Robert Johnson faz parte daquele
seleto grupo de músicos que quando você ouve dá para perceber os sentimentos em
volta da composição e execução, transparece ali na hora. No caso dele toda a
dor, o sofrimento, a angústia, a tristeza, a tenacidade, o orgulho, a coragem,
o álcool. É complicado passar imune a execução das suas canções. Ao escutá-lo
pela primeira vez, o quadrinhista e também músico Alcimar Frazão deve ter
sentido tudo isso, o que o levou a anos depois prestar uma homenagem a esse ícone
do blues que faleceu ainda moço aos 27 anos, mas com muitas histórias e lendas
circulando ao redor. “O Diabo e Eu” ganha
nova edição caprichada da editora Mino com 64 páginas em preto e branco,
lembrando que já havia sido lançada anteriormente em 2013, mas a pequena
tiragem inicial foi esgotada. A Mino estendeu a obra, deu um visual mais bonito
e ainda preencheu o final com páginas extras sobre o assunto do álbum pelas
mãos de artistas como Lourenço Mutarelli, Diego Sanchez, Shiko e Fábio Cobiaco.
Mas, que assunto seria esse? Bom, o tema de “O Diabo e Eu” é a lenda mais forte que circunda Robert Johnson.
Diz ela que o músico teria feito um acordo com o próprio tinhoso em uma
encruzilhada do Mississipi oferecendo a alma em troca da habilidade musical.
Essa história que já foi contada mil vezes, além de recortada, ampliada,
desvirtuada e travestida em várias mídias é o mote que Alcimar Frazão usa para
fazer um trabalho mudo, de arte extremamente cuidadosa e impactante. Fora isso
ousa suscitar novas visões em torno de Johnson, o inserindo mais dentro da
briga contra o racismo além de sugerir que o capiroto teve participação maior na
vida dele do que só na música. Será?
Nota: 7,0
A Patrulha do Destino é uma criação
de Arnold Drake, Bob Haney e Bruno Premiani em meados dos anos 60. Um grupo de
potenciais heróis que desvirtuavam absurdamente do cenário da época. Seus
membros são desajustados, renegados ou estão a um passo de cair em um
precipício. Para melhorar, o chefe do time é um cientista irascível, de difícil
conversa e preso a uma cadeira de rodas, o que o deixa mais bruto ainda. O
grupo era o lado b da DC Comics (apesar do sucesso inicial). No entanto, nem
que fosse pela estranheza ou pelo fato de não ser igual os demais heróis da editora,
a Patrulha angariou fãs e um deles foi Grant Morrison. Em 1988 ainda distante
do status (merecido) de mestre que hoje lhe direcionam, aceitou cuidar das
edições mensais da revista, mesmo assoberbado. O primeiro arco dessas histórias
a Panini Comics publicou por aqui no início do ano em um encadernado com 196 páginas
chamado “Patrulha do Destino: Rastejando
dos Escombros” contendo as edições 19 a 25 publicadas em 1989. Com arte de Richard
Case e Scott Hana, Morrison conseguiu não só revitalizar a trupe como cravar uma
fase que até hoje pode ser considerada como uma das melhores. Com todo o
arcabouço de referências que costuma utilizar, o escocês maluco se aproveitou
de uma saga da época chamada “Invasão” e pediu que vários membros fossem
mortos, voltando assim basicamente aos personagens iniciais. A primeira das
edições contida no encadernado se passa principalmente em alas de hospitais e
aí já vemos todas as peculiaridades que irão se apresentar enquanto brigam com
vilões bem diferentes do usual. Entre um homem que para não morrer teve o
cérebro aprisionado em um robô e não consegue viver com isso, um jovem que é
fundido a uma doutora para gerar um ser de energia, um herói que não quer ser
herói e uma mulher que sofre com 64 múltiplas personalidades, não dá para se esperar
histórias comuns realmente. Isso na mão de um autor como Morrison é mais que
prato cheio e “Patrulha do Destino: Rastejando
dos Escombros” é o tipo de quadrinho que desmonta qualquer teoria ridícula
sobre a qualidade desse tipo de arte, resultando em um compêndio de histórias
inteligentes e retumbantes.
P.S: Só a qualidade do papel que podia ser melhor.
P.S: A Panini já lançou dois outros volumes com a sequência dessas histórias que são tão recomendáveis quanto o primeiro.
Nota: 9,0