Ted Chiang nasceu em Nova York em
1967 é formado em ciência da computação e escreve hábeis contos sobre ficção
científica, o que já lhe rendeu prêmios literários desejados como o Nebula e o
Hugo. Ano passado sua obra ganhou maior amplitude porque um conto seu foi
adaptado para gerar o ótimo filme “A Chegada” de Denis Villeneuve o que fez a
editora Intrínseca lançar no país em novembro de 2016 o livro “História da Sua Vida e Outros Contos”
(Stories of Your Life and Others, no
original) com 368 páginas e tradução de Edmundo Barreiros. O livro agrupa 8
contos publicados entre 1990 e 2002 em veículos diversos, além de uma pequena
nota explicativa sobre cada um deles no final. De produção esporádica (ainda
não escreveu duas dezenas de contos no total), Ted Chiang passeia com cuidado e
muito garbo pelas histórias que propõe contar, seja nos questionamentos
religiosos de “Torre de Babilônia” e “O Inferno é a Ausência de Deus”, seja em
temas mais matemáticos como em “Divisão por Zero” ou na essência pura da ficção
científica de “Gostando Do Que Vê: Um Documentário” e “História da Sua Vida”
que dá nome ao livro e foi o conto adaptado para o já citado filme. O texto de
Chiang por mais técnico que se apresente em determinados momentos é plenamente inteligível,
ainda que careça de uma atenção mais dedicada do leitor. Fascinado por
matemática e física quase sempre usa como personagem meio oculto, mas
primordial, a linguagem, a comunicação entre nós e entre aquilo que nos rodeia
no mundo, o que deixa os textos ainda mais intrigantes. Exibe o que a ficção
científica pode apresentar de melhor com tramas emblemáticas e surpreendentes,
que como acontece com obras desse segmento fazem o leitor questionar sobre como
estamos caminhando aqui neste pequeno planeta azul.
Nota: 8,0
Rita Lee Jones faz 70 anos agora
em 2017. A artista fundamental para a música brasileira hoje curte a
aposentadoria de forma tranquila e sem alardes. No ano passado resolveu enfim
escrever e lançar sua autobiografia, esperada não somente pelos fãs mais
ardorosos (que não são poucos), mas por todos amantes da música nacional. “Rita Lee – Uma Autobiografia” chegou às
livrarias pela Globo Livros com 296 páginas escritas pela própria sem recorrer
a ghost-writer e sem amansar para o próprio
lado deixando os podres de fora. Para contar essa história usou capítulos
curtos em uma ordem cronológica não muito rígida. O tom escolhido foi
completamente informal com gírias e vez ou outra até parecendo uma adolescente,
peralta como de costume. A metralhadora verbal atira de modo constante e com
ironia perdoa pouquíssima gente, já que afirma que conta os amigos na palma da
mão. Sobra para governos de todas as cores, para a crítica, para os Mutantes
Arnaldo e Sérgio, para os amigos de profissão, para quase todo mundo. A ovelha
negra volta à infância e lembra diabruras e traquinagens, não deixando de
relatar fatos pesados como o abuso sexual que sofreu ainda criança dentro de
casa por um cara que foi consertar algo lá. Conforme avança expõe a relação incessante
com drogas e depois o álcool, além de todo o bundalelê que esteve presente,
sendo quase uma Keith Richards do nosso cenário musical. Para quem espera
detalhes sobre gravações ou relatos sobre criações e composições isso passa muito de raspão, mas na verdade não era de se esperar que a artista se debruçasse com afinco sobre isso. O livro invade mais a vida pessoal, a relação com aqueles a
sua volta, as loucuras que cometeu e as coisas que sofreu (como as duas
prisões, sendo uma grávida na ditadura). “Rita
Lee – Uma Autobiografia” pode não ser o livro que tantos esperavam, contudo
é a cara de sua autora, uma artista que vendeu mais de 50 milhões de discos na
carreira e está entre as maiores de todos os tempos nesse quesito no Brasil.
Nota: 8,0
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