Histórias em quadrinhos com tons
de autobiografia já renderam obras magníficas no decorrer dos anos, exemplos
não faltam disso. Mesmo que tenha virado uma espécie de “febre” e por conta da
quantidade apareçam coisas com nível bem baixo, vez ou outra nos surpreendemos
com álbuns interessantes nesse quesito como é o caso de “Espiga” do brazuca Felipe Portugal. O autor que tem várias tiras
publicadas na página do Facebook chamada “Quadrinhos Insones” (do Diego
Sanchez), se aventura em uma história mais longa, usando fatos da própria vida
como material. “Espiga” teve
lançamento no final de 2015, conta com 64 páginas e foi feito de maneira
independente. Mostra o autor tendo que lidar com questões rotineiras da vida
enquanto tenta assimilar o fim de um namoro e voltar a ser produtivo no
trabalho. No meio disso surge uma “visita” inesperada que passa a habitar o
mesmo espaço físico e serve para redirecionar algumas questões, como também dar
uma revigorada no ar. O protagonista está naquele momento da vida que falta
ambição, vontade, coragem, falta tudo. Em menor ou maior proporção todos já
passamos por algo assim em determinado momento da vida, aquela falta de querer
que assume e fica difícil ir em frente já que você acaba não vendo sentido em coisa
nenhuma. Com uma paleta de cores e formato dos quadros que remete diretamente a
excelente “Asterios Polyp” de David Mazzucchelli (lançada aqui no Brasil em
2011), Felipe Portugal esquiva-se dos habituais lugares comuns e cria uma obra
divertida, mas que também discute a solidão da vida urbana e o peso do mundo
sobre as costas.
Nota: 7,0
Tem artistas que são inconfundíveis,
basta ver um desenho que já se sabe quem é o responsável por aquele traço. Howard
Chaykin é um desses. O norte-americano nascido em Newark tem anos e mais anos de
labuta e bons serviços prestados aos quadrinhos. No final de 2015 a Mythos decidiu
publicar o início de um dos seus maiores trabalhos novamente por aqui. “American Flagg! – Vol. 1” tem capa
dura, aparato requintado e 392 páginas. Reúne as 12 primeiras edições originais
da série lançadas entre os anos de 1983 e 1984, além de uma nova história
escrita em 2008 para o lançamento dessa coletânea nos EUA. A edição nacional
aparece devidamente restaurada e conta com uma bela introdução do escritor vencedor
do prêmio Pulitzer, Michael Chabon. O personagem principal é Reuben Flagg, um
ator nascido na colônia americana do planeta Marte, que volta para ser um
Ranger, membro da força mantenedora da paz comandada por governos e empresas.
Ao chegar à Terra, ele se depara com um planeta onde os céus estão cobertos de
fuligem e as planícies frutíferas estão apodrecidas. Além disso, o espírito de
solidariedade, honra e honestidade que tanto ouvira falar está castrado da população
em geral, com grandes empresas usando o povo como bem entende e a mídia se
divertindo em jogos diários de manipulação. Nessa distopia iniciada no ano de
2030, Howard Chaykin promove ficção científica exemplar (com um pé no cyberpunk)
e convida o leitor para entrar em um mundo vil, sem escrúpulos, onde até
mocinhos cometem graves erros e tem decisões não muito distintas. “American Flagg! – Vol. 1” é daquelas
obras que valem completamente o investimento, apresentando um dos ases da nona
arte em um voo brilhante, sagaz, ácido e crítico.
Nota: 9,0
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