sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Cinema: "A Chegada" (2016)


Extraterrestres chegam ao nosso mundo. Espalham-se com várias naves ao longo do globo e deixam a população alarmada e os governos mais ainda. O clima de tensão e pavor está no ar, mas também certa ideia de se aproveitar da tecnologia dos aliens para benefícios próprios. Militares de vários países ficam a postos para se defender do provável inimigo, enquanto algumas pessoas conseguem ir mais além e se colocam no papel de salvadores de toda a humanidade.

Em filmes com esse tipo de enredo é normal se deparar com um improvável herói que surge para dar fim na invasão e deixar novamente o planeta em paz. Diversas vezes esse herói dá a volta por cima quando menos se espera ou faz um sacrifício danado mostrando uma nobreza suprema, além daquilo que a maioria seria capaz. Geralmente essas invasões são recheadas por explosões, naves voando para lá e para cá e tiros sendo dados de todos os lados.

Esse não é bem o ponto de “A Chegada” (Arrival, no original), novo filme do diretor Denis Villeneuve (de “Incêndios” e “Sicario”). O longa de 116 minutos que estreou nesse final de ano aqui no Brasil tem várias das situações citadas acima, todavia consegue trilhar um caminho totalmente diferente na execução, graças a condução afiada de um diretor em plena ascensão, o roteiro repleto de acertos e a edição perfeita de Joe Walker (de “12 Anos de Escravidão”).

O livro é baseado em um conto do americano Ted Chiang (Story Of Your Life, o nome), publicado aqui no país este ano junto com outros do autor no ótimo “História da Sua Vida e Outros Contos” da editora Intrínseca. O conto original que já era bom conseguiu ser repaginado de maneira exuberante por Eric Heisserer, roteirista até então de filmes ruins como “Premonição 5” e “Quando as Luzes Se Apagam”. Assim, temos uma coisa difícil de ver que é o filme ser melhor do que o texto que lhe serviu de base.

Na trama meio que já contada no primeiro parágrafo, aliens estão na terra. Mas não se mexem. Não se comunicam. Então, ninguém sabe quais as motivações. O exército americano representado pelo Coronel Weber (Forest Whitaker, na única atuação mediana do filme) monta uma equipe de especialistas de várias áreas para interagir com os visitantes. Nesse ponto que entram a professora e linguista Louise Banks (Amy Adams, deslumbrante) e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner), que trabalham em conjunto com a CIA e os militares.

Ao mesmo tempo em que esse time trabalha para entender o que está acontecendo, outras equipes são montadas pelo mundo, como na China e Rússia. Um painel de comunicação e de pretensa cooperação é montado e com desconfiança e temor isso vai ocorrendo. Em paralelo, vemos na tela um pouco da história pessoal de Louise Banks e isso vai se relacionando devagarinho com os fatos principais, em um controle absurdo de Villeneuve no comando das cenas.

“A Chegada” é ficção científica das boas, digna de figurar entre as melhores do gênero nesse século. Com atuações exuberantes em sua maioria e um ritmo que vai conduzindo o espectador a um ápice até as revelações finais, versa em segundo plano sobre a necessidade de cooperação, a urgência da humanidade em andar de mãos dadas, o poder da linguagem e da escrita em tempos tão fúteis em relação a isso, e, principalmente, no peso das nossas escolhas, em saber desfrutar as alegrias e aguentar as dores nessa vida tão passageira.

Nota: 9,0

Assista a um trailer legendado:


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