O condado do Bronx no final dos
anos 60 e início dos anos 70 não era uma das paisagens mais exuberantes da
cidade de Nova York. A violência e a pobreza marcavam o terreno prejudicado por
uma série de medidas do governo que levaram a desindustrialização da área e a falta
de investimentos externos, culminando assim em desemprego e tudo que isso traz.
Para os jovens que lá viviam com suas famílias oriundas de diversas partes da
cidade devido ao custo de moradia era praticamente impossível não ingressar em
uma das dezenas de gangues que demarcavam os territórios com ferocidade. Em 8
de dezembro de 1971 a cidade estava pronta para uma guerra que o poder público pouco
se importava. Mais de 100 líderes se reuniram devido ao brutal assassinato de
um integrante dos Ghetto Brothers. Foi quando o líder dessa gangue tomou a
palavra e em vez de pregar a violência, pediu a paz aos demais. Um gesto que ao
ser acolhido plantou pequenas sementes que por mais que fossem novamente
desvirtuadas lá na frente, foram fundamentais para a época. “Ghetto Brother, Uma Lenda do Bronx”
conta essa história focada em Benjy Melendez, o imigrante porto-riquenho responsável
pelo gesto citado. A graphic novel saiu esse ano pela editora Veneta e traz 128
páginas com extras que explicam mais aquilo que os autores alemães Julian Voloj
e Claudia Ahlering se dispuseram a contar. Originalmente publicada em 2015, a
obra é um retrato de um período conturbado que traça paralelos com diversas outras
situações. A arte em preto e branco é rabiscada e escura expondo bem os momentos
que apresentam e apesar da empatia talvez demasiada dos autores pelo personagem
principal, é importante para marcar não só questões profundas como a paz, como
serve de atestado do início da cultura hip-hop (o grande Afrika Bambaataa é
integrante de uma das gangues) que germinaria em um movimento que hoje
movimenta milhões e milhões de dólares pelo mundo.
P.S: Os Ghetto Brothers também fizeram (boa) música. Procure o
álbum “Power Fuerza” de 1972 e confira.
Nota: 7,0
Uma pergunta recorrente para quem
lê quadrinhos com pessoas com superpoderes, alienígenas invulneráveis ou magos
quase invencíveis é como seria um mundo governado por eles, um mundo em que
eles tomassem para si o poder na base da força e medo. Essa questão desde
sempre é explorada, DC e Marvel, por exemplo, a usam em futuros distópicos ou
realidades paralelas. Fora das duas gigantes muito já se leu nesse sentido
também, com um mundo não só governado por indivíduos imbatíveis como com estes
como bala de canhão do governo. Difícil imaginar então que se extraia algo de
novo e bom ainda dessas diretrizes, algo que ainda não tenha sido explorado.
Mas, Mark Millar (“Kick-Ass” e “Superior”) e Frank Quitely (“Grandes Astros:
Superman”) conseguiram. Em “O Legado de Júpiter”
os dois autores usam essa normativa para construir uma história que se à
primeira vista não apresenta nada de realmente novo reúne tantas e tantas
referências que validadas pelas talentosas mentes e mãos da dupla criam uma
trama empolgante e cheia de boas ideias. Inserida no universo criado por Millar
(o Millarworld), “O Legado de Júpiter”
é publicada aqui esse ano pela Panini Books em um encadernado de capa dura com 140
páginas juntando as edições originais de 1 a 5 lançadas entre 2013 e 2015. Millar
apresenta um mundo (abrilhantado pela arte sempre magistral de Quitely) que
envolve não só aventura e super-heroísmo, mas também questões como família,
herança, futuro, responsabilidade, economia e política envoltas com traições, drogas,
redenções e golpes drásticos. Com início remetendo a dura crise dos EUA no
final dos anos 20 e decorrer dos anos 30, pula para os dias atuais onde o autor
aproveita e critica não só o comportamento da sociedade e sua postura, como
também quanto pode custar a ambição em detrimento de tudo mais. Ao final da
leitura do volume fica aquela ansiedade e vontade de ver logo o que vem pela
frente, coisa bem rara de se conseguir.
Nota: 9,0
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