A editora Abril começou a
publicar aqui no país há alguns meses edições de luxo com seus
famosos personagens como Pato Donald, Tio Patinhas, Mickey, Pateta e afins.
Essas edições pegam histórias clássicas e apresentam para um novo público, além
de ser indicada para quem aprendeu a ler pelos gibizinhos antigos. A diferença
dessa para republicações anteriores é o processo de restauração que a obra
passou, incluindo a arte-final, cores e letras. Dentre os volumes disponíveis
até aqui um dos mais interessantes é “Pato
Donald: Perdidos Nos Andes”, que reúne histórias do grande Carl Barks,
artista responsável por moldar boa parte da aura da empresa. São 20 histórias
compiladas em formato pequeno (16 x 23cm) e 240 páginas abrangendo a produção
do artista entre os anos de 1948 e 1949. Elas já haviam sido publicadas aqui antes,
algumas até diversas vezes, mas esse compêndio de agora traz novo sabor por
conta do formato e disposição apresentando as tramas longas primeiro, depois as
mais curtas e por fim as gags, como também por todo o arcabouço de informações
contidas em textos separados e notas escritas por especialistas. Histórias como
“Perdidos nos Andes” de abril de 1949 mostra um artista diferente para a época,
se preocupando até excessivamente para aqueles padrões com detalhes, cenários e
quadros maiores, o que não era tão comum. Lógico, que estamos falando de algo
lançado há mais de 70 anos então é normal que um ou outro detalhe do roteiro
soe hoje datado, ou ainda alguma concepção temática soe esdrúxula, porém são
retratos de uma determinada passagem do tempo e até por isso devem ser
analisadas com calma. Mesmo com o preço salgado essas novas edições da Disney
são interessantíssimas e para quem gosta do Pato esquentado que se tornou
conhecido no mundo todo e até hoje gera discussões (algumas até irracionais) é
sempre bacana vê-lo pelas mãos do seu mais festejado artista.
Nota: 8,0
O britânico Peter Milligan
produziu trabalhos pulsantes e vigorosos na carreira. Fez isso com John
Constantine (principalmente), Homem-Animal e até mesmo Batman. Entre essas
marcantes passagens está a de Shade, o Homem Mutável, obra que produziu logo no
início da sua relação com a DC Comics em 1990 para o selo Vertigo. A Panini
Comics republica aqui esse ano esses primórdios dentro da ideia de revisitar
obras pouco conhecidas do grande público e disponibilizá-las no mercado
novamente, o que é extremamente louvável. “Shade,
o Homem Mutável: O Grito Americano” tem 170 páginas, capa cartonada e
infelizmente papel Pisa Brite (assim como nas edições da Patrulha do Destino).
Junta as revistas publicadas originalmente nos EUA entre julho e dezembro de
1990. Criado pelo baluarte Steve Ditko na segunda metade dos anos 70, Shade
figurava em um panteão bem baixo dentro da editora. Depois da repaginação
oriunda da “Crise nas Infinitas Terras” de 1985 ganhou mais algum destaque, mas
foi nas mãos de Milligan que teve sua melhor fase até então (talvez até hoje).
Como se tratava de um personagem pouco ou nada conhecido, o autor teve a
liberdade para fazer praticamente o que bem entendesse. Com desenhos de Chris
Bachalo e arte-final de Mark Pennigton foi estruturada uma série que unia magia
e ficção científica e trazia tanto críticas comportamentais quanto mais amplas
no que se refere aos Estados Unidos e seu modo de vida. Shade é um habitante de
outra dimensão que ao desembarcar na terra para salvar os mundos de uma onda de
insanidade e loucura habita o corpo de um assassino perto de ser morto na
cadeira elétrica. Sua principal relação se dá logo com a filha das pessoas assassinadas,
o que só deixa a relação mais estranha. Em um roteiro repleto de boas tiradas e
cutucadas, além da arte fulgurante (que merecia papel melhor), Milligan abusa
da psicodelia para criar uma trama que ainda hoje vale a pena ser lida.
Nota: 8,5
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