Extraterrestres chegam ao nosso
mundo. Espalham-se com várias naves ao longo do globo e deixam a população
alarmada e os governos mais ainda. O clima de tensão e pavor está no ar, mas
também certa ideia de se aproveitar da tecnologia dos aliens para benefícios
próprios. Militares de vários países ficam a postos para se defender do
provável inimigo, enquanto algumas pessoas conseguem ir mais além e se colocam
no papel de salvadores de toda a humanidade.
Em filmes com esse tipo de enredo
é normal se deparar com um improvável herói que surge para dar fim na invasão e
deixar novamente o planeta em paz. Diversas vezes esse herói dá a volta por
cima quando menos se espera ou faz um sacrifício danado mostrando uma nobreza
suprema, além daquilo que a maioria seria capaz. Geralmente essas invasões são
recheadas por explosões, naves voando para lá e para cá e tiros sendo dados de
todos os lados.
Esse não é bem o ponto de “A Chegada” (Arrival, no original), novo filme do diretor Denis Villeneuve (de “Incêndios”
e “Sicario”). O longa de 116 minutos que estreou nesse final de ano aqui no
Brasil tem várias das situações citadas acima, todavia consegue trilhar um
caminho totalmente diferente na execução, graças a condução afiada de um
diretor em plena ascensão, o roteiro repleto de acertos e a edição perfeita de
Joe Walker (de “12 Anos de Escravidão”).
O livro é baseado em um conto do
americano Ted Chiang (Story Of Your Life,
o nome), publicado aqui no país este ano junto com outros do autor no ótimo
“História da Sua Vida e Outros Contos” da editora Intrínseca. O conto original
que já era bom conseguiu ser repaginado de maneira exuberante por Eric
Heisserer, roteirista até então de filmes ruins como “Premonição 5” e “Quando
as Luzes Se Apagam”. Assim, temos uma coisa difícil de ver que é o filme ser melhor
do que o texto que lhe serviu de base.
Na trama meio que já contada no
primeiro parágrafo, aliens estão na terra. Mas não se mexem. Não se comunicam. Então,
ninguém sabe quais as motivações. O exército americano representado pelo
Coronel Weber (Forest Whitaker, na única atuação mediana do filme) monta uma
equipe de especialistas de várias áreas para interagir com os visitantes. Nesse
ponto que entram a professora e linguista Louise Banks (Amy Adams,
deslumbrante) e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner), que trabalham em
conjunto com a CIA e os militares.
Ao mesmo tempo em que esse time
trabalha para entender o que está acontecendo, outras equipes são montadas pelo
mundo, como na China e Rússia. Um painel de comunicação e de pretensa
cooperação é montado e com desconfiança e temor isso vai ocorrendo. Em paralelo,
vemos na tela um pouco da história pessoal de Louise Banks e isso vai se
relacionando devagarinho com os fatos principais, em um controle absurdo de
Villeneuve no comando das cenas.
“A Chegada” é ficção científica das boas, digna de figurar entre as
melhores do gênero nesse século. Com atuações exuberantes em sua maioria e um
ritmo que vai conduzindo o espectador a um ápice até as revelações finais,
versa em segundo plano sobre a necessidade de cooperação, a urgência da
humanidade em andar de mãos dadas, o poder da linguagem e da escrita em tempos
tão fúteis em relação a isso, e, principalmente, no peso das nossas escolhas,
em saber desfrutar as alegrias e aguentar as dores nessa vida tão passageira.
Nota: 9,0
Assista a um trailer legendado:
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