Personagens antigos e icônicos
como o Batman sempre trazem consigo o problema das novas histórias soarem relevantes,
o que acaba sendo um peso e tanto para quem as escreve. O que contar do Morcego
que ainda não foi contado? Qual aspecto ainda não foi abordado? Qual psique
ainda não foi explorada? No decorrer dos anos, diversas histórias patinam
apenas no mediano quando tratam de aventuras do vigilante de Gotham City dentro
das inúmeras repaginações da DC Comics. No que se refere aos “Novos 52” essa
missão coube a Tony S. Daniel, artista já conhecedor dos meandros da vida do
Batman de outras incursões. O primeiro arco desse trabalho é republicado agora
pela Panini Books em uma edição de capa dura com 164 páginas reunindo as
edições de 1 a 7 de Detective Comics originalmente lançadas entre novembro de
2011 e maio de 2012. No roteiro encontramos o Cavaleiro das Trevas se deparando
com um novo vilão chamado Criador de Bonecas. Paralelo a isso precisa lidar
com o desaparecimento do Coringa do Asilo Arkham (pela enésima vez) e com
alguns integrantes da fauna peculiar da sua cidade como o Pinguim e outros vilões
pouco memoráveis. A trama flutua no tradicional e não explora nada de novo,
nada que já não se tenha visto várias vezes anteriormente. O roteiro apresenta
conflitos, principalmente no que tange a adequar todas as questões coadjuvantes
que apresenta e falha nisso. A arte de Tony S. Daniel com o auxílio de Joel
Gomez e Szymon Kudransky é concisa e funciona bem nas cenas de ação, contudo,
assim como o roteiro, fica apenas no correto, não indo além disso. “Batman: Faces da Morte” tem como
principal destaque somente um aspecto do desaparecimento do Coringa que
repercutiu em outras revistas da editora como o Esquadrão Suicida. Fora isso,
não consegue fugir do mediano que foi comentado acima.
Nota: 5,0
Foram três anos que o artista,
pintor e ilustrador Davi Calil dedicou a produção de “Uma Noite em L’enfer”.
Conhecido pela arte de “Quaisqualigundum” e pelas cores de “Turma da Mata - Muralha” esse
paulista fez uma graphic novel onde tem por intuito homenagear seus heróis da
pintura, mas foi muito além disso. Com formato grande (21 x 28cm) e 192 páginas
o álbum é mais um excelente lançamento da editora Mino, um dos melhores do ano
por aqui em terras tupiniquins. Na trama estamos na França no ano de 1891,
quando o holandês Vincent Van Gogh recuperado de uma tentativa de suicídio (que
na vida real foi além de mera tentativa) chega na cidade a procura de uma antiga musa
inspiradora. Lá encontra o francês Paul Gauguin que o encaminha para o cabaré L´enfer
no bairro de Montmartre, onde estão os contemporâneos Toulouse-Lautrec e Gustav
Kimt, além de um enigmático Francisco de Goya, o único que não viveu na mesma
época que os demais. Durante a conversa regada a muito álcool e drogas, os
integrantes dessa excêntrica mesa se dispõem a contar causos pessoais que envolvem
sexo, terror, mistério e decisões bem questionáveis. Essas histórias servem
para definir o futuro de cada um mais adiante. Davi Calil usa como referências tanto a produção de cada um dos artistas que homenageia, como
também a biografia deles, e em cada caso individual utiliza cores que remetem ao
que cada um produziu na carreira. Inspirado em “Uma Noite na Taverna” do escritor
Álvares de Azevedo (falecido em 1852 aos 21 anos), Davi Calil edifica um trabalho em que tanto roteiro quanto arte estão em nível de
excelência, ainda que a arte prevaleça um pouco mais. “Uma Noite em L´enfer”
valeu toda a dedicação do autor e brinda o leitor não somente com a obra em si,
mas como instiga este a saber mais sobre os personagens retratados.
Nota: 9,5
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