No final de setembro a Netflix
deu continuidade a relação com a Marvel e estreou a série estrelada por Mike
Colter como Luke Cage. O personagem criado por Archie Goodwin, John Romita e George
Tuska no início dos anos 70 faz parte do circuito “urbano” da editora e a série
vem no encalço de “Demolidor” e “Jessica Jones” (disponíveis na plataforma). Criada
por Cheo Hodari Coker, produtor com trabalhos na tevê como “Ray Donovan”, se
alterna entre ser uma história de origem e conversar com eventos recentes vinculados
as demais produções da Marvel. Além disso investe pesado (e acerta muito nisso)
na relação do personagem e da série em si com a cultura do Harlem - onde estão
ambientados os episódios - e com a música negra. Por exemplo, todos os 13
episódios são nomes de canções do grupo Gang Starr que mesclava jazz e hip-hop
e trazia o falecido rapper Guru como integrante. Após o assassinato da esposa e
da relação fracassada com Jessica Jones (exibida na série dela), Cage tenta
seguir a vida trabalhando em uma barbearia até que fatos desencadeados pelo gângster
Cottonmouth (o sempre competente Mahersala Ali) e a prima Mariah Dillard (Afre
Woodard) o fazem surgir como herói, mesmo sem ele querer isso. Fantasmas do
passado surgem e os atos que o levaram a ter a pele invulnerável invadem a
trama que durante seu percurso inclui a enfermeira Claire Temple (Rosario
Dawson, exuberante) e conhecidos dos quadrinhos como Willis Stryker (Erik LaRay
Harvey) e Misty Knight (Simone Missick). “Luke
Cage” é uma série que apesar dos diálogos meio rasos e sem inspiração
alcança seu objetivo e é peça importante dentro desse universo que a Netflix
vem criando junto com o Marvel, sendo superior as duas temporadas de Demolidor,
mas abaixo de Jessica Jones. Ainda brilha ao colocar a música como parte
fundamental em uma trilha que reúne funk, jazz, soul, rap, hip-hop e R&B e
exibe apresentações de nomes como Charles Bradley e Method Man (Wu-Tang Clan)
para fechar com a grande Sharon Jones e seus Dap-Kings.
O detetive policial que precisa
resolver casos da mais complexa e absurda estirpe enquanto tem a vida pessoal
brincando na corda bamba a cada hora do dia é um tipo de personagem utilizado
com bastante frequência seja no cinema, televisão, quadrinhos ou literatura, mas
que costumeiramente rende boas histórias. É o caso de “Luther”, série inglesa da BBC que está toda disponível no Netflix.
Como acontece nas produções da emissora as temporadas exibem poucos episódios
(são 16 no total de 4 anos), o que serve para deixar a trama mais sintética e
assim exercer um poder maior no telespectador. Mesmo usando essa espécie conhecida
de protagonista, “Luther” se
sobressai pela intensidade com que acontece e pela atuação impecável do elenco,
principalmente de Idris Elba que faz o detetive cheio de perturbações,
problemas e transtornos que é brilhante no trabalho que praticamente suga toda
a sua vida. Luther é o tipo de pessoa que carrega o passado nas costas sempre
que sai de casa e no caso dele isso se reflete em todos os casos que resolveu e
as pessoas que sofreram com eles. Contudo, Idris Elba não faz disso um fardo que
deixe a série como um dramalhão chinfrim, mas assume isso como parte integrante
do que faz o personagem existir, sem choro nem vela e muito menos buscas por
redenção (por mais que elas estejam encobertas por ali). Criada por Neil Cross
(que depois criaria “Crossbones), “Luther”
traz bons e calejados atores no elenco como os parceiros de força
interpretados por Michael Smiley e Dermut Cowley e novos nomes como Ruth
Wilson (que tem uma relação complicada com o detetive) e o parceiro vivido por Warren
Brown. Trabalhando entre o nublado e o cinza e tomando atitudes não
convencionais durante o caminho (o que faz o telespectador se perguntar com
constância se os meios justificam os fins), temos uma ótima série policial
que supera os chavões que exibe devido a força e profundidade com que se
apresenta.
Nota: 8,5
Assista a trailers das séries:
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