ganhou versão impressa pela editora Nemo e já
está no terceiro volume lançado no ano passado. “Bear – Volume 3” dá continuidade a jornada dos dois e dessa vez
muda o local da aventura para dentro da água. Com 88 páginas e o mesmo formato
dos anteriores (20x32cm), personagens já conhecidos retornam enquanto a dupla
vai produzindo o bem enquanto tenta achar os pais de Raven. Bianca Pinheiro é
dotada de um senso extremo de sensibilidade que espalha pelas páginas do álbum
e que também podemos ver em outro lançamento seu chamado “Dora” e na Graphic
MSP “Mônica: Força”. A fantasia infanto-juvenil que ela elabora nesta obra
consegue ir além do público esperado e agrada com seus traços limpos e cores
bem usadas. Além disso, brinda o leitor com diversas referências aqui e ali,
umas bem óbvias e outras nem tanto que gera uma repentina satisfação ao se
perceber, como também expande as formas de linguagem inserindo até a si mesmo
como uma espécie de “oráculo”. Leve, descompromissada e divertida, mas sem ser
boba demais, “Bear” mostra uma
autora com completo domínio da história que conta e é leitura certeira para seu
filho, sobrinho ou afilhado, que irão se encantar com as peripécias de Raven e
Dimas.
Só uma dica: antes de passar a
eles dê uma lida também. Não te arrependerás.
Nota: 7,0
Site da autora: http://bianca-pinheiro.tumblr.com
Site de “Bear”: http://bear-pt.tumblr.com
Pegue a literatura de Gabriel
Garcia Márquez, José J. Veiga e Manuel Scorza e adicione obras de cunho juvenil
daquelas que trazem humor, pirraças e descobertas. No meio coloque uma farta
dose de sensualidade latina, sem muito pudor ou reserva disso para no final
completar com acentuadas pitadas de escárnio e crítica social. O resultado de
tudo é “Sopa de Lágrimas” (Heartbreak Soup, no original) do
quadrinhista Gilbert Hernandez, mais conhecido por seu trabalho na necessária “Love
And Rockets” feita junto com os irmãos. A editora Veneta resolveu relançar em
2016 a história no Brasil e o primeiro volume (outros dois estão previstos) tem
288 páginas, tradução de Marina Della Valle e cobre o período de publicação de 1983
a 1986. A obra que já recebeu elogios de nomes do porte de Robert Crumb, Howard
Chaykin e Neil Gaiman se situa na fictícia Palomar, uma pequena (mas nada
pacata) cidade situada em algum país da América do Sul. Para criar tão
fielmente a ambientação e seus personagens o autor se valeu também das
histórias que ouvia em casa de avós e tias que moraram no México antes de
partirem para os EUA, sendo que boa parte desses causos foi repassado ao papel.
Em preto e branco, com desenhos privilegiando formas e rostos e capítulos que
vão e voltam no tempo sem ordem determinada, Gilbert Hernandez criou em “Sopa de Lágrimas” uma obra poderosa,
visceral e divertida ao mesmo tempo. Com destaque para mulheres de
personalidade forte como a fantástica Luba e a musculosa Chelo, o autor insere
diversos outros personagens que pouco a pouco ganham a simpatia do leitor como
Pipo, Carmem e o memorável Tip e sua relação nada fácil com amores não
correspondidos. “Sopa de Lágrimas” é
o tipo de obra altamente recomendável, o tipo de obra que faz dos quadrinhos
uma arte mais rica e exuberante.
Nota: 9,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário