Vez ou outra algum personagem
passa por uma reviravolta e ganha nova roupagem, ainda que preservados os
pontos principais. Foi o que aconteceu com o Bizarro nas mãos do roteirista
Heath Corson e do artista brasileiro Gustavo Duarte (de “Monstros” e “Chico
Bento: Pavor Espaciar”). Essa fase de um dos vilões mais conhecidos do Superman
feita pela DC com grande liberdade criativa aos autores chega ao Brasil pelas
mãos da Panini Comics em um encadernado de 148 páginas. Estão reunidas as edições 1 a 6 publicadas originalmente nos EUA entre julho de 2015 e janeiro de
2016, além de uma breve edição especial. Com boa dose de extras e
“participações especiais” de artistas do quilate de Bill Sienkiewicz, Kelley
Jones, Tim Sale, Rafael Albuquerque, Fábio Moon e Gabriel Bá, a hq é diversão
na certa. Bizarro é uma espécie de Superman ao contrário, que fala de modo
estranho, expõe seus pensamentos de modo invertido e toma ações pelo avesso do
que nós entendemos como corretas, contudo tem basicamente a mesma força e poderes
do homem de aço. Na trama concebida por Heath Corson, ele só deseja ser um
herói, só que toda vez que entra em ação causa mais estrago do que benefícios e
isso deixa cada vez mais preocupados os cidadãos e as autoridades de
Metrópolis. É quando entra em cena o fotógrafo Jimmy Olsen que resolve retirar
esse bondoso atrapalhado das ruas entrando em uma road trip para o Canadá, algo como os “Estados Unidos Bizarro”. Os
interesses de Jimmy Olsen são outros, mas durante a jornada que reúne várias
provações e momentos engraçadíssimos, as coisas mudam. A arte de Gustavo Duarte
é eficientíssima, espalhando humor pelas páginas na mesma quantidade que arremessa
as já tradicionais referências no meio do caminho, uma das características do
seu trabalho. “Bizarro” é para dar
uma folga no dia a dia, esquecer um pouco os problemas e soltar algumas risadas
descompromissadas.
Nota: 7,5
John William Coltrane é um dos
grandes músicos de jazz de todos os tempos. Talvez, o maior
sax tenor que já existiu. Falecido em 17 de julho de 1967 aos 40 anos deixou no
meio de uma extensa discografia verdadeiras obras-primas como os álbuns “Giant
Steps” (1960) e “A Love Supreme” (1965), além de fazer parte da magnífica banda
que tocou no clássico “Kind Of Blue” (1958) de Miles Davis. O artista italiano
Paolo Parisi resolveu homenagear o músico e contar um pouco da sua história
usando os quadrinhos, o que resultou na graphic novel “Coltrane”, publicada originalmente em 2009 e com edição nacional a
partir do início de 2016 pelas mãos da Editora Veneta. Com 128 páginas, em
preto e branco, com um traço simples e discreto e uma capa muito bonita, o
álbum narra de modo aleatório fatos da vida do músico que envolvem tanto a
infância quanto o final da vida e abrangem temas como racismo, arte, amizade,
drogas e paixões. As histórias são divididas em quatro partes: Acknowledgement,
Resolution, Pursuance e Psalm, justamente o nome das faixas do disco “A Love
Supreme”. Essa montagem sem ordem cronológica é além de uma deferência ao
registro, uma correlação com o experimentalismo que guiou boa parte da carreira
do saxofonista, e serve também como uma sucinta história das décadas em que se
ambienta. A obra concebida por Paolo Parisi funciona não somente para aqueles
que conhecem a música de Coltrane, mas também como porta de entrada para essa,
o que acaba sendo mais interessante ainda. De personalidade introspectiva e
complexa, com uma vida curta repleta de abalos e muito talento e criatividade,
o músico é matéria-prima que transborda para esse tipo de empreitada. Certa
vez, o crítico norte-americano Nat Hentoff disse que a única coisa que se podia
esperar de Coltrane era o inesperado. Nada mais justo. O álbum de Paolo Parisi
é justamente uma passagem para esse inesperado. Curta a viagem e depois escute
a música.
Nota: 8,5
Site do autor: http://www.m-o-n-o.org
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