Perder alguém da família passa longe
de ser uma coisa fácil de assimilar. Perder um pai ou uma mãe então é dureza
demais. É isso que acontece com William, protagonista de “Drop Dead”, novo projeto em quadrinhos do paulista Aluísio C.
Santos (Rockstar, Grim Leaper), uma das quatro cabeças criadoras do selo Quad
Comics junto com Diego Sanches, Eduardo Ferigato e Eduardo Schaal. O álbum que
tem 82 páginas foi aprovado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São
Paulo (ProAC) ano passado e chega às bancas e revistas especializadas do ramo
agora em 2016. Enquanto busca entender o acontecido, o jovem William alivia a
pressão escutando música e andando de skate pela cidade, uma das suas paixões.
Porém, do nada, ele começa a enxergar pessoas falecidas na sua frente e
interagindo com ele. Enquanto se esforça para não pirar tem que lidar com a mãe
nessa nova dinâmica de vida familiar e correr atrás de explicações. “Drop Dead” insere uma temática mais
distante dos trabalhos publicados pela Quad Comics, mesmo que flerte
diretamente com o sobrenatural. Tem bom uso de cores e arte harmonizada com a
história que se pretende contar, mas não deslumbra e fica apenas no correto,
assim como o roteiro que caminha sem chegar a lugar nenhum, o que acaba por ser
o grande problema da obra. Da interessante concepção de apresentar um jovem
abatido por uma perda de tamanho imensurável e, além disso, ter que descobrir
como se posicionar perante relações delicadas e fora do comum, temos uma
história que não prende o leitor plenamente. Aluísio C. Santos insere boas
situações, sendo uma delas a playlist no Spotify que serve como trilha sonora e
tem canções do Offspring, Nirvana, Suicidal Tendencies e Faith No More, mas
fica apenas nisso, em um tratado de boas ideias, que infelizmente não atinge um
resultado melhor.
Nota: 5,0
Site da Quad Comics: http://www.quadcomics.com.br
O sentimento de rechaçar tudo
aquilo que não se entende, tudo aquilo que não faz parte do que se exibe como “normal”
acompanha a humanidade desde o início dos tempos. Nos últimos anos vemos toda
essa intolerância e discriminação chegando a patamares elevados e se alastrando
como uma peste pelo mundo. Esse é o principal foco de “A Gigantesca Barba do Mal” (The
Gigantic Beard That Was Evil, no original), graphic novel de 2013 que há
pouco ganhou publicação nacional pela editora Nemo, com 240 páginas e tradução
de Eduardo Soares. Primeiro trabalho extenso do ilustrador e cartunista
britânico Stephen Collins, o álbum é uma fábula moderna que usa a sátira e o
humor como combustível para nos contar uma história cada vez mais atual. Dave é
o personagem principal, habitante de uma ilha chamada Aqui onde tudo anda
extremamente igual todo dia. Tudo é organizado, limpo e rotineiro. Mesmo sem
entender o seu trabalho (e os demais também não) segue satisfeito por
apresentar resultados em reuniões monótonas, ter um lar e poder desenhar a rua
da sua casa enquanto escuta “Eternal Flame” das Bangles. Tudo fora de Aqui é
conhecido pelos moradores como Lá, e esse Lá enche de medo a todos, o medo do
desconhecido, do diferente, e a rejeição que brota disso. Esse receio todo se
agrava ainda mais quando a barba de Dave não para de crescer e transtorna a
todos. Vizinhos, governo, imprensa, todos começam a lhe tratar diferente, como um pária, um mal a ser erradicado. Ele mesmo se desespera, porque a barba
cresce do nada, sem que ele queira ou tenha controle sobre isso. Em preto e
branco e com foco nos enquadramentos, Stephen Collins é responsável por um dos
trabalhos mais interessantes publicados esse ano aqui no Brasil.
Nota: 9,0
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