Em outubro conversando com um
amigo meu em São Paulo comentei que voltaria para a Comic Con Experience no
final do ano com o meu sobrinho. Ele logo na sequência falou: “Sério? Boa sorte,
vais precisar”. Como ele já tinha ido, fiquei naquela de: “bom, já que está
tudo pago e comprado, tomara que eu tenha essa sorte então”. Sorte, que na
verdade acredito que nem precisei tanto assim, acho eu.
E conto as razões mais abaixo.
A edição 2016 da CCXP aconteceu
de 1 a 4 de dezembro na São Paulo Expo, um local bem grande na Rodovia dos
Imigrantes a mais ou menos uns 40 minutos da região da Avenida Paulista. Com o
metrô como opção e uma boa quantidade de táxis disponíveis (tanto para ir
quanto para voltar), o acesso não foi dos mais complicados, já passei
perrengues muito piores indo para shows e festivais de música na capital
paulista. Pelo contrário, estava até tranquilo chegar ao local apesar da
distância e da grande quantidade de pessoas que passaram por lá (mais de 196
mil de acordo com os dados dos realizadores). E tudo pareceu bem seguro.
Não fui no dia de abertura,
somente a partir de sexta, chegando por volta de umas 16:00hs. Como já tinha
adquirido os ingressos/credenciais para o evento, o acesso foi calmo, apesar do
longo caminho da chegada até a entrada propriamente dita. Nada demais. Na sexta
havia um bom público, mas nada comparado ao mar de gente que encontrei no
sábado e domingo, onde comecei a entender um pouco mais o “boa sorte” lá de
outubro. Contudo, mesmo com bastante gente, o espaço ainda era trafegável, com
mínimos esbarrões e apertos. Por ser um evento diário de 10 horas de duração, o
movimento é cíclico, muitos vão embora enquanto outros chegam e isso ajuda bem.
Primeira tática adotada por mim e
meu parceiro de jornada geek foi a de não perder tempo em filas enormes, a fim
de explorar a maior quantidade possível de estandes e conversar com diversas
pessoas e artistas no decorrer disso. Então, nada de encarar filas de várias
horas para ver painéis disputados e sim focar naqueles com menor apelo para o
grande público, que também são interessantes. E essa foi uma tática mais que
acertada. Claro que como fã do Frank Miller e de Star Wars, por exemplo, queria
estar nas apresentações, mas isso exigiria uma dedicação e um sacrifício de
tempo que não entendo como necessário, mesmo respeitando fãs mais ardorosos que
se empenham dessa maneira.
Essa decisão fez com que a Comic
Con fosse extremamente válida e prazerosa. Estandes e mesas de artistas que
estavam cheias em um dia ou um determinado horário, no outro estavam menores e
dava para encarar. Essa alternância e quantidade de opções fez com que às 5
horas diárias passadas no evento (mais do que isso é complicado devido ao
cansaço) fossem proveitosas e divertidas. Por exemplo: Na sexta não dava nem
para entrar para ver as fantásticas armaduras dos Cavaleiros dos Zodíacos, mas
no sábado entramos tranquilamente perto da hora do almoço. Almoço que nos leva
a outra questão a ser avaliada: a alimentação.
Eram várias as opções de
alimentação no decorrer do espaço. Espalhavam-se por toda a estrutura e tinham
espaços próprios vinculados somente para isso. Tinha filas? Claro que tinha. É
impossível ir para um evento desse porte e não se deparar com filas para
alimentação, acredito eu. Contudo, eram filas “administráveis”. O máximo que
passei em uma foi uns 20 minutos. Quem já foi para festival sabe que isso é
razoável. Lógico, que o ideal era não ter fila alguma, mas não dá para sonhar
com isso. Quanto aos preços, bom, esses estavam salgados para caramba, todavia
nada muito diferente do que é praticado nesse tipo de evento.
Como estamos falando em preço aí
vai uma crítica para os estandes. Entendo que todo mundo está ali para ter
lucro e a coisa tem que ser viável e tal, mas podia se ter descontos maiores
principalmente nas lojas maiores. Dava para encontrar coisa mais em conta, mas
em vários casos o preço praticado era o mesmo da loja física ou virtual, com
uma redução quase insignificante. Lógico e evidente que isso se relaciona com
aquilo que vi e presenciei. Já na área do “Artist’s Alley”, onde passaram mais
450 artistas e editoras de quadrinhos, as coisas estavam um pouco melhores
nesse quesito e dava para sair com a mochila repleta de obras adquiridas direto
com os autores.
Dentro da pluralidade que é a
CCXP, o “Artist’s Alley” foi minha área preferida. Lá estavam desde autores
consagrados como Alan Davis, Simon Bisley, Peter Kuper, Eduardo Risso e Bill Sienkiewicz
a feras nacionais como Gustavo Duarte, Fábio Moon, Gabriel Bá, Cris Peter,
Roger Cruz e Vitor Cafaggi, entre tantos outros. Além disso, foi um prazer
chegar com autores novos e menos conhecidos e conversar sobre seu trabalho e
processo criativo, mesmo que rapidamente. Certeza de que os quadrinhos
nacionais passam por um ótimo momento e estão em processo contínuo de
crescimento não só quantitativo, mas primordialmente qualitativo.
E essa pluralidade que é a grande
sacada e atrativo da CCXP. E por isso ela vale a pena. Agrega diversos
universos em um único espaço. Lá estão quadrinhos de todas as espécies,
literatura jovem, televisão e séries, cinema, games, animes, enxertado com
questões profissionais de cada área em painéis e estandes como o do Senac, além
de uma vasta gama de produtos relacionados a disposição.
Fui, me diverti vendo os
cosplayers, vibrei pela primeira vez em uma partida de League of Legends (mesmo
sem saber até agora os motivos certos), conversei com algumas pessoas que
admiro o trabalho, conheci coisas novas, revi amigos, voltei a juventude na
parte dos animes e relacionados em um ambiente totalmente alegre e com alto
astral. Ao sair de lá no domingo, ficaram duas certezas: a primeira de que o
mundo geek nunca esteve tão em alta e a segunda de que em 2017 eu volto, aliás,
voltamos, meu sobrinho não vai deixar encarar essa sozinho de jeito nenhum.