Ta-Nehisi Coates nasceu e cresceu
em Baltimore nos EUA. Quando criança e adolescente viu a violência e a
criminalidade de muito perto, assim como o desrespeito aos negros em diversos
setores. Cresceu, entrou em uma faculdade e ralou muito para ser escritor, onde
encontrou o seu caminho, a sua vocação. Quando o filho faz 15 anos ele redige
uma longa carta para ele, contando um pouco da vida, mas principalmente
tentando explicar o que significa ser negro na América e junto com isso apresenta
um ensaio sobre a questão da cor e do racismo nos EUA.
“Entre o Mundo e Eu” (Between
the World and Me, no original) foi publicado ano passado e no mesmo ano
ganhou edição nacional pela editora Objetiva com 152 páginas e tradução de
Paulo Geiger. O texto do autor é incisivo, repleto de frases fortes e
pensamentos que precisam ser lidos mais de uma vez para serem absorvidos na sua
totalidade. Foi muito bem recebido por crítica e público e entrou na lista dos
mais vendidos de jornais importantes, além de ter ganho o prestigiado National
Book Award na categoria de não-ficção.
Os Estados Unidos são o foco
principal dos disparos de Ta Nehisi-Coates, um país que apesar de hoje ter
parte do aparato de repressão também nas mãos de negros, não deixa de exercer
força contra estes. Um país que segue com uma mídia obediente e mesmo que cheia
de teorias sobre tudo, ainda é vazia no seu âmago. “Nunca esqueça de que estivemos escravizados neste país por mais
tempo do que temos sido livres”, lembra em certo momento ao filho.
E vai além. Em outra passagem
afirma que “a América acredita-se
excepcional, a maior e mais nobre nação que jamais existiu, um paladino
solitário que se interpõe entre a cidade branca da democracia e os terroristas,
os déspotas, os bárbaros e outros inimigos da civilização”. Porém, o
pensamento que lhe nutre o coração e a realidade em que viveu o faz alertar ao
filho que muitas ações ficam somente em palavras e enfático afirma que “boa Intenção é um salvo-conduto através da
história”.
A preocupação maior do autor
enquanto passeia pelos fatos da vida e objetiva que o filho visualize o cenário
em que está inserido é o direito de assegurar e governar os próprios corpos.
Sim, isso mesmo, parece simples, mas não é bem assim em uma “América Branca”
que é arranjada de maneira a proteger o poder sobre esses corpos. Para o autor,
destruir o corpo negro de maneira direta ou mesmo impondo limites virou uma
tradição nefasta, uma herança absurda do país.
“Entre o Mundo e Eu” é um livro para ser lido pelo menos duas
vezes. O tom do autor mesclando paixão, resignação, coragem e preocupação com o
futuro é arrebatador e escancara que o racismo ainda existe e muito, mesmo que
mascarado de outras formas e maneiras. O pior de tudo é negar isso, negar que o
racismo é exemplo do que há de pior no ser humano, nos transformando
diretamente em seres primitivos e sem razão. E, acima de tudo, é uma estupenda
declaração de amor de um pai para o seu filho.
P.S: Ta-Nehisi Coates anda escrevendo a revista do “Pantera
Negra” para a Marvel. Tudo a ver.
Twitter do autor: http://twitter.com/tanehisicoates
Nota: 9,0
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