Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaka
no Japão no ano de 1954, ainda com a segunda guerra mundial recente e exercendo
extremo impacto na região. Mudou-se para a Inglaterra aos 5 anos onde depois virou
escritor e abocanhou prêmios importantes como o Booker Price em 1989. Entre
seus livros mais conhecidos estão “Os Vestígios do Dia”, “Noturnos” e “Não Me
Abandone Jamais”. A obra mais recente é do ano passado, se chama “O Gigante Enterrado” (The Buried Giant, no original) e recebeu
edição nacional também em 2015 pela Companhia das Letras.
Com 400 páginas, tradução de
Sonia Moreira e um belo projeto gráfico a obra é o primeiro trabalho elaborado
nos últimos dez anos e apresenta o autor se aventurando com coragem e ambição
para caminhos novos na sua literatura. Alguns temas recorrentes marcam presença
em “O Gigante Enterrado” como a
relação de medo e receio dos personagens com o passado, o amor vinculado como
importante moeda e a relação de cada um com a própria memória. Contudo, isso é
embebido de muita fantasia e recursos fantásticos.
Situado na Inglaterra,
provavelmente entre os séculos V e VI, anos após a época arturiana e os
confrontos entre bretões e saxões, o livro apresenta Axl e Beatrice, um casal
de velhinhos que mora em uma aldeia como tantas outras, mas que nos últimos
tempos tem sofrido nas mãos dos próprios vizinhos e das regras da comunidade.
Isso só alimenta mais a vontade que o casal possui de sair da aldeia em busca
do lar do filho que não veem há muito tempo. E é isso que ocorre.
Só que nem tudo é simples e
fácil, uma vez que uma estranha névoa permeia os céus e faz com que os
habitantes não consigam lembrar do passado e esqueçam rapidamente até coisas
feitas horas antes. Adentrar o percurso correto então vira uma intrincada
tarefa que durante o desenrolar faz com que o casal se depare com criaturas
lendárias, assim como outras pessoas que acabam sendo inseridas na jornada como
um jovem e um hábil guerreiro, além do sobrevivente cavaleiro da Távola
Redonda, Sir Gaiwan.
Depois de paquerar um pouco com a
ficção científica em “Não Me Abandone Jamais”, Ishiguro agora assume um namoro
com a fantasia e a usa como escape para fazer delicadas e sutis analogias e metáforas
sobre memória, amor e morte. No bojo da trama temos um dragão e alguns ogros,
fadas, duendes e magos, porém a correlação com obras famosas que exploram as
mesmas coisas como as de Tolkien e George R. R. Martin fica somente na
ambientação, já que os temas explorados e o tom da narrativa são inteiramente
distintos.
“O Gigante Enterrado” além de um livro enternecedor e
extraordinário, talvez o melhor da carreira do autor até aqui, é um trabalho
construído com audácia e ousadia por Kazuo Ishiguro, que sai bastante da seara
que está acostumado a trabalhar. Como seria bom se isso ocorresse com mais
escritores por aí, que abdicassem do conforto e buscassem novos rumos, novas
ideias, novas sensações. “O Gigante
Enterrado” é o tipo de livro que merece ficar com destaque na sua
biblioteca, nada é mais justo que isso.
Nota: 9,5
Facebook do autor: http://www.facebook.com/KazuoIshiguro
A Companhia das Letras disponibilizou um trecho para leitura, aqui.
A Companhia das Letras disponibilizou um trecho para leitura, aqui.
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