O que é mágico hoje em dia?
Em tempos tão fúteis, cínicos e
de rápido consumo da arte como um todo é muito raro se deparar com algo que realmente
mereça a alcunha de mágico. Para a sorte das pessoas e do mundo a música ainda
consegue possibilitar momentos que justifiquem essa denominação. E dentro da
música, pode-se afirmar com um alto nível de exatidão que a banda estadunidense
Wilco tem capacidade de elaborar essa proeza.
O Wilco não vinha ao Brasil desde
2005 onde fez uma única apresentação, sendo que dessa vez desembarcou para três
shows: um no Rio de Janeiro e dois em São Paulo. Atração do Popload Festival
junto com Bixiga 70, Ava Rocha, Ratatat e The Libertines, o grupo subiu ao
palco do Urban Stage na capital paulista exatamente às 20:30 para o que seriam
duas memoráveis horas de execuções perfeitas, simpatia e emoção.
Com uma carreira sólida onde
possui 10 discos lançados (o mais recente “Schmilco” desse ano), o grupo
liderado por Jeff Tweedy está no auge, exibindo perfeição técnica no palco,
onde se sente extremamente à vontade e faz até músicas medianas como as do novo
álbum crescerem de tamanho. Na quinta, a banda já havia se apresentado sozinha
no Circo Voador no Rio de Janeiro e tudo que se ouvia e lia a respeito era
extremamente animador para o show do Popload.
Show de festival sempre é
diferente, isso é sabido, mas pelo que se viu na noite do dia 8, parece que
para o Wilco isso não tem muito a ver. A banda abriu com o riff marcante de
“Random Name Generator”, uma das boas faixas de “Star Wars” do ano passado e de
lá engatou uma sequência com “The Joke Explained”, “I Am Trying To Break You
Heart”, Art Of Almost”, “Either Way” e uma bela versão de “Misunderstood”. Com
o público já na mão ali veio com 3 canções do novo registro, o que acalmou um
pouco clima, apesar de “Cry All Day” ter ganho força no palco.
Logo depois veio outro bloco de
pérolas com “Via Chicago”, uma arrebatadora “Impossible Germany” com direito a
show particular do monstro Nels Cline, “Hummingbird”, “Handshake Drugs” e “Side
With the Seeds”. “Locator” do trabalho desse ano serviu como passagem para
aquela que foi a parte mais elevada de uma apresentação cheia de pontos altos.
Entre outras apareceram “Forget
The Flowers”, “Box Full Of Letters”, “Heavy Metal Drummer”, a fantástica
“Jesus, etc” e “I Got You (At The End Of The Century)” e “Outtaside (Outta
Mind)” em exibição quase surreal, canções do incrível “Being There” de 1996 que
encerrou o show antes do Bis. E que Bis! Foram duas canções do “ A Ghost Is
Born” de 2004: “Spiders (Kidsmoke)” em seus mais de 10 minutos e “The Late
Greats” fechando com o público cantando junto acordados depois do transe
coletivo.
Um show, principalmente de
festival, não tem na maioria das vezes o impacto de uma exibição solo. O público
está lá para ver uma ou outra determinada banda e isso não foi diferente no
Popload Festival. Muitos que ali estavam tinham ido ver o Libertines, a dupla
caótica formada por Pete Doherty e Carl Barat com a formação original da banda.
Outros, estavam ali pelo evento em si, isso é normal. O Wilco então mesmo sendo
o melhor show disparado da noite, não envolveu a todos os presentes, no entanto
emocionou a maioria dos que lá estavam.
Toda essa experiência positiva
também só é possível por conta do cuidado que o Popload Festival tem para o
público, o que só melhora a cada ano. Acesso fácil via metrô (distribuíram
tickets gratuitamente para o retorno), poucas filas, variedade de comidas,
excelente sonorização e sem perrengues. Na questão dos shows além do Wilco, o
Bixiga 70 fez o que sabe muito bem ainda na abertura, Ava Rocha pulou do
interessante para a chatice algumas vezes, Ratatat não deve ter agradado mais
do que 50 pessoas e o Libertines fez um show divertido, pra cima, que remeteu a
década passada com mérito, apesar dos erros.
Contudo, como já foi dito, o dono
da noite foi o Wilco. A banda ainda viria a fazer mais uma apresentação no dia
seguinte para 800 pessoas no Auditório do Ibirapuera em São Paulo, que também
ganhou superlativos de todos os lados. Falando em superlativos, eles nunca
foram tão válidos para uma banda atualmente quanto nesse caso, mesmo levando em
conta todos os exageros. Simplesmente não dá para ver um show do grupo e sair impune.
Aqueles que foram ao Popload Festival presenciaram isso, presenciaram a magia
acontecendo.
Obs: Fotos retiradas da página
oficial do evento (http://www.poploadfestival.com)
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- Shows: “Popload Festival 2015”
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