domingo, 29 de janeiro de 2017

Literatura: “História da Sua Vida e Outros Contos” e “Rita Lee - Uma Autobiografia”


Ted Chiang nasceu em Nova York em 1967 é formado em ciência da computação e escreve hábeis contos sobre ficção científica, o que já lhe rendeu prêmios literários desejados como o Nebula e o Hugo. Ano passado sua obra ganhou maior amplitude porque um conto seu foi adaptado para gerar o ótimo filme “A Chegada” de Denis Villeneuve o que fez a editora Intrínseca lançar no país em novembro de 2016 o livro “História da Sua Vida e Outros Contos” (Stories of Your Life and Others, no original) com 368 páginas e tradução de Edmundo Barreiros. O livro agrupa 8 contos publicados entre 1990 e 2002 em veículos diversos, além de uma pequena nota explicativa sobre cada um deles no final. De produção esporádica (ainda não escreveu duas dezenas de contos no total), Ted Chiang passeia com cuidado e muito garbo pelas histórias que propõe contar, seja nos questionamentos religiosos de “Torre de Babilônia” e “O Inferno é a Ausência de Deus”, seja em temas mais matemáticos como em “Divisão por Zero” ou na essência pura da ficção científica de “Gostando Do Que Vê: Um Documentário” e “História da Sua Vida” que dá nome ao livro e foi o conto adaptado para o já citado filme. O texto de Chiang por mais técnico que se apresente em determinados momentos é plenamente inteligível, ainda que careça de uma atenção mais dedicada do leitor. Fascinado por matemática e física quase sempre usa como personagem meio oculto, mas primordial, a linguagem, a comunicação entre nós e entre aquilo que nos rodeia no mundo, o que deixa os textos ainda mais intrigantes.  Exibe o que a ficção científica pode apresentar de melhor com tramas emblemáticas e surpreendentes, que como acontece com obras desse segmento fazem o leitor questionar sobre como estamos caminhando aqui neste pequeno planeta azul.

Nota: 8,0

Leia um trecho direto do site da editora, aqui.


Rita Lee Jones faz 70 anos agora em 2017. A artista fundamental para a música brasileira hoje curte a aposentadoria de forma tranquila e sem alardes. No ano passado resolveu enfim escrever e lançar sua autobiografia, esperada não somente pelos fãs mais ardorosos (que não são poucos), mas por todos amantes da música nacional. “Rita Lee – Uma Autobiografia” chegou às livrarias pela Globo Livros com 296 páginas escritas pela própria sem recorrer a ghost-writer e sem amansar para o próprio lado deixando os podres de fora. Para contar essa história usou capítulos curtos em uma ordem cronológica não muito rígida. O tom escolhido foi completamente informal com gírias e vez ou outra até parecendo uma adolescente, peralta como de costume. A metralhadora verbal atira de modo constante e com ironia perdoa pouquíssima gente, já que afirma que conta os amigos na palma da mão. Sobra para governos de todas as cores, para a crítica, para os Mutantes Arnaldo e Sérgio, para os amigos de profissão, para quase todo mundo. A ovelha negra volta à infância e lembra diabruras e traquinagens, não deixando de relatar fatos pesados como o abuso sexual que sofreu ainda criança dentro de casa por um cara que foi consertar algo lá. Conforme avança expõe a relação incessante com drogas e depois o álcool, além de todo o bundalelê que esteve presente, sendo quase uma Keith Richards do nosso cenário musical. Para quem espera detalhes sobre gravações ou relatos sobre criações e composições isso passa muito de raspão, mas na verdade não era de se esperar que a artista se debruçasse com afinco sobre isso. O livro invade mais a vida pessoal, a relação com aqueles a sua volta, as loucuras que cometeu e as coisas que sofreu (como as duas prisões, sendo uma grávida na ditadura). “Rita Lee – Uma Autobiografia” pode não ser o livro que tantos esperavam, contudo é a cara de sua autora, uma artista que vendeu mais de 50 milhões de discos na carreira e está entre as maiores de todos os tempos nesse quesito no Brasil.

Nota: 8,0


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